Correndo por fora, Bob Dylan leva o Nobel de Literatura

Foto: Reprodução/facebook
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Não deu dessa vez para Adonis, Ngugi Wa Thiong’o, Haruki Murakami ou Don De Lillo. O Nobel de Literatura caiu no colo daquele que é talvez o maior letrista da canção popular no mundo, surpreendendo a todos. Mesmo que estivesse cotado há anos para o prêmio, poucos realmente acreditavam que Bob Dylan fosse ganhá-lo.

A verdade é que, passada a surpresa, e à parte brincadeiras como “finalmente um Nobel que a gente não precisa ler”, foi um prêmio bastante merecido. É bobagem pensar que a literatura só é possível na forma de romances, contos e poemas. A expressão literária está no uso criativo, estético, lírico da palavra, não importa o suporte. E nesse aspecto, Dylan é maior do que muitos escritores ditos “sérios” por aí. E bem mais influente, diga-se.

A secretária-geral da Academia Sueca, Sara Danius, justificou o prêmio dizendo que Dylan foi escolhido “por criar novas expressões poéticas dentro da tradicional canção americana”, e citou o álbum duplo Blonde on Blonde, de 1966 como exemplo (Poderia ter citado também Bringing All Back Home, Highway 61 Revisited, ambos de 1965, ou Blood on the Tracks, de 1975). Lembrou também da importância da oralidade na literatura, desde os tempos de Homero e Safo.

Nascido em 1941 de uma família judia em Duluth, Minnesota, Dylan começou a carreira no boêmio Greenwich Village, em Nova York, bem no começo dos anos 1960. Influenciado pelo cantor folk de protesto Woody Guthrie e pela poesia de Rimbaud e Dylan Thomas (de quem tomou o nome emprestado – seu nome verdadeiro é Robert Allen Zimmerman), logo se destacou na cena musical, vindo a gravar seu primeiro disco em 1962, aos 21 anos. O resto é história.

Depois de um início em que se engajou com letras sobre a luta pelos direitos civis, Dylan pode ser considerado um dos grandes nomes da contracultura americana, um pouco na linha dos beatniks, com algumas doses de surrealismo e imagens bíblicas. Tinha grande proximidade com poetas como Allen Ginsburg e costumava citar autores nas letras, entre eles William Blake, T.S.Eliot, Paul Verlaine e o próprio Rimbaud.

À parte as várias antologias de suas letras, publicou três livros: o experimental Tarântula, de 1971 (chegou a ser lançado no Brasil, em 1986, pela Brasiliense, com tradução do poeta Paulo Henriques Britto), Writings and Drawings, de 1973, e, mais recentemente, Crônicas vol. 1, de 2005, em que conta do início de carreira. Dylan também é pintor e se envolveu com cinema.

Curiosamente, não é a primeira vez que um letrista ganha um importante prêmio literário. Em 2011, Leonard Cohen (que é também poeta e romancista, e a quem Dylan chamou certa vez de o número um, dando a si mesmo o número zero), recebeu o prêmio Príncipe Astúrias de Literatura, mostrando que, sim, The Times They Are A-Changin’, como bem disse, em música, Bob Dylan.

 


Comentários

Uma resposta para “Correndo por fora, Bob Dylan leva o Nobel de Literatura”

  1. Avatar de F. Ponce de Leon
    F. Ponce de Leon

    Bob Dylan não merece o Prêmio Nobel. Sim, ele é um grande músico, sobretudo um letrista brilhante. No entanto, ele não é um escritor e o comitê do Nobel, com sua escolha populista, perdeu a oportunidade de premiar um este ano.

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