O cerco da imprensa estrangeira sobre o cineasta Kleber Mendonça Filho deve crescer nos próximos dias, graças à pré-estréia mundial de Aquarius, seu novo filme, no tradicional Festival de Cannes.
Segundo longa-metragem do diretor pernambucano, que em 2012 causou frisson com O Som ao Redor, Aquarius marca a volta de Sônia Braga às produções nacionais depois de 20 anos da filmagem de Tieta, de Cacá Diegues. O filme do brasileiro é um dos 20 trabalhos selecionados pelo júri da mostra para concorrer à Palma de Ouro, o prêmio máximo do festival. Mendonça Filho compete com um seleto grupo de estrelas internacionais como os cineastas Pedro Almodóvar (Julieta), Steven Spielberg (The BFG), Paul Verhoeven (Elle) e Jim Jarmusch (Paterson). O diretor desembarcou nesta terça-feira (10) na cidade balneária do sul da França para o cerimonial de abertura do festival, que será realizado entre hoje (11) e o dia 22 de maio, ocasião em que será anunciado o grande vencedor da Palma de Ouro.
Na edição de ontem, o jornal norte-americano The New York Times publicou reportagem com depoimentos do diretor. No texto, o repórter Nicolas Rapold abordou a expectativa em torno da exibição de Aquarius, mas também mencionou a casualidade de Mendonça Filho concorrer ao prêmio, um dos mais relevantes do cinema mundial, em um momento decisivo para seu País, com a possibilidade do afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República.
Por e-mail, o cineasta respondeu a Rapold: “Embora muito moderno e cínico, o que está acontecendo agora é um golpe de Estado”. Em sua página pessoal no Facebook o diretor, que já comprou briga com a poderosa Globo Filmes, frequentemente publica opiniões contrárias ao processo de impeachment e em defesa da democracia.
Aquarius, que já foi destacado pela revista Variety como um dos filmes mais aguardados da mostra competitiva, conta a história de Clara (Sônia Braga), uma jornalista e escritora aposentada, de 65 anos, que reside em um pequeno edifício da década de 1940, construído na Avenida Boa Viagem e nomeado Aquarius, daí o título do filme.
A avenida à beira mar, um dos cartões postais da capital pernambucana, é também um dos metros quadrados mais caros de Recife e objeto de especulação imobiliária. A trama de Aquarius se desenvolve justamente a partir do momento em que Clara passa a ser assediada por representantes de uma incorporadora de construção civil que pretende demolir o diminuto prédio para erigir uma arranha céu e faturar milhões. Clara é a única moradora que se opõe a ideia. Enquanto trava a batalha com a construtora, ela passa a rememorar situações passadas vividas no edifício.
Como crítico de cinema, jornalista e realizador, Kleber Mendonça Filho participa do Festival de Cannes pela décima oitava vez. Em 2005, ele defendeu na mostra o cultuado curta-metragem de ficção Vinil Verde (veja o filme em streaming).
Deixe um comentário