Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi conquistam o Prêmio Montblanc de la Culture

Alain Dos Santos, Manager Director Montblanc Brasil, e a cineasta Laís Bodanzky. Foto: Coil Lopes
Alain Dos Santos, Manager Director Montblanc Brasil, e a cineasta Laís Bodanzky. Foto: Coil Lopes

Os cineastas paulistanos Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi foram os grandes vencedores da primeira edição brasileira do Prêmio Montblanc de la Culture Arts Patronage. A distinção, também promovida em outros 15 países onde a marca alemã está presente, foi conferida à dupla pela trajetória de 20 anos do projeto Cine Mambembe. A cerimônia de entrega foi realizada na noite desta terça-feira (7) no Teatro Renaissance, em São Paulo.    

Criado em 2006, com o propósito de levar projeções gratuitas de cinema para comunidades sem acesso ao universo audiovisual, o Cine Mambembe nasceu na traseira de uma pick-up Saveiro, onde Laís e Luiz carregavam um projetor de 16mm, tela e equipamento de som. Inicialmente realizada em comunidades periféricas de São Paulo, a itinerância partiu para uma imersão de seis meses em municípios espalhados nos rincões do Norte e do Nordeste do País, experiência que resultou, em 1999, no premiado documentário Cine Mambembe – O Cinema Descobre o Brasil.    

Em 2004, a iniciativa foi vertida em um projeto mais ambicioso, intitulado Cine Tela Brasil, com o apoio, via Lei Rouanet, da concessionária de rodovias CCR. Hoje, o projeto já ultrapassa a marca de mais de 1,3 milhão de espectadores espalhados em 18 estados do País. Além disso, desde 2007 o Cine Tela Brasil também é responsável por oficinas de formação audiovisual que já resultaram na participação de mais de 1,5 mil jovens e na realização de mais de 400 curtas-metragens de temáticas as mais diversas.

Para possibilitar maior dedicação a seus projetos autorais, há dois anos Laís e Luiz transferiram a operação do Cine Tela Brasil para a dupla José Carlos e Edson. Colaboradores de longa data do projeto, eles hoje coordenam, todos os finais de semana, projeções cinematográficas em quatro diferentes regiões do País, por meio de uma complexa operação que envolve dez caminhões. Laís e Luiz, no entanto, mantém atividade fundamental ligada ao Cine Tela Brasil, a formação audiovisual à distância de jovens de todo o País, por meio de plataforma virtual do Instituto Buriti, entidade criada por eles em 2014.

Coautores, Laís na direção, Luiz no roteiro, de sucessos como Bicho de Sete Cabeças (2000) e Chega de Saudade (2008), eles agora atuam em duas novas produções, o longa-metragem de ficção Como Nossos Pais, repetindo a parceria, e o documentário Pajé, trabalho autoral de Luiz que está sendo rodado em Rondônia, motivo pelo qual o cineasta não pôde comparecer à premiação, que conferiu a dupla um cheque no valor de 15 mil euros e uma caneta da série especial Patronos da Arte que, neste ano, presta homenagem a mecenas Peggy Guggenheim (saiba mais).

O maestro João Carlos Martins, criador da Fundação Filarmônica Bachiana. Foto: Coil Lopes
O maestro João Carlos Martins, criador da Fundação Filarmônica Bachiana. Foto: Coil Lopes


Os outros dois finalistas do Prêmio Montblanc de la Culture foram o maestro João Carlos Martins, idealizador da Fundação Filârmonica Bachiana, que ao longo de dez anos de atividade já colaborou para a formação musical de mais de 6 mil jovens, e o empresário Bernardo Paz, criador do Instituto Inhotim, instituição que colocou a pequena cidade de Brumadinho, no interior de Minas Gerais, no mapa mundial das  artes contemporâneas.

Presente na cerimônia, Martins tocou ao piano, acompanhado de uma pequena orquestra de câmera formada por quatro músicos, duas peças curtas. A primeira delas, Ladies in Lavander, do compositor britânico Nigel Hess; a segunda, um dos temas do filme Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore. Ao final, uma surpresa que emocionou o público: depois de anunciar que faria “uma homenagem de São Paulo à Montblanc”, o maestro regeu uma versão camerística de Trem das Onze, o clássico de Adoniran Barbosa, e convocou a platéia a formar um coral para cantar as estrofes e o refrão da canção que é um dos símbolos da cidade.

Em viagem internacional, Bernardo Paz foi representado pelo ator Antonio Grassi, diretor executivo do Instituto Inhotim. Em seu depoimento, Grassi fez questão de prestar homenagem a um personagem fundamental para a criação do espaço. “Em nome de Bernardo Paz e de todos do Instituto Inhotim, quero agradecer a indicação, mas gostaria, também, de homenagear e agradecer uma pessoa muito especial na história do instituto, alguém que nos ajudou a construir o espaço e ajudou Bernardo a realizar esse projeto incrível, um artista maravilhoso, um brasileiro importante para a arte contemporânea, que se chama Tunga (o artista morreu no dia anterior à cerimônia, aos 64 anos, leia mais).”

O ator Antônio Grassi, diretor executivo do Instituto Inhotim. Foto: Coil Lopes
O ator Antônio Grassi, diretor executivo do Instituto Inhotim. Foto: Coil Lopes

Leia a seguir depoimentos de Alain Dos Santos, Manager Director Montblanc Brasil, e de Laís Bodanzky.                    

“É uma grande honra para nós da Montblanc termos trazido para o Brasil essa iniciativa que muito nos orgulha há 25 anos e que já acontece em 15 países. Hoje, estamos aqui reunidos para prestar homenagem aos brasileiros cujos esforços representam a possibilidade de tornar a cultura acessível a diferentes públicos. A contribuição da Montblanc visa estimular essas iniciativas e apoiá-las financeiramente para o seu desenvolvimento contínuo. Mesmo em momentos de dificuldades políticas e econômicas, temos sempre o dever de continuar incentivando aqueles que trabalham e contribuem com o desenvolvimento cultural de um país.”

Alain Dos Santos

“Nessa noite tão importante para a cultura brasileira, estou muito feliz de estar aqui ao lado de dois grandes projetos, e parabenizo a Montblanc pelos 25 anos do prêmio. Principalmente por ser este o primeiro ano da premiação no Brasil, é uma bela coincidência ter esse holofote em um momento em que o Ministério da Cultura só não desapareceu porque os artistas foram muito teimosos, ocuparam espaços e se colocaram. Acho importante explicar, por exemplo, que o Cine Tela Brasil existe há mais de dez anos e só começou a ter esse formato profissional depois que a gente conseguiu incentivo cultural através da Lei Rouanet. O projeto só atingiu números tão significativos de público, porque a gente teve a parceria de patrocinadores que utilizaram a lei e, por meio dela, possibilitaram que nós levássemos de graça a compreensão da importância do audiovisual no dia a dia das pessoas. Essa expressão é muito importante, porque é também uma expressão de poder. Nossa intenção com esse projeto foi também dar voz àqueles que não têm espaço para se manifestar. No momento em que estamos vivendo, fui para as ruas, participei de debates em ocupações e fiquei muito orgulhosa de encontrar pessoas que participaram das oficinas do Cine Tela Brasil, com suas câmeras, colocando seus depoimentos e suas idéias para frente. Vejo o quanto isso é importante, porque a grande mídia conta só uma parte da história, quando há muitos olhares e muitas histórias em nosso País. Todo mundo tem o direito de se expressar. Isso é democracia. O que é bonito na expressão cultural é que ela não diz o que é certo ou o que é errado. Nela, não existe uma única versão, elas são muitas e precisam coexistir para que a gente entenda quem somos nós. A ideia do Cine Mambembe e do Cine Tela Brasil é justamente incentivar as várias formas de expressão para que possamos aprender a ler e a respeitar essa diversidade.”

Laís Bodanzky

MAIS 

Conheça a história do Prêmio Montblanc de la Culture Arts Patronage e saiba mais detalhes sobre a edição brasileiro

 

  


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