O longa chileno Glória, do diretor Sebastián Lelio, é aparentemente despretensioso. Mas não demora a se mostrar envolvente e sedutor. Cuidadosamente elaborado e conduzido por uma direção segura e sem excessos, conta a história de uma mulher divorciada, de 58 anos, que busca paliativos para a solidão e o desejo por sexo em bailes de terceira idade. Nesses lugares, toma iniciativas para dançar, flerta com homens mais velhos e até leva alguns para cama – com certo recato e discrição. Calejada pela vida, depois de experimentar casamentos e a maternidade, Glória – que rendeu o prêmio de melhor atriz a Paulina Garcia, no Festival de Berlim deste ano – não se tornou uma pessoa ressentida e amarga com os homens. Ao contrário, está sempre disposta a recomeçar um grande amor.
Paciente com o sexo oposto, ela ajuda o filho separado a cuidar de um recém-nascido e tem de lidar com o vizinho do andar de cima, que costuma ter brigas terríveis com a mulher. A personagem foi inspirada na mãe de Lelio e na geração dela, e vai contra a corrente da indústria do cinema, tão obcecada em tratar da juventude em seus filmes. Sem amigas e com os filhos crescidos, Glória se recusa a se recolher por causa da velhice, na Santiago dos dias atuais. Até conhecer e dar início a um relacionamento com um sujeito aparentemente simpático e gentil, Rodolfo, um ex-oficial da Marinha na casa dos 60 anos, que dá sinais de que gosta muito dela, mas resiste em assumi-la para suas filhas, o que a irrita.
Mesmo assim, Glória vive a expectativa de um romance que pode se transformar em algo duradouro. Enquanto tentam forjar um laço estável, o passado teima em atrapalhá-los, o que os críticos viram como uma metáfora do traumatizado Chile, emergente de uma ditadura violenta do general Augusto Pinochet (1915-2006), que governou o país por 17 anos, entre 1973 e 1990.
Deixe um comentário