Com os avanços tecnológicos que permitem tanto a realização de gravações baratas, com rapidez e qualidade, quanto uma distribuição mais democrática de música na internet, lançar álbuns tornou-se uma tarefa relativamente fácil. Diariamente artistas colocam no mundo seus trabalhos, e quanto a isso só temos a celebrar. Mas talvez por este fato, também, poucos discos de estreia soam tão maduros e bem-acabados quanto O Corpo de Dentro, do músico paulistano Lourenço Rebetez, 30 anos. E não é por acaso. Formado em guitarra e composição de Jazz pela Berklee College of Music (EUA) e atuante na cena musical há quase dez anos, Rebetez usou o tempo de estrada para pensar com calma o que queria apresentar quando fosse a hora. “Desde 2009 eu desenvolvia meu trabalho autoral e amigos me estimulavam a gravar. Mas tomei a decisão de esperar um pouco até ter a certeza de que eu tinha as condições de fazer o disco exatamente como queria”, explica.
Para revelar ao mundo seu “corpo de dentro” – todas as composições e arranjos são de Rebetez –, o autor convidou um time de talentosos músicos jovens (oito sopros, piano, bateria e baixo), além de um trio de percussionistas encabeçados pelo baiano Gabi Guedes, da Orquestra Rumbilezz. Completou o grupo com o eclético e experimental produtor musical Arto Lindsay – americano que trabalhou com Caetano Veloso e David Byrne – e gravou no novo e equipado estúdio da Red Bull, em São Paulo. O resultado é um disco instrumental que, a partir de uma base sólida no jazz, dialoga com gêneros brasileiros – especialmente os toques de percussão de origem afro – e, de modo mais sutil, com levadas que vão do eletrônico ao rap.
O Corpo de Dentro não é um disco purista, explica Rebetez ao ser perguntado sobre as influências de mestres como Gil Evans, Duke Ellington e Charles Mingus, ou dos brasileiros Moacir Santos e Letieres Leite. “Por mais que eu ame os mestres, não teria cabimento tentar mimetizar a música deles. Meu tempo é outro e minhas vivências também. Na minha música, tenho que ser sincero com quem sou, com o que é verdadeiro para mim. Paradoxalmente, acho que seria uma espécie de desrespeito à tradição ser muito fiel a ela. Seja o jazz, seja o candomblé, quero respeitosamente me inspirar nas linguagens, mas não imitar o que as pessoas que efetivamente fazem parte dessas tradições fizeram.”
Rebetez diz ainda que, em sua estreia, optou por se apresentar mais como compositor do que como instrumentista – o guitarrista só toca em metade do álbum. Ele conta, inclusive, que é principalmente com a caneta na mão que ele dá forma a seus temas e arranjos. “Só componho na cabeça e no piano que, aliás, toco mal. De certa maneira, acho que não usar um instrumento que a gente domina para compor ajuda a evitar certos vícios ou maneirismos. Nesse sentido, sempre foi mais orgânico me afastar da guitarra para compor, porque me facilita buscar traduzir a música que está na minha imaginação, não aquela que já está ‘debaixo do dedo’”. A música que está, pode-se dizer, em seu corpo de dentro.
Serviço – Show de lançamento
Dia 20 de agosto, às 20h
Itaú Cultural – Avenida Paulista 149
Entrada gratuita (retirar ingressos a partir das 19h)
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