O rock bem-humorado do Primos Distantes

Os músicos Juliano e Caio, do Primos Distantes. Foto: Divulgação
Juliano e Caio, do Primos Distantes. Foto: Divulgação

Dois caras tranquilos, até um pouco tímidos, fazendo música boa e bem-humorada. A menor banda da cidade, chamada Primos Distantes, é formada somente por Caio Costa (guitarra e teclado) e Juliano Costa (bateria e percussão), ambos de 24 anos, e acaba de lançar seu primeiro disco. Inteiro autoral e produzido pelo compositor e multi-instrumentista Rafael Castro, o álbum tem show de lançamento nesta terça-feira, dia 1º, no Sesc Pompeia, como parte do projeto Prata da Casa.

Apesar de o álbum ter sido todo gravado pelos dois e por Castro, no palco a dupla é acompanhada por Victor Chaves (bateria), Renato Medeiros (baixo) e Thales Othón (guitarra). “Os arranjos ao vivo são diferentes do disco e a dinâmica com a banda mudou bastante a pegada de algumas músicas. Os três são muito bons e acrescentam muito para o show”, diz Caio.

Com os dois músicos se revezando na voz – ou às vezes sobrepondo os timbres graves de Juliano com os mais agudos de Caio –, o disco mistura elementos de rock e música brasileira com uma levada pop, em arranjos cuidadosos e letras divertidas. Letras que falam dos medos e fracassos da vida “sem máscaras”, de forma bem-humorada sem ser superficial.

O encarte, com ilustrações de Andrício de Souza, reflete bem o espírito do disco, principalmente na imagem que traz os dois músicos apenas de cuecas e com cara de envergonhados. Talvez porque colocar um primeiro disco no mundo seja sempre como se sentir um pouco pelado. Mas se a timidez existe (e é até tema da faixa Silêncio), eles tiram de letra com humor e ironia: “A gente queria tocar pelado e vomitar sangue no palco, mas o nosso empresário não deixa. Por enquanto”. Veja abaixo o clipe da banda e leia a entrevista:

Brasileiros – Como e quando formaram a banda?
Juliano –
A gente sempre tocou junto. Estávamos parados há alguns anos após o fim de uma banda, mas continuávamos compondo. Começamos a conversar sobre uma banda nova, mas não sabíamos muito bem quem chamar pro projeto. Aí veio a ideia: por que não nós dois mesmo? Acho que isso foi em setembro de 2012.

Aliás, dupla ou banda? Ou tanto faz?
Juliano – Dupla é legal, né? Mas pode chamar de banda também. 

Bom, a pergunta que vocês devem estar cansados de responder… Se não é por um vínculo familiar, de onde vem o nome Primos Distantes?
Caio – Precisamos urgentemente inventar alguma história sobre isso, falar que  éramos primos e não sabíamos, ou que nos conhecemos no velório de um bisavô, mas não, é só porque temos o mesmo sobrenome…

E como chegaram no nome de Rafael Castro para produzir o disco? Tem a ver com uma sonoridade mais “roqueira” que vocês buscavam para o trabalho?
Caio – Quando decidimos gravar o disco, sabíamos que precisávamos de alguém pra produzir. Pensamos em alguns nomes, e quando veio a ideia do Rafael pareceu perfeito. Além de ser um artista incrível, já tinha gravado e produzido muitos discos sozinho.

E como foi o processo? Fazer arranjos, buscar timbres etc.
Caio – A busca foi bem experimental. Nunca tivemos a pretensão de soar mais rock, menos rock, mais retrô, mais moderno. Ficávamos os três tendo ideias e vendo quais timbres ficavam mais legais. Foi um processo muito bom.

Aliás, que músicos brasileiros ou estrangeiros vocês citariam como principais influências?
Juliano – Nossa, difícil dizer, até porque acho que as influências têm variado muito ao longo do tempo. Não sei muito bem de que forma as coisas que a gente escuta estão influenciando no que tocamos. Acho que ouvimos muitos artistas atuais. Coisa recente, tipo a St. Vincent, Tune Yards, Tame Impala. Mas às vezes você presta atenção em um timbre legal na Britney Spears e acha demais. Dos mais recentes do Brasil, a Tulipa Ruiz é certamente das minhas preferidas, sem falar no Rafael Castro, claro.
Caio – Na vida toda, muita coisa né? Das mais recentes, a St. Vincent é minha artista preferida, mas na verdade conheci depois de ter gravado o disco. Gosto muito do Cake também. Entre as bandas brasileiras mais novas, curto muito o Apanhador Só e a Karina Buhr, além desses que o Juliano falou.

O disco é todo permeado por letras bem-humoradas, às vezes de fazer rir mesmo. Mas isso não tira a seriedade do trabalho. Me parece que o humor surge como um caminho para falar de sentimentos e questões profundas também, não superficiais. Faz sentido?
Caio – Acho que é só reflexo de ver as coisas com bom humor, rir da desgraça. Não tentamos ser engraçados. É um pouco disso mesmo, eu acho. Tirar um sarro dos fracassos.

Já ouviram algum papo de que “música com humor não é tão séria”, ou algo assim?
Caio: Nosso disco é divertido. É uma proposta séria, as músicas são sinceras, mas acho que é divertido de ouvir. Se isso é motivo pra alguém não gostar, aí já não sei.

E sobre essa coisa do “fracasso”… o tema é recorrente nas letras. Por exemplo: “Ah! Eu preciso parar de cantar/ Todo mundo tentou me avisar/ Que eu tenho essa voz de dragão”; ou “Me achando genial/ Liguei de outro ramal/ Mas nada dela atender”; entre outras. Feliz é aquele que pode rir de si?
Juliano – Pode ser isso. Acho que uma certa insegurança nas letras também é uma afirmação de que está tudo bem. Mas não foi nada intencional. 

Essa pergunta fiz pro pessoal do coletivo Risco, que inclui oito novas bandas paulistanas, e acho que tem a ver com vocês também. Há alguns anos surgiu o termo “novos paulistas”, para se referir a uma geração de músicos que faziam basicamente música autoral e de modo independente (Tulipa Ruiz, Tiê, Tatá Aeroplano, Dudu Tsuda, Thiago Pethit etc). Não só pela idade, mas até pela sonoridade, me parece que vocês já são parte de uma outra geração de  músicos, com outras vivências, referências etc… Algo como “novíssimos paulistas”. Vocês concordam com isso? Existe uma nova cena?
Juliano – Acho que no modo de trabalhar existe uma unidade pelo contexto da época. O mercado musical está mudando muito rápido e o jeito de gravar e divulgar o trabalho, também. Talvez nesse sentido seja possível visualizar uma semelhança entre alguns grupos. E é muito legal que os músicos conversem entre si a respeito do modo de construir uma carreira. Mas em termos de sonoridade, timbres, arranjos, não sei dizer. É mais difícil juntar os artistas em grupos. E é bom que seja assim. Quanto mais diferente uma banda da outra, mais legal para quem toca e para quem escuta. 

De algum modo, essa geração anterior, que está já na casa dos 30 anos, abriu portas para vocês? Fez acreditarem que é arriscado, mas é possível fazer música independente e ter algum espaço?
Juliano – Muito. É animador ver que tem gente construindo uma carreira legal, com um bom alcance de público e de um jeito bacana.
Caio – Total. Talvez se essa galera não estivesse por aí, a gente nem tivesse gravado disco nenhum. Qualquer coisa, a culpa é deles! 

Serviço – Primos Distantes, lançamento do disco
Terça-feira, dia 1/7, às 21h
Sesc Pompeia (Rua Clélia, 93)
Entrada gratuita


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