O mais esperado festival do cinema brasileiro começa nesta terça-feira (16), no Teatro Nacional, com a exibição da cópia restaurada do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, em comemoração aos 50 anos do seu lançamento em 1964.
“Estamos muito felizes com o filme de abertura, pois Deus e o Diabo na Terra do Sol é um desses filmes seminais do cinema nacional. Ele foi lançado às vésperas do Golpe Militar e representa o cinema como veículo de resistência da ditadura. No ano dos 50 anos do Golpe, o filme entra perfeitamente nesse contexto de discussão”, explica Sara Rocha, neta do cineasta, falecido em 1981, e coordenadora adjunta do festival.
Além do filme de Glauber, o Festival de Brasília irá prestar homenagem ao documentarista Eduardo Coutinho, morto em fevereiro desde ano. Alguns de seus documentários serão exibidos; será feito o lançamento da segunda edição do livro “Eduardo Coutinho”, de Milton Ohata e de DVDs de alguns dos seus filmes, entre eles, o mais conhecido, Cabra Marcado Para Morrer.
“Nosso festival tem um marca muito forte, que é sua ligação com a história do cinema nacional e essa história passa por filmes importantes, como Deus e o Diabo na Terra do Sol e Cabra Marcado Para Morrer”, disse à Brasileiros o Secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira (veja entrevista no fim da matéria).
Aposta no novo e no autoral
De hoje até o dia 23 serão exibidos os filmes da mostra competitiva – seis longas e doze curtas -, e das mostras paralelas, Serão realizados debates com os diretores, técnicos e elenco dos filmes, seminários e oficinas. Os filmes de longa metragem selecionados para mostra competitiva apostam em diretores pouco conhecidos, que usaram de ousadia na linguagem, como explica Sara Rocha:
“A escolha dos títulos privilegiou obras consistentes e que ficam no limite da ficção e do documentário. Esses filmes buscam novas possibilidades de linguagem. Entre 2011 a 2013, a direção do festival optou por separar os vencedores de ficção e documentário. Esse ano ele volta ao formato anterior a 2011, quando não tinha essa diferenciação. Essa distinção não tem sentido no cinema hoje, pois o cinema é linguagem e não cabe segmentação de gênero ficcional ou documentário.”
Os longas e curtas podem ganhar um prêmio em dinheiro que somado chega à R$ 625 mil – quantia que só perde para Paulínia Film Festival, que esse ano concedeu 800 mil reais em prêmios. Do total, R$ 250 mil vão para o longa-metragem vencedor.
Entre os longas de documentário estão: “Sem Pena”, de Eugenio Puppo, (SP) e “Branco Sai, Preto Fica”, de Adirley Queirós (DF).
As ficções são: “Brasil S/A”, de Marcelo Pedroso (PE), “Pingo D`Água”, de Taciano Valério (PB), “Ventos de Agosto”, de Gabriel Mascaro (PE) e “Ela volta na quinta”, de André Novais Oliveira (MG).
Entre os curtas ficcionais na competitiva estão: “Loja de répteis”, de Pedro Severien (PE), “Sem coração”, de Nara Normande e Tião (PE), “Crônicas de uma cidade inventada”, de Luísa Caetano (DF), “Vento Virado”, de Leonardo Cata Preta (MG), “Nua por dentro do couro”, de Lucas Sá (MA), “B-Flat”, de Mariana Youssef (SP), “Estátua!”, de Gabriela Amaral Almeida (SP) e “Castillo y el Armado”, de Pedro Harres (RS), que é a única animação da lista.
Os documentários são quatro: “Bashar”, de Diogo Faggiano (SP), “Geru”, de Fábio Baldo e Tico Dias (SP), “Luz”, de Gabriel Medeiros (RJ) e “La llamada”, de Gustavo Vinagre (SP).
Hamilton Pereira está a frente da secretaria de Cultura do Distrito Federal no governo de Agnelo Queiroz (PT), desde 2011. Antes já tinha sido secretário entre 1997 e 1998, no governo de Cristovam Buarque. Em entrevista à Brasileiros, Pereira destaca os desafios de produzir um festival de tamanha dimensão em ano eleitoral.
Brasileiros – Fale um pouco da importância do Festival de Brasília
Hamilton Pereira – O Festival de Brasília nasceu durante a Semana do Cinema Brasileiro. Foi concebido pelo professor e crítico Paulo Emílio de Sales Gomes, logo após o Golpe de 64. Foi um festival que resistiu a brutalidade da censura e sempre foi obrigatório no calendário da cultura da cidade e do país.
B – Os festivais de cinema passam grandes apuros em ano de eleição. Como foi a realização do festival esse ano, que teve um orçamento de 3,5 milhões de reais?
H.P. – Uma verdadeira ginástica. A gente lutou muito para assegurar a continuidade do festival na dimensão que ele passou a ter nos últimos anos. Recuperamos o Cine Brasília, uma das mais belas salas, que hoje está equipada com que há de mais moderno. O Festival voltou para sua casa. O orçamento girou em torno de 3,5 milhões de reais e foram bem aplicados posso garantir.
B – Esse ano o Festival de Paulínia voltou com a carga toda, com prêmios que somaram R$ 800 mil. Em recente matéria no jornal O Globo alguns produtores disseram que inscrevem os filmes nos festivais que tem mais dinheiro em prêmios. O que você pensa sobre essa concorrência entre os festivais e o que faz para atrair os melhores filmes?
H.P. – Quando o Festival de Paulínia foi cancelado ficamos muito tristes, pois quem perde com isso é o cinema nacional. Acho que os festivais ajudam a divulgar os filmes e traz reflexão em torno deles. Essa competição é extremamente saudável. Não gosto de abordar essa competição por valores monetários, temos que avaliar por outras dimensões como a construção do imaginário, de referências e de cultura. Os festivais ampliam e potencializam o debate sobre os filmes. É importante frisar que esse ano estamos descentralizando os lugares das exibições, dos debates, dos seminários e das oficinas. As atrações do festival serão distribuídas em vários lugares do Distrito Federal e em algumas cidades em torno de Brasília.
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