Uma linha na areia

Capa do livro "Line in the sand", de James Barr. Foto: Reprodução
Livro de James Barr explica o acordo Sykes-Picot  . Foto: Reprodução

Uma linha na areia, é assim que o livro de James Barr ( A line in the sand ) representa o acordo anglo-francês que para muitos está na origem de muitos dos males do Oriente Médio.

Aquela linha, desenhada por um político inglês chamado Sykes e adotada em acordo que este celebrou com um diplomata francês chamado Picot, em 1916, dividia – em plena Primeira Guerra Mundial, nunca é demais fazer notar! – o Oriente Médio em duas áreas destinadas ao domínio imperial de uma e outra potência.

O acordo Sykes-Picot fez-se, é claro, em segredo. Em tempos em que o imperialismo perdia “popularidade”, ingleses e franceses disputavam o que viria a ser o espólio do Império Otomano no pós-guerra e a coisa poderia parecer indecente no momento em que os milhões morriam.

É claro, o acordo era visto por uma e outra parte como frágil: talvez não sobrevivesse à guerra e, podendo, qualquer dos dois passaria a perna no outro.

As referências ao acordo são frequentes quando se fala hoje de Oriente Médio e de seus problemas, de colonialismo e de sua herança. O que quase nunca se faz é contar essa história em detalhes que explicitem as agendas em disputa, as manobras que fizeram dos árabes marionetes com sonhos de grandeza e de independência, as alianças dos sionistas, com os ingleses primeiro contra os franceses, e logo com os franceses contra os ingleses.

Penso que em parte a história não se conta porque não é conhecida.

Para os árabes, é preciso conhecer os detalhes sobre esse momento em que se começaram a desenhar as suas derrotas históricas que são a marca de sua passagem por todo o século XX e de sua entrada no XXI. Um olhar especialmente penetrante deve ser direcionado aos próprios erros de julgamento e de ação.

Conhecida a história, é preciso ir além dela, superá-la e deixá-la para trás.

Hoje, essa história, ainda que pouco conhecida, é vivida como símbolo vivo de uma impotência a que se estaria predestinado e que nada pode frente à poderosa mão externa.

É preciso uma catarse que deixe para trás o trauma e permita que se tome o próprio destino nas próprias mãos.


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