Emicida gosta das mensagens religiosas do Candomblé e do Budismo. “Elas me encantam muito pela relação de ser parte das coisas, de se ver como parte da natureza. Sugerem uma coisa muito bonita de gratidão.”
Além da questão da intolerância religiosa e, especialmente, contra o Candomblé, o rapper emenda uma conversa sobre o polêmico debate em torno da redução da maioridade penal e a cidade de São Paulo.
Leia:
Brasileiros – Como você lida com a ascensão da intolerância religiosa?
Emicida – A fusão da religião com a política já é uma parada que é nociva para a sociedade. Tem um físico norte-americano que diz que a melhor maneira de você garantir que cada um possa cultuar seu Deus é tirando Deus. Ninguém fala de Deus mais. A partir do momento que você tira Deus da Constituição, cada uma das pessoas se sente livre para gostar de Buda, de Oxalá. A gente não tem isso. A gente tem um Estado que gosta de repetir que é laico, mas a gente não vive em um Estado laico. E aí, no vácuo, que o racismo cria e se expande nas relações que acontecem no Brasil o que acaba acontecendo é que toda fé oriunda da África é pecado. Por que é pecado? É porque o Deus da gente dança, sorri e se parece com a gente? É um momento muito delicado na história do Brasil. É um momento de pequenos avanços, que alegram a gente, mas a gente vive a era dos grandes retrocessos. De repente, a gente tá aqui falando de privatizar cadeia e reduzir maioridade penal. Aí o povo tá na rua gritando “Fora Dilma” porque as escolas tão uma merda, mas os professores ficam 90 dias em greve no Estado de São Paulo e ninguém bate panela por isso (para defender a causa dos professores).
E a redução da maioridade penal?
Eu morava no Cachoeira, hoje moro na Água Fria. Voltei lá ontem. Tem uma escola caindo aos pedaços, um posto de saúde precário e a escola dos pequenos também é uma porcaria. Quem trabalha nessas instituições faz das tripas coração para manter elas vivas e atender a população da melhor maneira possível. O que tem mais próximo de centro cultural é uma barraca de CD pirata, não dá pra chegar com essa história. O que tem lá? Tem droga, tio. Droga e rodoanel rasgando, derrubando as casas. Boteco, droga e o evento que chega é o quê? O cara que chega com um sonzinho melhor abre o porta-malas e mete um funk ali. Porque se você vem para o Centro da cidade é horrível, os policiais te enquadram. Uma vez eu tomei quatro enquadros no caminho até o Centro.
Qual sua relação com São Paulo? Já conversou com o prefeito Fernando Haddad?
Já. Acho ele um cara sensível, acho ele importante para cidade, acho que ele tá sugerindo uma coisa muito importante, que é a cidade voltar a pertencer à população. Mas até isso é difícil nesse tempo. Pega um táxi. Os caras odeiam bicicleta. Todo mundo vai pra Europa e acha do caralho. No Brasil, não. Mas você tem que começar a sugerir isso. Eu acho que isso seria mais importante nas beiradas da cidade, mas tá começando no Centro porque todo mundo olha para o Centro.
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