Em celebração aos 70 anos de Ivan Lins, quarto e quinto álbuns do compositor são relançados

Capa do álbum Modo Livre (RCA Victor, 1974), quarto título da discografia de Ivan Lins, que acaba de ser relançado pela Kuarup, juntamente com Chama Acesa (1975)
Capa do álbum Modo Livre (RCA Victor, 1974), quarto título da discografia de Ivan Lins, que acaba de ser relançado pela Kuarup, juntamente com Chama Acesa (1975)

Nesta terça-feira (16), o cantor e compositor carioca Ivan Lins completa 70 anos. Influenciado pela segunda geração da bossa nova, representada por artistas como Marcos Valle, Edu Lobo e Sidney Miller, Ivan começou a estudar piano, tardiamente, aos 18 anos de idade e integrou o MAU (Movimento Artístico Universitário), que também revelou talentos como Aldir Blanc, Taiguara, Gonzaguinha e o maestro Arthur Verocai.

Em 1968, o pianista colocou à prova seu talento de compositor, pela primeira vez, no Festival Universitário da TV Tupi, ao defender a canção Até o Amanhecer, escrita em parceria com Waldemar Correia. No entanto, o reconhecimento de público veio, de fato, no ano seguinte, quando Elis Regina gravou, em primeira mão e com enorme sucesso, sua composição Madalena, coassinada com o parceiro regular Ronaldo Monteiro de Souza.

Ivan Lins, Agora…, estreia solo de pianista, foi lançado em 1970 pela gravadora Forma. O convite veio de Paulinho Tapajós, que assumiu a direção artística do cultuado selo criado pelo produtor Roberto Quartin (saiba mais), depois de ele ter vendido a Forma para a holandesa Philips. Além de incluir o carro-chefe Madalena, Ivan Lins, Agora… reuniu composições que evidenciavam a marca registrada da fase inaugural da carreira de Ivan: o cruzamento de gêneros brasileiros com a cadência dançante do soul e do funk norte-americano. Canções como O Amor é o Meu País, Salve, Salve, Corpo Folha e Tanauê ainda fazem do álbum objeto de culto por colecionadores brasileiros, americanos, europeus e japoneses.

Essa fusão de elementos, revelada em Agora…, teve acabamento requintado com os arranjos do amigo Arthur Verocai, orquestrador de outro grande momento da discografia do pianista, o álbum Modo Livre. Gravado em 1974, o quarto LP de Ivan foi registrado com uma banda homônima ao título do disco, formada por alguns dos maiores instrumentistas de nossa música popular, entre eles Wagner Tiso (piano), Robertinho Silva (bateria), Laércio de Freitas (piano), Márcio Montarroyos (trompete), Copinha (clarinete, flauta), Maurício Einhorn (gaita) e os cantores Miltinho e Aquiles, metade do MPB-4. Modo Livre também conta com a presença da cantora Lucinha Lins, mulher de Ivan, e marca o início da longeva parceria entre o compositor e o poeta Vitor Martins, autor das letras do mítico álbum de 1972 do maestro Arthur Verocai (conheça a história do disco e leia entrevista). 

Em 1975, o pianista gravou um novo álbum, com a banda Modo Livre completamente reformulada, mas, ainda assim, reunindo grandes músicos em uma sessão inspirada. Intitulado Chama Acesa, o quinto LP da discografia de Ivan foi gravado com o apoio de João Cortez (bateria, percussão), Fred Barbosa (contrabaixo), Gilson Peranzetta (piano elétrico, órgão e sintetizador) e Ricardo Ribeiro (flauta, saxofone).  O disco é o primeiro trabalho em que Ivan assina todos os arranjos e torna-se um músico completo – compositor, intérprete e orquestrador. Reputação que extrapolou as fronteiras do País e levou o artista nascido na Tijuca, bairro da zona Norte do Rio de Janeiro, a fazer grande sucesso no exterior. Dez anos mais após o lançamento de Chama Acesa, ele lançou nos Estados Unidos o selo Dinorah Music. Filiada à produtora do renomado maestro Quincy Jones, a gravadora fez despertar em artistas como Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald e George Benson o interesse pelo repertório de Ivan.

Para celebrar os 70 anos do compositor, a gravadora Kuarup acaba de relançar Modo Livre e Chama Acesa, em CD com áudio remasterizado e projeto gráfico original. Dois títulos representativos do período sombrio imposto pela ditadura no Brasil da primeira metade dos anos 1970, e dois registros marcantes na extensa discografia do pianista carioca, que já lançou mais de 30 trabalhos, o mais recente deles Inventário, de 2013, com releituras em italiano de alguns de seus maiores sucessos.

MAIS:
Ouça Deixa eu Dizer, canção de Modo Livre (letra de Ronaldo Monteiro de Souza), que fez sucesso na voz da cantora Cláudia um ano antes de ser lançada (ouça)   

Ouça Demônio de Guarda, parceria com Vitor Martins, oitava faixa de Chama Acesa (1975)


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