Segundo reportagem da Folha de São Paulo, o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero disse em depoimento à Polícia Federal que o presidente da República, Michel Temer, o “enquadrou” no intuito de encontrar uma “saída” para a obra de interesse do ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo)
“Que na quinta, 17, o depoente foi convocado pelo presidente Michel Temer a comparecer no Palácio do Planalto; que nesta reunião o presidente disse ao depoente que a decisão do Iphan havia criado ‘dificuldades operacionais’ em seu gabinete, posto que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado; que então o presidente disse ao depoente para que construísse uma saída para que o processo fosse encaminhado à AGU [Advocacia-Geral da União], porque a ministra Grace Mendonça teria uma solução”, disse Calero, segundo a transcrição do depoimento enviado ao Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria-Geral da República.
Em seguida, o ex-ministro da Cultura afirma que Temer encarava com normalidade a pressão de Geddel, articulador político do governo e há mais de duas décadas amigo do presidente da República.
“Que, no final da conversa, o presidente disse ao depoente ‘que a política tinha dessas coisas, esse tipo de pressão’”, prossegue Calero.
Na sequência, o ex-ministro afirma que se sentiu “decepcionado” pelo fato de o próprio presidente da República tê-lo “enquadrado” e que sua única saída foi apresentar o pedido de demissão.
Entenda o caso
A saída de Marcelo Calero do Ministério da Cultura, anunciada na última sexta-feira (19), tem causado mal-estar no núcleo duro do governo de Michel Temer, graças a acusação feita no dia posterior pelo ex-ministro, que colocou sob suspeição um dos homens fortes do peemedebista, o ministro-chefe da Secretária de Governo, Geddel Vieira Lima, braço direito do presidente nas articulações para a aprovação da PEC de congelamento dos gastos públicos.
Em entrevista a Folha, o ex-ministro da Cultura, que foi substituído pelo deputado federal Roberto Freire (PPS-SP), afirmou ter sido procurado por Geddel, por cinco vezes, para que intercedesse na liberação da construção do condomínio La Vue Ladeira da Barra, embargado pelo Iphan devido ao tombamento de várias edificações históricas em seu entorno.
Segundo Calero, as abordagens do colega de governo, proprietário de uma das unidades do empreendimento, avaliada em R$ 2,4 mi, foram “truculentas e assertivas”. Calero disse ainda que Geddel teria afirmado “se for o caso, eu falo até com o presidente da República”. Apesar de ter confirmado que é proprietário do imóvel em construção, Geddel nega que teria pressionado Calero.
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