Transgêneros da discórdia

Homossexualidade sempre entre em debate nas eleições dos EUA. Foto: EBC
Homossexualidade sempre entre em debate nas eleições dos EUA. Foto: EBC

Em todo ano eleitoral nos Estados Unidos alguém joga gasolina na fogueira das discussões sobre homossexualidade. Essa tradição começou para valer nos idos de 1992. Naquela eleição presidencial a grande polêmica era sobre gays entre militares. Em 1996 a disputa era sobre homossexuais fardados saindo do armário para valer, sem subterfúgios, e sem sofrer punições. No ano 2000 a briga foi para o campo dos direitos iguais em uniões entre pessoas do mesmo gênero. Até então, por exemplo, viúvos em tais relacionamentos não podiam receber benefícios deixados pelos cônjuges falecidos. Em 2004 a refrega foi varrida para debaixo do tapete, pois o presidente era avesso ao assunto. O candidato Barack Obama, em 2008, foi obrigado a se posicionar defendendo a oficialização legal deste tipo de matrimônio, numa batalha que continuou até 2012. Agora é a vez dos banheiros para transgêneros.

A jogada é conhecida e previsível como o calendário eleitoral americano. “Para jogar carne sangrenta à suas feras, os republicanos sempre arrumam uma polêmica sobre homossexualidade em eleições presidenciais”, disse a este colunista o marqueteiro democrata Ronald Volker. Ele explica que bandeiras homofóbicas galvanizam o eleitorado conservador americano, ajudando a alavancar votos regionais. “Parece que está na cartilha de estratégia eleitoral republicana o mandamento: malhem o gay!”, diz Ronald.

O democratas Bill Clinton, em 1992, prometia implantar a política do “Don’t ask, don’t tell” – ou seja: não pergunte sobre minha preferência sexual, e eu também não confessarei. Ou seja: homossexuais poderiam permanecer nas Forças Armadas, contanto que ficassem dentro do armário. Era um compromisso do tipo “avestruz”, o bicho que frente ao perigo enfia a cabeça na areia. Mesmo assim, naquele estágio, a comunidade gay foi às ruas celebrar a eleição do democrata e implantação da ideia. Hoje o presidente Barack Obama se vê às voltas com a questão dos banheiros. Vários estados passaram leis que impedem transgêneros de usar toalete reservado para o sexo a que ele se identifica. A briga vai continuar até a abertura das urnas em novembro. Procura, mais do que qualquer outra ação, complicar a vida de Hillary Clinton e incentivar os eleitores republicanos, não apenas na escolha do presidente, mas principalmente na votação para deputados e senadores regionais.

Trangêneros perfazem um quinto de um por cento da população.  Uma minoria que merece atenção, mas que a recebia bem menos do que agora. É muito ilustrativo o mapa onde este fogo de paixões está ardendo com maior intensidade. A Carolina do Norte, Ohio, Carolina do Sul, Geórgia e Texas perfazem os fronts de batalha. E são justamente Estados que podem votar com os democratas em novembro. Parece pouco provável que a maioria dos texanos resolva cravar o nome de Hillary Clinton, mas na corrida pelo Senado existem chances de ganho democrata. As mudança nas populações das Carolinas, onde o influxo de cidadãos liberais provoca perdas republicanas, não apenas a Câmara e o Senado estão ameaçados, mas também a figura de Trump, por si mesmo, causa calafrios no Partido Republicano. Na Geórgia espera-se que o enorme contingente afrodescendente, curral eleitoral dos Clinton, mas extremamente conservador em termos sociais, decida ficar em casa, recusando-se a votar em alguém que obrigatoriamente defende a liberação de latrinas.

Desse modo, ao que tudo indica, aposta-se na ideia de que a eleição presidencial americana passará pelo vaso sanitário antes de ser decidida.


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