“Klift Kloft Still, a porta se abriu!”, anuncia o célebre porteiro de lata azul, boca verde e chapéu amarelo que surge na porta do castelo. Assim o visitante é recebido na entrada da exposição Castelo Rá-Tim-Bum, em cartaz a partir desta quarta-feira, dia 16, no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. Ou seja, exatamente do mesmo modo que Pedro, Zequinha e Biba eram recebidos nos episódios da série da TV Cultura – que foi exibida entre 1994 e 1997 e está novamente no ar – quando iam visitar Nino, o garoto de 300 anos de idade eternizado pelo ator Cássio Scapin.
A partir daí, não só a portaria, mas todos os ambientes do castelo podem ser vivenciados de perto pelo público, na megaexposição montada no MIS que marca os 20 anos da série. “Tem uma parte que é o resgate da história, com alguns roteiros, matérias de jornal e a exibição de cenas. Mas o grosso da mostra é entrar no Castelo Rá-Tim-Bum. Tanto para que os fãs possam ver de perto quanto para que, através do castelo ‘vivo’, a gente possa criar novos fãs”, diz o curador da mostra e diretor do museu, André Sturm.
São realmente muitos os fãs da série idealizada pelo diretor Cao Hamburger e pelo roteirista Flávio de Souza. E, por isso mesmo, a mostra deve ser mais uma de grande sucesso no museu paulistano – após as exposições sobre Stanley Kubrick e David Bowie receberem cerca de 80 mil visitantes cada. Castelo Rá-Tim-Bum povoou o imaginário de milhares de crianças brasileiras nos anos 1990 e 2000, e pela qualidade de roteiro, produção e atores (como Sergio Mamberti, Rosi Campos e Paschoal da Conceição) ganhou admiradores também entre públicos de outras idades.
Além dos ambientes reconstruídos (apenas 5% do material cenográfico veio do original da TV Cultura, o resto foi feito pelo arquiteto Marcelo Jascow), e dos documentos expostos – entre eles croquis e figurinos originais, fotografias inéditas e vídeos com depoimentos dos atores –, a mostra terá uma programação paralela, com oficinas e cursos (saiba mais aqui). A Brasileiros visitou a exposição – passeou pelo hall, pela biblioteca, pela oficina do Dr. Victor, pelo laboratório de Tíbio e Perônio, pelos encanamentos de Mau e Godofredo, pelos quartos de Nino e Morgana, pelo jardim da Caipora e, claro, pelo saguão com a árvore centenária de Celeste – e entrevistou o curador André Sturm sobre seu trabalho na direção do MIS. No cargo desde 2011, ele promoveu um novo plano de atividades que colocou o museu novamente como um dos mais ativos e importantes da cidade.
Sturm é também cineasta, dono da distribuidora Pandora Filmes e do Cine Belas Artes, que reabre essa semana em São Paulo. Veja a galeria de fotos da exposição e leia abaixo a entrevista.
Brasileiros – Quando você assumiu o MIS, em 2011, o museu tinha perdido o destaque na vida da cidade já teve um dia. E que hoje tem novamente. Certamente foram várias linhas de atuação, mas o que você destaca como ponto principal para essa retomada?
André Sturm – Claro que o mais importante é a programação. Acho que tem um eixo principal que é criar um espaço que convida o tempo todo. Então, além de exposições, temos a programação de cinema, de música etc. Criamos alguns programas regulares como a Maratona Infantil, o Estereo MIS, o Cinematographo etc. Com isso, você cria público para um programa, mas a pessoa chega aqui e, por exemplo, entra também na exposição, e passa a ser público de exposição. Ou então ela vem para uma mostra e encontra o Dança no MIS, que é um programa de dança contemporânea. Então a gente abriu o museu para praticamente todas as áreas da cultura, com atividades simultâneas, que vão fazendo esse efeito multiplicador de público. Formando público no sentido de que ele fique mais formado, tenha mais informação, e de que cresça o público do museu.
Há também um apelo mais pop nas escolhas de mostras e atividades?
Claro, com certeza. É um dos elementos que a gente usou, de fazer exposições de maior apelo e interesse, mas sempre pensando em oferecer um programa de qualidade. Se eu quisesse só encher o museu, faria atividades que são super populares e pronto. Mas o que a gente quer é fazer coisas que têm qualidade e que são do interesse do público. Acho que essa é a função de um espaço público.
O MIS está localizado em uma região muito nobre da cidade, e naturalmente acaba atraindo bastante um público de classes mais altas. Existe um trabalho para atrair mais frequentadores de diferentes classes sociais e diferentes regiões da cidade?
Sim. Temos, por exemplo, um dia da semana que é grátis. Mesmo a exposição do David Bowie, que custava 20 libras em Londres (mais de R$ 60), aqui era grátis todas às terças. A gente tem também um trabalho de trazer escolas, com educadores, e os ingressos são sempre bastante acessíveis. A Maratona Infantil é gratuita, o Conexão Cultural também. E a gente sempre divulga que é fácil de chegar ao museu, que do metrô é só pegar um ônibus, e assim por diante. Para justamente trazer um público variado, porque é esse o objetivo.
Tanto no seu trabalho no MIS quanto no Cine Belas Artes, que está reabrindo, parece que o grande foco é o diálogo com a cidade. Faz sentido?
Com certeza. Acho que a motivação é essa, criar um lugar que as pessoas sintam que é parte da vida delas. Um vínculo afetivo também. Não é só um lugar onde a pessoa vai para ver uma coisa e vai embora. O Belas Artes tinha isso… Eu arrisco dizer que 30% do público ia lá sem ter escolhido um filme específico. Ia porque sempre tinha de dez a 12 filmes legais. O lugar tinha uma personalidade, e foi isso que eu quis fazer também no museu, criar uma personalidade. E acho que hoje tem. As pessoas vem para o MIS para ver o que está acontecendo.
Serviço – Castelo Rá-Tim-Bum, a exposição
MIS (Avenida Europa, 158)
R$ 10 (ou R$ 30 pelo site www.ingressorapido.com.br)
Até 12 de outubro
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