Quando o Cine Belas Artes fechou, em março de 2011, Medos Privados em Lugares Públicos completava três anos e meio em cartaz em uma de suas salas. Batia o recorde de permanência de um filme em cinemas paulistanos. Agora, na reestreia do espaço, totalmente renovado e renomeado como Caixa Belas Artes, o filme de Alain Resnais entra de novo na programação, a partir deste sábado, dia 19. “É para as pessoas ficarem com a sensação de que não existiu o Belas Artes fechado”, brincou o proprietário do cinema, André Sturm, em encontro com jornalistas na quarta-feira, dia 16. “Já faz parte da lenda urbana, digamos assim, o Medos Privados no Belas Artes!”
Desta vez, segundo o próprio Sturm, o longa não fica tanto tempo em cartaz. O gesto é principalmente simbólico da reabertura de um espaço cultural tão importante para a cidade. Fechado em 2011, após falta de acordo com o proprietário do terreno – que tinha propostas financeiras mais altas do setor imobiliário –, o cinema se tornou alvo de grande mobilização popular para que permanecesse ativo. Foram realizadas passeatas, colhidas 100 mil assinaturas em um abaixo-assinado, e a questão acabou na pauta da prefeitura da cidade e dos órgãos ligados ao patrimônio histórico (o Belas Artes existe desde 1943, quando abriu como Cine Ritz).
“Estamos com um problema que a especulação imobiliária em São Paulo é muito forte, está fora de controle, e temos 12 equipamentos culturais ameaçados nesse momento. Vamos fazer tudo que podemos para negociar, sempre”, disse o secretário de cultura da cidade, Juca Ferreira, também na quarta-feira. “Mas é muito importante uma mobilização da cidade, como vimos no Belas Artes, para que a gente possa viabilizar uma harmonização entre os interesses do setor imobiliário e o interesse cultural da cidade”.
Reforma total
No caso do Belas Artes, a negociação entre prefeitura, proprietário do cinema e o dono do prédio demorou, mas deu certo, e o cinema reabre neste fim de semana totalmente reformado. Segundo Sturm, foram cerca de R$ 7 milhões investidos na reforma: “Tirando as paredes, tudo nesse aqui é novo”. Ele se refere aos projetores (seis digitais e três em película de 35 milímetros), cadeiras, ar condicionado, isolamento acústico e, também, aos cafés e o resto da parte arquitetônica, comandada por Roberto Loeb.
Segundo Barbara Sturm, filha de André que tocará com ele o negocio, tudo foi feito com a intenção de criar um cinema de alto nível e um ambiente de “ode ao cinema autoral, de arte”. Pelas paredes dos corredores, o público verá cartazes de Alfred Hitchcock, do expressionismo alemão etc. “É para fazer a experiência de ir ao Belas Artes continuar sendo tão legal quanto sempre foi, ou até mais”, diz ela. A partir do ano que vem, haverá também uma sala “gourmet”, administrada em parceria com o bar Riviera, localizado logo em frente, na Consolação.
Uma das diferenças em relação ao cinema de três anos atrás é uma sala multiuso, em que, além da tela, um palco permite a realização apresentações de teatro, música, stand-up e outras linguagens. Em consequência da parceria com a prefeitura, estabeleceu-se também uma sala que será comandada pela SP Cine, com curadoria especial voltada ao cinema paulistano e brasileiro. O preço das entradas em todas as salas também será abaixo do usual na região. Os ingressos custarão R$ 20 reais (R$ 10 a meia), e às segundas feiras todos os trabalhadores (basta apresentar qualquer tipo de documento de trabalho) pagam meia.
Espaços da cidade
Além de anunciar que a prefeitura começará “imediatamente” a trabalhar na restauração e iluminação das calçadas e no túnel vizinho ao Belas Artes, “para que tudo seja incorporado às práticas culturais da região”, Juca Ferreira confirmou que o Município vai retomar as obras da Praça das Artes, no centro da cidade, e a reforma de outras cinemas. “Vamos trabalhar também com outras salas de rua e apoiar iniciativas da população”, disse ele, lembrando que outro espaço cultural importante, o teatro Brincante, está ameaçado pela especulação imobiliária.
Neste sábado, o Caixa Belas Artes abre com show da banda Mustache e Os Apaches e com a programação especial nas três salas que já começam a funcionar:Quanto Mais Quente Melhor, Um Dia Muito Especial, A Malvada, O Estudante, Filha Distante, Norwegian Wood – como nas canções dos Beatles, A Noite, Queimada!, Minha irmã, Morangos Silvestres e, claro, Medos Privados em Lugares Públicos. As outras salas passam a funcionar dentro de duas semanas.
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