Carla Camurati, Walter Salles, Fernando Meirelles, Beto Brant, Eliane Caffé, Tata Amaral, José Padilha, Karim Aïnouz, Kleber Mendonça Filho, Heitor Dhalia, Cláudio Assis, Bruno Barreto, Laís Bodanzky, Lírio Ferreira, Monique Gardenberg, Jorge Furtado, Anna Muylaert, Cao Hamburger, Sandra Kogut, Roberto Gervitz. Se hoje é possível elaborar sem esforço uma lista como essa, de 20 cineastas em atividade no Brasil, há 25 anos esse exercício mais parecia ficção científica. Com a extinção da Embrafilme, decretada pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello em março de 1990, a realidade da indústria local tornou-se um dramalhão, desses que partem o coração.
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“Dentro de seu próprio mercado, a participação do filme brasileiro no começo dos anos 1990 era inferior a 1%. Algo que muda a partir da Lei Rouanet (sancionada em dezembro de 1991) e a Lei do Audiovisual (em vigor desde junho de 1993)”, explica Marcelo Ikeda, professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará e autor do recém-lançado Cinema Brasileiro a Partir da Retomada: Aspectos Econômicos e Políticos (Editora Summus, 274 páginas).
O progresso apontado no livro de Ikeda teve início em novembro de 1995, quando entrou em cartaz Carlota Joaquina, Princesa do Brasil, de Carla Camurati. A ficção, para lá de irreverente, sobre a trajetória da Família Real Portuguesa no Brasil tornou Carla principal artífice do que ficou conhecido como retomada do cinema brasileiro. Segundo dados auditados pela empresa Filme B no final de 1996, o longa-metragem foi visto por mais de 1,3 milhão de espectadores.
Em 1998, um novo capítulo histórico foi escrito pelo diretor carioca Walter Salles durante a 48ª edição do Festival de Cinema de Berlim. Salles arrebatou júri e público da mostra alemã com Central do Brasil, drama que conquistou o Urso de Ouro e também rendeu um Urso de Prata à comovente atuação de Fernanda Montenegro. A partir dos anos 2000, a aceleração dos avanços tecnológicos trouxe perspectivas ainda mais democráticas. “Houve uma difusão dos mecanismos digitais, que permitiu aos novos cineastas estrear de forma independente e fez surgir trabalhos mais diversos, feitos fora do eixo Rio/SP”, explica Ikeda.
O longo caminho em busca de volume, autonomia e pluralidade foi abreviado, significativamente, em dezembro de 2006, com a criação do Fundo Setorial do Audiovisual, responsável hoje por quase 70% dos recursos destinados às novas produções. “A principal fonte de financiamento passou a ser o fomento direto do governo por meio desse fundo, que é alimentado a partir das receitas do mercado audiovisual.” Em meio à atual crise econômica, a indústria cinematográfica do País não deve sofrer grandes impactos. A perspectiva otimista é justamente amparada pelas reservas do fundo, que somam mais de R$ 600 milhões em 2015 – quantia idêntica à prevista para 2016.
No entanto, a difusão dos filmes para o grande público ainda sofre impacto de um antigo vilão. “Existem grandes gargalos de distribuição e exibição, porque as majors, como a Fox e a Warner, ainda dominam 80% do mercado de cinema no Brasil com três ou quatro filmes estrangeiros ocupando a maioria das salas de cinema”, esclarece Ikeda. Segundo ele, uma alternativa está na internet. “Há grande potencial em conteúdos como os vídeos sob demanda e as webséries, mas encontrar um modelo de negócio para os produtos de nicho ainda é um grande desafio.”
Na ocasião em que foram completados 15 anos da exibição de Carlota Joaquina, Princesa do Brasil, o cineasta francês Karim Akadiri Soumaïla produziu o documentário A Retomada para o canal de TV a cabo Cinéma Series. O filme foi exibido no Canal Brasil em abril de 2011, ocasião em que Brasileiros dedicou um perfil ao diretor (leia). Quatro anos mais tarde, voltamos a conversar com o diretor para atualizar suas impressões sobre esse novo quinquênio da retomada. Ele diz que a produção continua vigorosa, mas há lacunas que merecem reflexão. “Desde que fiz A Retomada, surgiram blockbusters como Tropa de Elite e comédias com atores da Globo, mas falta demonstrar a verdadeira realidade do País. O Brasil também é feito de afro-brasileiros e de indígenas, mas ainda há uma forte representação do modelo branco dominante e pouca valorização da beleza que há na diversidade brasileira. Um problema que o País deve assumir, não só no setor audiovisual, mas principalmente em sua sociedade.”
Em breve nos cinemas
Dez filmes para você não perder de vista
Aquarius
Direção: Kleber Mendonça Filho. Com Sônia Braga. Atualmente em produção no Recife, o sucessor do aclamado O Som ao Redor contará a história de Clara (Sônia), escritora e crítica musical aposentada, viúva e mãe de três filhos adultos, que tem o dom de viajar no tempo.
Big Jato Direção
Direção: Claudio Assis. Com: Matheus Nachtergaele, Marcélia Cartaxo e Rafael Nicácio. Baseado em romance homônimo de Xico Sá, o novo longa de Assis foi o grande vencedor do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília de 2015.
Boi Neon Direção
Direção: Gabriel Mascaro. Com: Juliano Cazarré e Maeve Jinkings. O filme, que conquistou o Prêmio Especial do Júri no Festival Internacional de Cinema de Veneza de 2015, conta a história de um vaqueiro (Cazarré) que trabalha duro
nos bastidores dos rodeios, enquanto sonha em ser estilista.
Califórnia Direção
Direção: Marina Person. Com: Clara Gallo, Caio Horowicz, Caio Blat e Paulo Miklos. Estreia de Marina na ficção, o filme narra as desventuras de uma adolescente que, nos anos 1980, pretende partir ao encontro de um tio na Califórnia,
nos EUA, para fugir do autoritarismo de seu pai.
Marighella
Cinebiografia do guerrilheiro Carlos Marighella (1911-1969), uma coprodução entre O2, Globo Filmes e Paris Filmes, que marcará a estreia do ator Wagner Moura na direção. Ainda em finalização de roteiro e captação de recursos, o filme será baseado na biografia escrita pelo jornalista Mário Magalhães.
Mundo Cão
Direção: Marcos Jorge. Com: Babu Santana, Adriana Esteves e Lázaro Ramos. Um funcionário do departamento de zoonoses (Santana) captura na rua um cachorro da raça dobermann. Contra sua vontade, o cão é sacrificado, mas isso não o impede
de ter sérios problemas com o dono do animal (Ramos).
Nise, Coração da Loucura
Direção: Roberto Berliner. Com: Gloria Pires e Fabrício Boliveira. Cinebiografia da psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999) que revolucionou o tratamento de esquizofrênicos ao condenar métodos como eletrochoque e lobotomia, e criar o Museu de Imagens do Inconsciente.
Orfãos do Eldorado
Direção: Guilherme Coelho. Com: Daniel de Oliveira e Dira Paes. Nascido em 1979, o documentarista carioca estreia na ficção com uma adaptação do mais recente romance de Milton Hatoum.
Para Minha Amada Morta
Direção: Aly Muritiba. Com: Fernando Alves Pinto, Mayana Neiva e Michelle Pucci. Primeiro filme de ficção do premiado documentarista, conta a história de um homem (Alves Pinto) solitário, que convive apenas com o filho pequeno após tornar-se viúvo e é obcecado pela memória da ex-mulher. Tudo muda com a descoberta de uma fita VHS reveladora.
Quase Memória
Direção: Ruy Guerra. Com: Tony Ramos e Mariana Ximenes. Onze anos após lançar seu mais recente longa-metragem, O Veneno da Madrugada, o mestre Ruy Guerra volta às telonas com uma adaptação do romance de Carlos Heitor Cony.
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