A Brasileiros estreia nesta terça-feira (5) mais um colunista. Osmar Freitas Jr. passa a assinar a coluna Coffee Party, direto de Nova York, onde vive há 31 anos. Jornalista experiente, com 41 anos de carreira, Freitas Jr. trabalhou na Folha, Estadão, Jornal do Brasil, IstoÉ, Época, Record e é colaborador de longa data da Brasileiros. Leia a seguir o primeiro texto!
Fica cada vez mais difícil para Donald Trump tornar-se o nomeado do Partido Republicano às eleições presidenciais americanas. Esta rejeição se materializa mais claramente com o movimento “Stop Trump”, onde grupos ligados ao establishment do partido bombardeiam o empresário bilionário com anúncios, comícios, investidas na imprensa e, principalmente, com manobras para roubar delegados partidários que irão decidir o coroamento republicano na convenção em Cleveland, Ohio, de 18 a 21 de julho próximo.
A tunga dos delegados ganhos por Trump, pelo voto, durantes as prévias partidárias faz parte de uma das manobras mais antidemocráticas que se tem notícia na política americana. Nela, um concorrente que venceu uma eleição primária pode não receber os delegados que lhe cabem. Exemplo: no Estado de Luisiana, Trump teve 41,4% dos votos republicanos, enquanto seu mais próximo concorrente, Ted Cruz, obteve 37,8%. Mesmo com essa diferença, ambos candidatos receberiam 10 delegados cada. Como os números de ambos foram muito próximos, as regras determinam uma divisão mais parelha.
Porém, qual não foi a surpresa geral quando se verificou que Cruz, agora, retinha mais 10 delegados do que seu rival vencedor. E não ficou só na Luisiana. Na Geórgia, onde Trump obteve vitória muito maior, Cruz também amealhou mais delegados. No condado de Coweta o bilionário nova-iorquino faturou 12 pontos percentuais a frente do segundo colocado. Mas Ted Cruz terá 90% dos delegados daquela zona. Vários outros Estados estão tendo resultados semelhantes. Por quê?
O modo como são escolhidos os delegados que irão à convenção determina este tipo de maracutaia. Depois de contados os votos gerais das prévias em cada Estado, é convocada uma convenção estadual do partido. É nessa reunião que são escolhidos os nomes dos militantes que irão ao encontro nacional que referendará o nome do candidato republicano. Os convocados em cada Estado são, claro, pessoas que fazem parte do dia-a-dia da agremiação, da máquina política local. Este é o establishment a nível regional. E como tal, é contra Donald Trump. Eles acabam escolhendo quem querem, independente do que apontou o voto popular. Ou seja: os ungidos vão cravar o nome indicado pelos caciques na convenção nacional republicana.
Em muitos Estados, essa traição não é tão direta. Aqueles que vão à convenção terão de votar no nome do candidato que teve mais votos nas prévias. Isso, ressalte-se, na primeira rodada de votação. Caso nenhum candidato tenha obtido o número mágico de 1.237 delegados partidários – o que garante a nomeação automática- uma nova rodada de votações será realizada- numa espécie de segundo turno.
Isso dará oportunidade para que cada concorrente faça alianças com rivais, capture mais delegados e vença a próxima disputa. É aí que a porca torce o rabo, pois os delegados não estarão sujeitos a fidelidade àquele que ganhou o voto popular estadual. Estão livres para votar em quem queiram. E a maioria, claro, seguirá os ditames do establishment.
Assim Trump estará lascado. Imagine-se a ira de seus eleitores- que aliás, são de uma fidelidade canina. E foi pensando num cenário desses que o bilionário candidato previu tumultuo pesado na convenção de Cleveland. Também por esse motivo Trump vem ameaçando não cumprir com o acordo assinado por ele de apoiar quem for o nomeado do partido. Na semana passada ele deu entrevistas indicando que tem dúvidas se vai ou não respeitar o trato. Mas o que lhe restaria? Uma campanha paralela, independente, sob a bandeira de outro partido, como o Conservador, ou Libertário? Seria uma catástrofe para os republicanos, que perderiam boa fatia do eleitorado e praticamente garantiria a vitória democrata.
Acontece que, como lembrou Ted Cruz, muitos Estados não aceitam colocar na cédula o nome de alguém que concorreu as primárias por um partido e, depois de perder a nomeação, resolveu disputar as eleições gerais por outra agremiação. É a chamada “Sour Loser Rule” – ou “Regra do Mau Perdedor”. A Carolina do Sul, por exemplo, tem essa regra e não colocará o nome de Trump para a apreciação de seus eleitores. Outros Estados também entram nesse esquema. Sem poder concorrer em algumas regiões o candidato, muito provavelmente, perderá a corrida. A única esperança de Donald Trump é a de amealhar os 1.237 delegados republicanos até a convenção. Está difícil.
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