Ainda inédito no circuito nacional, o filme “Pequeno Segredo” será o representante brasileiro na disputa por uma indicação ao Oscar 2017 de filme estrangeiro. Dirigido por David Schurmann, o longa desbancou o filme Aquarius, dirigido por Kleber Mendonça Filho, que era cotado como favorito.
Alvo de uma campanha virtual nomeada com a hashtag “BoicoteAquarius”, iniciada em maio último, quando o filme foi exibido na mostra competitiva do Festival de Cannes, na França, Aquarius vem despertando mal-estar entre setores da sociedade brasileira que apoiam a manutenção do governo interino de Michel Temer na Presidência da República. Inclusive com um dos membros da comissão, Marcos Petrucelli, que se disse contra as posições políticas de Kléber Mendonça Filho, quando a equipe do filme protagonizou um protesto contra o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef durante a sessão de gala no Festival de Cannes, em maio.
A indignação do diretor pernambucano aos que pedem boicote ao filme ganhou a adesão de dois colegas de ofício, o conterrâneo Gabriel Mascaro, de Boi Neon, e Anna Muylaert, de Mãe Só Há Uma. Ana e Mascaro, cujos filmes mais recentes (os títulos mencionados acima), também eram candidatos naturais à pré-seleção do Oscar, anunciaram que não participariam mais da peneira realizada pelo Ministério da Cultura, em solidariedade a Mendonça Filho e a equipe de Aquarius.
Anna Muylaert, por meio de sua página de Facebook, repudiou a notícia de que “Pequeno Segredo” havia sido escolhido para o Oscar: “É natural imaginar que Kleber Mendonça Filho esteja agora chateado com esse golpe relativo a escolha de um outro filme para comissão do Oscar. Imagino que esteja mesmo. Mas do meu ponto de vista o maior prejudicado não foi nem é Kleber e sua equipe e sim o cinema brasileiro. Houve sim uma grande batalha nos últimos anos em várias esferas, Ancine – Manoel Rangel e Eduardo Valente sem falar do Cinema do Brasil – pessoas e entidades que vem lutando tanto pela qualidade do cinema brasileiro quanto por sua visibilidade no exterior. Ora Kleber Mendonca fez um filme – goste-se ou não – importante, extremamente bem dirigido e que conquistou uma vaga na competição de Cannes – a mais difícil do mundo. Alem disso, está tendo sucesso de público e de crítica no seu país de origem. Escolher outro filme para representar o Brasil agora – um filme que ninguém viu – não é apenas uma derrota para Aquarius – Filme , é antes de tudo uma mudança de rumo nos paradigmas de qualidade que viemos construindo todos nós juntos há anos. O que esperar do futuro? Que os amigos de Michel Temer sejam daqui pra frente os grandes autores do cinema brasileiro – independentemente de sua qualidade ou mesmo de sua representatividade junto ao publico? A resposta é triste e é: provavelmente sim. Com esta escolha de hoje, enterramos muito mais que um filme. Enterramos um paradigma de qualidade e legitimidade para o cinema brasileiro. Quando se está vivendo sob a égide de um golpe nacional, porque haveria de ser diferente com o cinema?”
Kléber Mendonça Filho também se manifestou pelo Facebook: “Soube aqui no Festival de Toronto da decisão via Ministério da Cultura de não indicar AQUARIUS como candidato brasileiro ao Oscar. Estou numa tarde de entrevistas e já vendo o tipo de reação que tem surgido na imprensa e redes sociais. É bem possível que a decisão da comissão esteja em total sintonia com a realidade política do Brasil, ou seja, é coerente e já esperada. Para além de decisões institucionais via Governo Brasileiro, AQUARIUS tem conquistado internacionalmente um tipo raro de prestígio, e isso inclui distribuição comercial em mais de 60 países enquanto já se aproxima dos 200 mil espectadores nos cinemas brasileiros, com um tipo de impacto popular também raro. Mais ainda, é um filme que já faz parte da cultura e desse tempo, num ano difícil no nosso país. No final das contas, AQUARIUS é um filme sobre o Brasil, que está no filme da maneira mais honesta possível. Talvez seja exatamente esta honestidade que tenha feito de AQUARIUS um filme forte como agente cultural, social e produto da nossa indústria do entretenimento. Sonia está aqui do lado, poderosa como Clara. Ela manda beijos! (Toronto, 12 Setembro 2016)”
– No número 3 de CULTURA!Brasileiros, que está nas bancas, encartada com a Brasileiros de agosto, dedicamos 20 páginas a Aquarius, em entrevistas com Sonia Braga, capa da edição, e Kleber Mendonça Filho. Leia excertos inéditos na versão impressa publicados em nosso site.
– Na edição 99 de Brasileiros, de agosto de 2015, a diretora Anna Muylaert foi tema da reportagem de capa, na ocasião em que lançou Que Horas Ela Volta?, antecessor de Mãe Só Há Uma
Integravam a comissão de votantes Adriana Scorzelli Rattes, ex-secretária de estado de cultura do Rio de Janeiro; Luiz Alberto Rodrigues, sócio-diretor da Panda Filmes; George Torquato Firmeza, Diretor do Departamento Cultural do Itamaraty; Marcos Petrucelli, comentarista de cinema da rádio CBN; Paulo de Tarso Basto Menelau, da Moviemax, rede exibidora que atua em Pernambuco; Silvia Maria Sachs Rabello, presidente da Abeica (Associação Brasileira de Empresas de Infra-estrutura de Indústria Cinematográfica e Audiovisual); Sylvia Regina Bahiense Naves, assessora técnica em Acessibilidade do Audiovisual da SAV do MinC; e os cineastas Carla Camurati (“Carlota Joaquina, Princesa do Brasil”) e Bruno Barreto (“O que É Isso, Companheiro?”).
Em sua página do Facebook, Schurmann agradeceu pela escolha e elogiou todos os 16 concorrentes. “Obrigado a todos os que acreditam nesse filme. Meu profundo respeito a todos os maravilhosos filmes inscritos”. A família Schurmann foi a primeira tripulação brasileira a dar a volta ao mundo em um veleiro.
Previsto para estrear no dia 10 de novembro, o longa conta a história de Kat, menina portadora de HIV e adotada pela família em uma de suas viagens. Julia Lemmertz, Maria Flor e Marcelo Antony fazem parte do elenco.
Deixe um comentário