Alguns pontos chamam a atenção nesta tormenta que o Brasil atravessa. Dois, mais precisamente. A dificuldade de o governo fazer o que tem de fazer, ou seja, governar, e outro, o nível de ignorância, cretinice e estupidez que aflorou e se tornou vergonhosamente visível nas manifestações de rua e nas redes sociais, principalmente na avenida Paulista e no Facebook.
Governo que mal governa perde autoridade, logo não se dá ao respeito. Assim sendo, permite ser desrespeitado. Mas não há desculpa nem para a incompetência de uns nem para a cretinice de outros. Uma olhada pelos personagens, atitudes e cartazes exibidos pelos participantes da manifestação do dia 16 de agosto dá vergonha e desgosto.
Pior é a cretinice hidrófoba, espécie de estupidez patológica, já com um pé dentro do território da barbárie. Exemplo disso foi a recente caminhada dominical do ministro da Justiça do País na avenida Paulista. Por pouco não foi linchado. Verbalmente, porém, foi achincalhado. “Pega ladrão”, “corrupto”, “petista”, “cara de pau”, “filho da puta”. Foi também chamado, aos urros, de “bolivariano”, adjetivo que atualmente acompanha “petista” e é vociferado por quem nem sabe seu significado, muito menos quem foi Simón Bolívar.
O quase linchado ministro declarou que foi “uma manifestação democrática” e que “tem que respeitar o povo”.
Mais grave foi a ameaça feita no Facebook por um candidato derrotado a deputado pelo PSDB, um advogado de Brasília. Disse ele: “Salve população brasileira, quem vos fala é o advogado Matheus Sathler… estamos saindo na rua dia 7 de setembro… Dilma Rousseff, renuncie, fuja do Brasil ou se suicide até o dia 6 de setembro às 23h59, caso contrário, com a foice e o martelo, nós vamos arrancar a sua cabeça”.
Isso é mais que patologia, isso é psicopatologia. E psicopatologia impune.
Também não há desculpa para a hipocrisia.
Fernando Henrique Cardoso, que já pediu para a presidenta da República renunciar e logo depois disse que foi mal interpretado, e Aécio Neves, vociferante crítico da corrupção, cujas contas de campanha estão sendo questionadas pelo TSE, têm a obrigação de vir a público para se manifestar sobre o que seu companheiro de partido, o advogado Sathler, disse no Facebook.
Ao quase linchado ministro da Justiça pergunta-se quem é, afinal, que defende a nossa democracia. A crise é política e é econômica, e é de caráter e também de autoridade. É na tormenta que se conhece tripulação e comandante. Na bonança qualquer um navega.
Hoje o leme pede comando. Até porque tudo indica que a tempestade vai aumentar.
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