Festival de circo une clássicos e contemporâneos da arte em Piracicaba

Festival Paulista de Circo - Saltimbembe Mambembancos - Roda dos Ventos - Credito Guilherme PicchetiCom apenas sete anos de existência, o Festival Paulista de Circo já uma referência nacional para os artistas da área. Virou palco e vitrine ao mesmo tempo para quem quer apresentar seus espetáculos e, claro, talento. O evento, que começa nessa quinta-feira, 28, e vai até domingo no Engenho Central, em Piracicaba, reúne o melhor da atual produção do circo no Brasil e agora se expande para o exterior. Entre as novidades desta edição, está a residência artística para mulheres circenses, com direção de Erica Stopel (Circo Zani) e Lu Lopes (Palhaça Rubra). O espetáculo “Variedade Feminina”, resultado dessa experimentação, abre o Festival, hoje, às 20h. O público paulistano poderá conferir o espetáculo no sábado, 6 de setembro, às 14h, na Fábrica de Cultura do Belém.

Outra atração especial é o grupo canadense Flip FabriQue, companhia originária da Escola de Circo da cidade de Quebec. Os artistas acrobatas vêm pela primeira vez ao Brasil para apresentar “Attrape-Moi”, marcado pelo alto nível técnico e variedade de linguagens. As apresentações serão nessa sexta-feira, às 20h30, e no sábado, às 15h. No picadeiro, números como o mastro chinês – raro no país –, bambolê e trapézio. A ideia de trazer artistas do Canadá foi de Bel Toledo, também curadora do Festival Paulista de Circo, que tem acompanhado festivais internacionais e visitado escolas e países onde a linguagem é valorizada. Ela assistiu a uma apresentação da Flip FabriQue e iniciou os contatos. Posteriormente, conseguiu o apoio do governo do Québec para viabilização da vinda do espetáculo. Do Chile, vem o excêntrico musical Oscar Zimmermann, um dos principais nomes da arte do palhaço na América Latina, com o espetáculo “Viaje”, no sábado, às 20h.
Festival Paulista de Circo - Viaje 1 - Oscar Zimmermann - Divulgacao

Serão 52 atrações, selecionados entre 189 inscritos, com acesso gratuito em todas elas – na sexta, as apresentações das 10h e 14h são exclusivas para alunos de escolas públicas de Piracicaba.

Promovido pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, o festival é realizado pela APAA – Associação Paulista dos Amigos da Arte –, correalizado pela Secretaria de Cultura do município de Piracicaba, em parceria com a Cooperativa Brasileira. As crianças, que formam público cativo em qualquer evento de circo, terão oficina circense na sexta, das 18h30 às 20h30, com malabares, rola-rola, diabolô, bolinhas, clave, tule, prato de equilíbrio e swing-poi. Quem estiver circulando pelo Engenho ainda poderá ser surpreendido por artistas em pernas de pau, malabaristas e palhaços. E para o público em geral tem também feira com produtos circenses, praça de alimentação com características de circo, além de foodtrucks. Para os artistas, o evento tem palestras de qualificação profissional e de discussão sobre o mundo do circo.

O publico poderá se divertir também com os Cabarés – ou Circo de Variedades –, espetáculos que possibilitam o encontro de artistas de várias linguagens do circo contemporâneo e do circo tradicional, em uma mistura contagiante e inventiva, que costuma empolgar as plateias. Os cabarés reúnem artistas-referência, como Bruno Edson – que, aos 73 anos, faz equilíbrio de pratos –, Rokan, o mágico dos dedos de ouro, ambos do circo tradicional; Paulo Maeda, com a parada de mão; Ana Coll e Kadu Mendes no double trapézio; na lira, tem Mariana Maekaw, que acaba de chegar do Cirque du Soleil. Durante os quatro dias de evento, os tradicionais Circo Spacial, Arena e Fiesta também tomam as lonas no Festival. Os artistas se apresentam nas lonas Piolin e Pimentinha, no palco Figurinha, em espaço destinado para números aéreos e no Globo da Morte.

Festival Paulista de Circo - flip fabrique 2

Machismo
O curador do Festival, o ator e diretor Hugo Pussolo, do grupo Parlapatões, conta que para fazer a residência feminina, foram selecionadas artistas mulheres com números diferentes e de linguagens diversas, a partir de um edital. A residência aconteceu ao longo de dez dias antes do festival, na Fábrica de Cultura do Belém, também parceira nessa ação. As diretoras Erica Stoppel e Lu Lopes promovem a integração entre as artistas numa proposta de unidade de linguagens para o espetáculo. Segundo ele, a decisão de fazer algo assim especificamente com mulheres veio do fato de que, no dia a dia, infelizmente o machismo ainda predomina, na atividade artística, em especial nos circos. “De alguma forma ele também é presente. Além de ser uma provocação interna na criação do espetáculos, certamente o resultado irá abordar e provocar reflexões sobre o tema”, explica.

Festival Paulista de Circo - flip fabrique

Maria Thereza Magalhães, coordenadora da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, observa que, desde que foi criado, o festival tem tido um papel importante na preservação da linguagem circense ao montar um grande espaço com as lonas de circo e com a apresentação de companhias tradicionais. “Apresentamos o que é produzido de melhor na tradição circense. Dentro disso, também apresentamos o circo contemporâneo, gerando um grande espaço de troca de experiência entre os artistas das diferentes vertentes do universo circense”. Nesta edição, destaca Maria Thereza, haverá um palco externo, o Figurinha, que apresentará espetáculos fora das lonas, oferecendo atrações para todo o público que estiver circulando pelo evento.

Para a coordenadora, cada edição tem sido cuidadosamente acompanhada no sentido de aprimorar ano a ano. “Em 2013, percebemos uma ótima recepção da população local e uma participação intensa do público, não só da cidade como também de moradores de toda a região. Neste ano, nossa preocupação é manter a característica do festival, que é mesclar a tradição e novas tendências da arte circense em um Festival com programação de qualidade e que divirta e encante o público”. Ela comemora quase duas centenas de inscrições para o Festival, um aumento significativo comparado as 131 inscrições do ano passado. “Ficamos surpresos e contentes pela grande quantidade de inscritos de outros estados, como Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, entre outros, além dos representantes do interior de São Paulo.

Um dos compromissos do festival, afirma Maria Thereza, é garantir o acesso do público à diversidade da arte circense e, para isso, a organização busca formas de estreitar o diálogo entre artistas, curadores e programadores. “Neste contexto, as inscrições são sempre muito bem sucedidas, pois permitem que artistas de diferentes regiões tenham a oportunidade de apresentar suas produções no Festival”.  A coordenadora acha importante destacar que o evento desempenha um papel importante como um espaço único de vitrine, de valorização do circo de lona, que é muito rico, pois abriga uma grande variedade de artistas e técnicas. “Este tipo de Circo, que é muito presente no nosso imaginário, tem uma grande força no interior. É exatamente por isso que o Festival é realizado no interior de São Paulo, como forma de fortalecer a tradição milenar do circo ao promover e renovar a sua aproximação com o público”.


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