Primeiro africano e primeiro negro a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura (1986), Wole Soyinka prometeu se desfazer de seu green card, documento de permanência americano, caso Trump fosse eleito presidente dos Estados Unidos. A promessa, feita em meados de outubro, já foi cumprida, segundo o autor de Os Intérpretes.
O anúncio foi feito em entrevista para o canal sul-africano eNCA, durante uma conferência educacional na Universidade de Joanesburgo. “Eu o fiz. Eu me desvinculei. Eu fiz o que disse que iria fazer”, declarou o escritor, de 82 anos. A decisão foi tomada em protesto às políticas de imigração que Donald Trump disse que iria implantar quando chegasse ao poder.
Com a vitória do republicano, Soyinka não teve dúvidas de que seria o melhor que poderia fazer para mostrar sua insatisfação. Segundo ele, os africanos antes podiam se vangloriar de ter um descendente direto como presidente dos Estados Unidos, já que o pai de Obama era um economista queniano, e de repente alguém com discursos preconceituosos está disposto a reverter os ganhos que isso havia trazido para a diversidade. “Esse homem não percebe que está incentivando o fenômeno de assassinato a negros nos Estados Unidos?”, indagou e completou, referindo-se ao resultado das eleições: “O dano já está feito”.
O escritor foi para os Estados Unidos em 1994, exilando-se por vontade própria quando a Constituição democrática da Nigéria foi cancelada pela ditadura militar de Sani Abacha (1993-1998). É um ativista de causas políticas e sociais, sendo crítico de vários regimes autoritários que tomam conta do continente africano. Em 1967, durante a Guerra Civil da Nigéria, foi preso em uma solitária por tentar mediar a paz entre os lados em conflito.
Soyinka contou que cortou seu green card assim que negociou o embarque para participar da conferência na África do Sul. Fez isso porque, segundo ele, não tem como ficar em um ambiente no qual não consegue se sentir confortável. “Não faz sentido algum ficar em um lugar assim”, enfatizou.
Para ele, a sociedade americana está regredindo e isso se confirma com os aplausos às declarações racistas e xenofóbicas de Trump. Ele foi bastante criticado pelos próprios nigerianos em redes sociais quando comentou, antes das eleições, que faria isso. Assim que o resultado foi divulgado, muitas pessoas já faziam postagens ironizando sua partida. De acordo com eles, Soyinka estava desestimulando os imigrantes a irem para os EUA. “Em momento algum eu desencorajaria nigerianos ou qualquer um a adquirir um green card, mas eu já estou farto”, comentou. Em seu período em terras americanas, Soyinka lecionou em várias universidades, dentre elas Harvard, Yale e Nevada. “Eu voltei para o meu lugar”, finalizou.
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