A coletiva de imprensa da 40ª mostra Internacional de Cinema reuniu jornalistas e cinéfilos na manhã deste sábado (8). A diretora Renata de Almeida comentou a programação do evento, que será inaugurado no dia 20/11 e conta com 322 filmes, de cineastas como Paolo Sorrentino, Paul Verhoeven e os Irmãos Dardenne. Neste ano, o homenageado é o italiano Marco Bellocchio. O diretor foi responsável pela arte do cartaz, inspirado em seu longa-metragem Bom Dia, Noite. Renata afirmou que o pôster é “muito forte, dialogando com o momento que estamos vivendo no País”. Ela ainda ressaltou que, em tempos acirrados, uma das grandes missões do evento é incentivar o diálogo: “Hoje com a internet, as pessoas dão opiniões sobre tudo o que acontece. Estamos perdendo o tempo da reflexão política. Há o momento de falar, gritar, mas também de pensar. A mostra sempre foi política, mas nunca partidária. O intuito é promover o diálogo, algo que o cinema faz muito bem, favorecendo a reflexão”.
Uma das grandes novidades desta edição é a parceira com a SPcine, órgão de incentivo ao cinema criado na administração de Fernando Haddad. O diretor do órgão Alfredo Manevy anunciou que a empresa entregará dois prêmios: um de R$ 35 mil para o filme brasileiro eleito na categoria de ficção, e outro de R$ 15 mil para o melhor documentário. Longas da mostra também circularão em todas as salas do circuito da SPcine, que inclui quinze CEUs, além de outros espaços voltados à periferia. Renata enfatizou que foram escolhidos trabalhos que dialogam com os jovens, grande público dos CEUs Porém, ela fez questão de ressaltar que “os filmes exibidos no CEU são os mesmos que os da mostra. Não deve haver longas-metragens voltados especialmente para as classes C e D. Essa ideia só revela o preconceito. Os filmes são para todos”, aponta.
Confrontada com a crise financeira, a diretora alegou que precisou se ater mais aos custos neste ano: “Fomos mais racionais. Hoje eu sei exatamente quanto custa trazer um filme para a mostra, os custos de tradução, transporte e etc.”. Mesmo assim, o evento está maior, contando com mais filmes do que no ano passado, e patrocinadores grandes como o Sesc, que financia o evento desde o seu começo. Segundo a representante do Sesc, Rosana da Cunha: “A mostra colabora para que o cinema esteja mais presente em São Paulo. Isso é essencial, em um momento tão complicado como este que ainda se discute se devemos ou não ensinar arte no ensino médio”.
Indagada sobre a presença das minorias na mostra, Renata mencionou o tributo ao ator negro Antonio Pitanga, que terá seus filmes exibidos na programação, além da presença de duas mulheres no júri e de várias diretoras. Porém ressaltou que prefere não realizar mostras que sejam focadas em apenas um grupo: “Sou avessa a separar os filmes. Sabe, não quero pregar para convertidos, mas promover o diálogo. Espero que no público da Mostra existam racistas e homofóbicos que assistam aos filmes e mudem sua opinião. Não se trata, portanto, de colocar uma espécie de selo de causa nos trabalhos, mas deixar que o próprio público crie as suas impressões”, comenta.
Além de Bellocchio, nesta edição diversas figuras do cinema serão homenageadas: o iraniano Abbas Kiarastomi, morto neste ano, será reverenciado com a projeção de seu último filme Take me Home. Ícone do cinema moderno, Ingmar Bergman também terá sua memória cultuada na exposição Por trás da Máscara: 50 anos de Persona, em cartaz de 15/10 a 6/11 no Itaú Cultural. A mostra revela os bastidores, com fotos e outros materiais, do longa-metragem Persona, tido como um dos mais importantes do diretor.
Ao final da coletiva, foi exibido o longa-metragem Animais Noturnos, do diretor Tom Ford. Trata-se de um suspense que conta história de Susan (Amy Adams), uma galerista famosa que recebe um manuscrito do livro de seu ex-marido (Jake Gyllenhaal), a quem ela deixara há 20 anos. O filme, que foi bem recebido pela crítica internacional, tendo vencido o Grande Prêmio do Júri no festival de Veneza deste ano, integra a programação da Mostra.
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