Livro revela as várias histórias por trás das musas da MPB

Anna Julia Werneck, que inspirou o hit-chiclete dos Los Hermanos em 2000
Anna Julia Werneck, que inspirou o hit-chiclete dos Los Hermanos em 2000

Quem foi Amélia, a mulher do samba escrito há mais de 70 anos por Mário Lago e Ataulfo Alves? E a Lygia da canção de Tom Jobim? Preta Pretinha, dos Novos Baianos… Para responder a essas perguntas, a jornalista e escritora Rosane Queiroz mergulhou fundo nesse universo.

O resultado é o recém-lançado Musas e Músicas: a Mulher por trás da Canção, que reúne 33 mulheres reais, fictícias e fugazes – as que apareceram e sumiram, ou que existiram, mas já se foram. A busca por essas figuras começou há dez anos, quando Rosane era repórter de uma revista feminina.

 Nos últimos três, além de entrevistar os compositores, ela foi atrás das mulheres que inspiraram músicas famosas, como Ai, que Saudade da Amélia, Lygia, Preta Pretinha. “Para definir uma linha, decidi desvendar histórias de canções que têm como título um nome de mulher ou uma expressão que remete à figura feminina.”

Madalena, de Ivan Lins, por exemplo, se chama Vera Regina. Deu trabalho rastrear o paradeiro da moça, “uma ex-namorada do compositor Ronaldo Monteiro de Souza, letrista da canção”. Mas não foi em vão. Sabe-se agora que Vera Regina se casou, está bem e, segundo um recado, prefere continuar incógnita. Outras, no entanto, aceitaram o desafio e revelaram o que aconteceu antes, durante e depois do lançamento das músicas. Exceto Sozinha, de Peninha, que escreveu a canção inspirado na filha adolescente, Clariana Alves, todas as outras “foram, em algum momento, objeto de desejo ou de amor dos compositores”.

Há passagens engraçadas, como a situação em que Lygia Marina de Moraes (casada por 19 anos com o escritor Fernando Sabino) se envolveu com Tom Jobim, ao acompanhá-lo em uma entrevista com Clarice Lispector. A escritora teria ficado enciumada com isso. Há outras de rebeldia, como vivida por Marina Saad e Guttemberg Nery Guarabyra, que mantiveram um relacionamento, apesar da desaprovação dos pais da moça. Resultado: Dona. “O fato de Marina ser uma veterinária ganha sentido com a letra da música”, diz Rosane, ao salientar o refrão: “Oh, Dona/desses animais”.

Para Rosane, a história de Preta Pretinha foi a mais surpreendente. O romance entre Maria do Perpétuo Socorro Nogueira e Luiz Galvão, um dos Novos Baianos, leva à juventude do casal em Juazeiro, na Bahia, e Só! Só! Somente, Só refere-se a Socorro. Luiz Melodia foi além ao criar Pérola Negra para duas pessoas: a ex-namorada Marlene, cujo sobrenome ele não se lembra, e ao amigo Adilson, assassinado no Rio de Janeiro.

O livro traz ainda as musas que nunca existiram. “Elas são tão reais que fica difícil acreditar que não existiram, como Menina Veneno, de Ritchie, e Marina, de Dorival Caymmi.” E tem o inverso, quando a música influencia a vida. Foi assim com Sandra Rosa Madalena, de Sidney Magal. A mulher fictícia se materializou em várias depois do lançamento da música. “Magal conta que elas iam ao camarim com a carteira de identidade em mãos para provar que se chamam Sandra Rosa Madalena.” Garota de Ipanema, de Tom e Vinicius de Moraes, ficou de fora. A carioca Helô Pinheiro, de fato, dispensa mais apresentações. E Amélia?

“Um dia, quando ainda estava fazendo aquela reportagem que me levou a este livro, Mário Lago, me contou que é ‘toda pessoa apaixonada’.” Musas e Músicas é o segundo livro de Rosane. O de estreia chama-se Só, Dores e Delícias de Viver de Morar Sozinha (Editora Globo, 2004). Nele, a autora faz um retrato sensível e divertido de 24 mulheres que moram (ou moravam) sozinhas.


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