O ataque terrorista que matou 49 e feriu 53 pessoas na cidade de Orlando, na Flórida, justificadamente chocou o país e o mundo. Não se esperava, porém, o chamado “after shock” produzido pelo candidato republicano à Presidência, Donald Trump. Sua reação a tragédia disputou as manchetes de jornais quase em pé de igualdade. Começou com um auto elogio: “Pessoas me congratulam por minha previsão”, tuitou referindo-se a sua profecia de que a nação sofreria ataques semelhantes.
Emendou com recriminações ao presidente Obama por este não ter falado claramente que aquela era uma ação de “radicais islâmicos”. No mesmo fôlego criticou a rival democrata Hillary Clinton por ter demorado a usar a mesma adjetivação e por suas propostas de controle de armamento. Arrematou insinuando de modo pouco velado que o presidente seria secretamente aliado de terroristas.
Sua escalada fez com que a mídia tirasse tempo da cobertura sobre o massacre, para dedicar análises, comentários e entrevistas sobre o conteúdo do discurso trombeteado. O jornal The Washington Post, um dos mais respeitados do país, manchetou as insinuações sobre a traição presidencial. Imediatamente Trump caçou as credenciais de repórteres do diário. Fez mais: foi ao palanque e reforçou sua promessa de proibir a entrada de muçulmanos no país, estendeu o veto a pessoas originárias de regiões com maior concentração de atos terroristas, e censurou a comunidade islamita americana por não policiar com vigor seus membros. Fez mais: acusou Hillary Clinton de ter planos para abolir a Segunda Emenda da Constituição (aquela que garante posse de armas aos cidadãos) e de preparar o desarmamento compulsório da população. Em meio a isso, disse que o Omar Mateen – o assassino de Orlando- era afegão.
Isso tudo quando as pessoas medianamente informadas no país já sabiam que Omar, como Trump, nasceu no Queens, de Nova York. E também que um presidente, seja Hillary ou Trump, não pode mudar a Constituição sem maioria de dois terços no Congresso.
Os destemperos de Trump continuaram a assombrar os republicanos que a cada semana são obrigados a enfrentar batalhões de repórteres exigindo repercussões sobre as falas. A maioria dos senadores e deputados, agora, se recusa a comentar. Paul Ryan, o sofrido líder da Câmara, novamente teve de rejeitar a ideia de proibição de entrada de muçulmanos nos Estados Unidos, mas continua insistindo que apoia seu candidato à Presidência.
Num momento em que a classe política se une para expressar união contra o ataque e luto pelas mortes, o candidato à presidência optou por fugir ao figurino e cuspir fogo. Perdeu a chance de mostrar-se sóbrio e “presidencial”, além de deixar em maus lençóis os membros de seu partido. Ao invés disso, jogou mais combustível na fogueira do medo no país. Ao completar 70 anos no dia 14, Trump mais parecia um garoto de 7 anos marrento no pátio de escola. É essa a imagem que, cada vez mais, republicanos tem de seu candidato. 84% dos eleitores do partido ainda dizem que votaram nele, mas esse número tem diminuído. E mesmo que se mantivesse estável não seria suficiente para garantir a Casa Branca. Ele precisa de 90% daqueles votos. Mitt Romney, em 2012, teve 86% de apoio e perdeu a eleição.
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