Bom, no gol teria de ser um livro mais parado, mas que pudesse, em momentos cruciais, provocar grandes emoções. Penso em algo da Clarice Lispector, tipo A Paixão Segundo GH, ou do João Gilberto Noll, Harmada, talvez.
Para o ataque, um romance provocante, criativo, divertido, meio malandro, cheio de boas sacadas. Uma dupla boa poderia ser o Pornopopéia do Reinaldo Moraes e o Memórias de um Sargento de Milícias, do Joaquim Manuel de Macedo. No caso, o entrosamento seria garantido, já que o Memórias é o livro favorito do Moraes. Os quatro Campos de Carvalho merecem ser observados também. Desconcertantes, certamente seriam bons no drible.
Camisa dez. Aí o que conta é repertório, visão de jogo, habilidade técnica, liderança e capacidade inventiva. O técnico, muito provavelmente Antônio Cândido, teria muita dificuldade entre escalar o Grande Sertão Veredas e uma bela coletânea de Drummond. Muitos gostariam que jogassem juntos. Impossível. Ou um, ou outro, o que é garantia de brilho no banco.
Ainda na seara dos meias-armadores, haveria de se considerar a elegância, a ironia, o toque inesperado, de cabeça alta de um Machado. Memórias Póstumas de Brás Cubas é o candidato natural, mas Dom Casmurro não fica nada a dever.
Entre os volantes, a melhor escalação talvez devesse considerar as emoções que desarmam o leitor. Jorge Amado, nesse quesito, seria imbatível. Capitães da Areia é titular absoluto, não se discute. E o outro? Ficaria com o gauchão Fausto Wolff e seu À Mão Esquerda. Este, ainda teria vantagem do passe em profundidade, do lançamento preciso, que pega a zaga adversária no contrapé.
Falando em zaga, zagueiros. Linguagem popular, bruta, capaz de chutão pro mato, se for preciso. Um dos livros-crônica de João Antonio e uma das peças de Plínio Marcos, que tal? Dupla forte. Ou um Rubem Fonseca, O Cobrador, com mais qualidade na saída de bola. Nas laterais, aqueles que defendem, correm, mas também se mostram dispostos à fantasia ali na frente. Se Candido quiser ousar, poria na direita o lírico reacionário Nelson Rodrigues, com Toda Nudez Será Castigada e na esquerda, Antonio Calado – Quarup, no caso, que tem fôlego de índio.
Para o primeiro jogo, contra Croácia, é preciso prestar atenção no craque A Ponte sobre O Drina, inédito no pais (foi lançado em Portugal), de Ivo Andric, vencedor do Nobel de 1961.
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