Não tem jeito, o Festival de Gramado nunca perde a sua majestade como o mais glamoroso evento do cinema brasileiro. Para a fria e acolhedora cidade gaúcha vão, há mais de quatro décadas, estrelas das telas grandes e pequenas, celebridades e cinéfilos e muitos curiosos interessados mais em ver seus ídolos do que em assistir os filmes. Para quem gosta mesmo de cinema, serão exibidos entre esta sexta, dia 8, e o dia 12, na 42ª edição do festival, 68 filmes. Desses, 44 concorrentes nas mostras competitivas de longas (brasileiros e latinos) e curtas brasileiros. Todos disputam a inédita premiação em dinheiro de R$ 280 mil para todas as mostras competitivas.
O festival mantém o interesse de realizadores de todo país e do continente sul-americano. Basta observar outros números expressivos. Para este ano, foram inscritos 794 filmes, entre longas e curtas. A organização informa que foram utilizados R$ 3 milhões para a realização do festival, captados por meio das leis Rouanet e LIC. A mobilização foi de 500 pessoas, que trabalham na produção e na organização. O credenciamento chegou a 2 mil pessoas, entre jornalistas, cineastas, atores, produtores e comunidade do cinema. A previsão é que a festa do cinema atraia para Gramado 150 mil turistas.
Pelo menos dois nomes concentram expectativas no evento deste ano, por serem diretores estreantes: o cantor Alceu Valença e o ator Caco Ciocler. O primeiro comanda o misto de ficcional com memórias pessoais “A Luneta do Tempo”, protagonizado por Irandhir Santos e Hermila Guedes – nos papeis, respectivamente, de Lampião e Maria Bonita. O filme tem personagens típicos da cultura nordestina, como cangaço, sanfoneiros, aboiadores, caatinga, Luiz Gonzaga, cantadores de feiras, poesia e circo. A trama gira em torno do conflito entre dois meios-irmãos, filhos de um circense argelino: um nasceu da viúva de Severo Brilhante, um dos homens de confiança de Virgulino; o outro é fruto da mulher de Antero Tenente, militar que persegue implacavelmente os cangaceiros. Tudo combinado ainda com elementos da infância de Alceu em São Bento do Una, cidadezinha na fronteira entre o agreste e o sertão, e referências ao pai e ao avô.
Ciocler apresenta documentário que recupera a história de Aracy, mulher do escritor mineiro Guimarães Rosa, autor de “Grande Sertão: Veredas”. A ênfase é o fato de que ela salvou centenas de judeus do regime nazista, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O longa “Esse Viver Ninguém Me Tira” retrata como essa pouca conhecida personagem se tornou heroína ao ajudar centenas de judeus da morte em campos de extermínio, quando morou na Alemanha e foi secretária do consulado brasileiro. No cargo, Aracy planejou fugas, ajudou a forjar vistos, desviou parte da comida do consulado para levar aos esconderijos e facilitou a emissão de passaportes para judeus.
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