Normalmente no mês de junho, os terraços dos cafés ficam cheios noite e dia. Normalmente, as roupas de inverno trocam de lugar no armário com as roupas de verão. As botas voltam para suas sacolinhas de pano para deixarem lugar para as sandálias, e as mulheres pintam agora as unhas dos pés, já que antes ninguém as veria. Normalmente, as folhas voltam a verdejar nos galhos, e a noite se encurta deixando o sol se deleitar no céu até as 11 da noite. Talvez esta lei cósmica seja a única respeitada neste final de primavera, as noites são curtas sim, só que os dias estão tão cinzas que a fronteira entre a claridade diurna e a escuridão noturna está borrada. Chove torrencialmente neste mês de junho, e com certeza lembraremos desta estação de 2016 como de um printemps pourri. Aqui o tempo, quando fecha, não é chamado de feio, mas de podre. Podre primavera penitente. E o céu deságua suas mágoas sobre a cidade-luz.
Na terça-feira dia 14 está prevista uma imensa passeata, sempre contra a lei trabalhista El Khomry. Estudantes, trabalhadores da Air France, da SNCF (companhia férrea), da companhia de lixo : em greve. O movimento social não perdeu todavia o fôlego. E não é a chuva que o vai frear, já houveram outras passeatas sob guarda-chuva no mês de maio passado. Os jovens dos liceus e universidades estão mobilizados, discutem, se reúnem, fazem manifestações “selvagens” (não autorizadas), andam sobre trilhos, param os trens semeando desordem na estação Gare de Lyon. Pintam slogans pelas paredes: não façam compras, façam amor; desliguem a TV e liguem o seu cérebro. E assim vai. A juventude quer mudança.
Chove também nos estádios de futebol, aonde rola a bola do campeonato europeu. Apesar da paranóia quanto a um atentado terrorista, a França não deixou de receber a competição. O movimento social vaia com escarninho o espalhafatoso futebol comercial. A violência de cara não veio de onde se esperava, mas dos espectadores entre si na cidade de Marselha. Torcedores ingleses e russos brigaram ao ponto de provocarem 31 feridos, 3 graves, e um está para morrer. Frustrações se expressam por onde podem.
A previsão para esta semana é de chuva, ainda. O som dos pneus nas poças d’água, as gotas escorrendo pelas vidraças, a umidade inchando as portas de madeira que penam em se fechar. Guarda-chuvas e capas em todas as esquinas, calçadas escorregadias, perigo de colisão.
Depois da tempestade, a bonança ?
Normalmente…
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