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Durante as eleições presidenciais de 2008, Donald Trump alistou-se na corrente de pessoas que acusavam o candidato Barack Obama de não ser americano nato e, portanto, estaria impossibilitado de concorrer ou ocupar o cargo, caso vencesse. Essa tropa foi chamada de “birthers”. As teorias “conspiracionistas” colocavam os locais de nascimento do democrata em vários pontos do planeta: Quênia, Indonésia e locais obscuros. A fofoca chegou a tal ponto que, o já eleito, Obama revelou primeiro uma versão resumida de sua certidão de nascimento e, depois, o documento completo. Só então a gritaria diminuiu, mas sem ter convencido a todos. Um dos descrentes era o “Donald”.

Raphael Edward Cruz nasceu na cidade de Calgary, Canadá, em 1970. Filho de um cubano-canadense e uma americana do Estado de Delaware. Aos quatro anos de idade, o já chamado Ted Cruz mudou-se para o Texas. Logo após o nascimento, o bebê foi registrado no consulado americano no Canadá. Por isso, e por ser filho de cidadã nascida nos Estados Unidos, ele seria considerado não apenas cidadão americano, mas também habilitado a concorrer à Presidência do país. A lei diz que um pretendente à Casa Branca deve ter mais de 35 anos de idade, morar há mais de 14 anos em território nacional e ser cidadão americano nato.

(Da esq. à dir.) Barack Obama, Donald Trump e Ted Cruz. Foto: Monstagem/Reproduçao/sites oficiais
(Da esq. à dir.) Barack Obama, Donald Trump e Ted Cruz. Foto: Monstagem/Reproduçao/sites oficiais

Este último requerimento é o que vem causando polêmica há anos. Em 1880, Chester Arthur -nascido no Canadá- concorreu à vice-Presidência  da nação. Teoricamente não poderia ter ocupado o cargo máximo, como o fez, após a morte do presidente Garfield, em 1881.

O republicano Charles Hughes, nascido no País de Gales, concorreu à Presidência em 1916. Perdeu para Woodrow Wilson. Morreu jurando ter nascido em Glen Falls, Nova York.

Em 1964, Barry Goldwater ganhou a nomeação do Partido Republicano. Havia nascido em 1909 no território do Arizona, que na época não era considerado Estado americano. Perdeu, porém, as eleições para o presidente Lyndon Johnson.

George Rumney, ex-governador do Estado de Michigan, pai do ex-candidato republicano à Casa Branca, Mitt Romney, nasceu em Chihuahua, México, filho de missionários Mormon de Utah (que na época do nascimento destes não era considerado Estado americano). Houve falatório durante a campanha presidencial de 1968, em que ele concorreu. De todo modo, o indicado do partido Republicano na época foi Richard Nixon.

John McCain, que concorreu contra Barack Obama em 2008, nasceu no Panamá, filho de pais americanos e numa área considerada território de domínio estado-unidense. Ninguém gritou que ele não era americano nato.

Donald Trump andou fazendo barulho sobre a legalidade da candidatura do senador Ted Cruz, mas depois dos primeiros meses de campanha parou completamente com as invectivas. Nem de longe bateu tanto nessa tecla quanto o fez contra Barack Obama.

Os juristas se dividem na questão. Um artigo recente na prestigiosa publicação Harvard Law Review, da Universidade de Harvard, argumenta que Cruz é elegível. O candidato seria mesmo cidadão nato dos Estados Unidos. Num artigo do Washington Post, Mary McManamon, professora de Direito Constitucional da Universidade de Widener, Delaware, discorda e argumenta que ele não é cidadão nato. Porém, enquanto a Suprema Corte dos Estados Unidos não se pronunciar sobre a questão, a dúvida permanecerá. A maioria dos americanos, no entanto, concorda com os autores do artigo da Harvard Law Review.

Trata-se, pelo menos, de um consolo para Ted Cruz, que tem minúsculas chances de receber a nomeação de seu partido. Ele está matematicamente impossibilitado de ganhar a corrida na primeira votação na convenção republicana em Cleveland, em junho. Somente se Trump não obtiver os 1.237 votos que garantem a nomeação automática e houver novo pleito de desempate, é que a situação poderia ser revertida.

Cruz amealhou delegados em convenções estaduais que, teoricamente, estariam dispostos a mudar seus sufrágios numa segunda etapa. Trump, porém, não fala mais nada sobre a nacionalidade do candidato rival.


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