Filme “Subybaya” gera polêmica sobre lugar de fala

Cena do filme "Subybaya". Foto: Divulgação
Cena do filme “Subybaya”. Foto: Divulgação

Exibido no dia 28, o filme Subybaya, de Leo Pyrata, gerou polêmica na 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes. A produção é centrada na personagem de Clarisse (Bruna Chiaradia), uma jovem de Belo Horizonte em busca de sua identidade. O filme acompanha os dilemas e anseios da protagonista. Em certo momento, a narrativa é interrompida por vozes em off de um grupo mulheres que começam a criticar as escolhas do diretor ao conduzir a história.

Passados alguns minutos, essas mesmas mulheres retornam ao filme, num processo de metalinguagem que questiona o fato de um diretor homem filmar os dilemas femininos. Subybaya é o primeiro longa-metragem de Pyrata, que já esteve na última edição da mostra com o curta Imhotep.

Realizado no dia 27, o debate com o público foi acirrado. O auditório ficou lotado e várias pessoas tiveram que acompanhar do lado de fora. O diretor afirmou que a obra é “centrada na crise do macho, dessa figura conservadora e provinciana”. Ele ainda alegou que “não pode falar em nome do feminismo” e que a “intenção do filme é problematizar a questão do lugar de fala. Sempre estará na minha digital esse machismo estrutural que acompanha a todos os homens”.

Diversas pessoas da plateia, composta majoritariamente por mulheres, criticaram as escolhas do diretor.  Alegou-se que o filme cria uma imagem superficial do feminismo, já que as intervenções das mulheres no longa seriam muito estereotipadas. “É um filme de homens para homens”, gritou uma moça da plateia, criticando o “debate caricato” realizado pela obra.

Também foi questionado se em uma edição que homenageia duas mulheres – as cineastas Helena Ignez e Leandra Leal – não deveria haver mais produções de diretoras. O curador da mostra, Cleber Eduardo afirmou que a seleção não foi pautada por nenhum critério de cota, mas de qualidade. “Tivemos uma gama enorme de inscritos, as pessoas não viram todos os filmes para poder comparar”, afirmou.

No debate, a produtora do filme, Amina Jorge, comentou que se trata de uma obra “de embate, crise mesmo”. “Sabíamos que era impossível um homem fazer um filme sobre feminismo. E o longa está justamente expondo essa crise. O Leo está num lugar de privilégio, ele é cis e branco. Mas nós podemos usar esse privilégio para levantar questões. Tem várias mulheres aqui na plateia que vieram para criticar o filme e eu fico feliz porque ele foi feito justamente para isso”, afirmou.

Encerrado o debate, a discussão ainda continuou pelas ruas da cidade, como pode conferir a Brasileiros. A funcionária da cinemateca, Barbara Morais, por exemplo, contou que saiu extremamente incomodada da sessão de exibição: “Por incorporar o discurso de algumas mulheres, o filme cria uma blindagem que o protege do choque com o público. E isso é algo muito complicado por incentivar brigas internas no movimento feminista”.

Já o fotógrafo Alexandre Baxter afirma que o debate em torno do longa-metragem “foi para uma direção muito perigosa, está muito segregado. No filme, o diretor expõe os seus dilemas, abrindo para a discussão com o público. Obviamente que ele corre riscos, mas essa é a força da obra”.

Para a assistente de direção, Gisele Freitas, o problema não é o fato do longa-metragem ser dirigido por um homem, mas de “ser uma obra rasa, que não aprofunda o debate. O filme tenta falar de feminismo, mas não consegue. Por exemplo, o diretor se concentra muito nos assédios que a Clarisse sofre em várias festas. Mas acaba ficando superficial, as formas de violência que sofremos cotidianamente são muito mais sutis do que isso”, defende.


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