Jornalista e guitarrista da Isca de Polícia, banda do saudoso Itamar Assumpção, e também do grupo que acompanha a cantora e compositora Tulipa Ruiz, sua filha, Luiz Chagas é colaborador assíduo da Brasileiros desde as primeiras edições, em 2007. Na revista, também assina há três anos a coluna Discos, em que recomenda, a cada mês, quatro bons lançamentos.
Chagas também é pai de Gustavo Ruiz, guitarrista como ele e produtor de todos os álbuns da irmã Tulipa. A seguir, nosso colunista revela os bastidores dos registros do álbum Dancê. Lançado oficialmente hoje, o novo trabalho reúne convidados como João Donato, Lanny Gordin, Kassin, Felipe e Manoel Cordeiro.
Dancê avec Tulipa
por Luiz Chagas
Cada um dos discos da Tulipa nasceu de um processo específico. Efêmera (2010), parceria com a YB, foi o registro das composições tocadas em um ano de turnê; já em Tudo Tanto (2012), as canções iam sendo trazidas diariamente durante os ensaios – caso de Dois cafés, que recebeu este nome porque a melodia surgiu no café da manhã e a letra no lanche da tarde, obra de Gustavo e sua irmã. Dancê (2015), patrocinado pela Natura como o anterior, teve um parto extremamente sofisticado.
No final do ano passado os dois irmãos passaram um tempo isolados em uma casa em Camburi, de onde voltaram com cerca de oito músicas. Depois do hiato de fim-começo de ano a banda, ou seja Tulipa, Gustavo, eu, o baixista Marcio Arantes, o baterista Caio Lopes e a produtora Heloisa Aydar, ficamos alojados em um sítio em Joaquim Egídio, perto de Campinas, onde nasceu Reclame.
Ficamos sem internet ou sinal de celular e só saímos uma vez em 15 dias para fazer um show em Salvador. Voltamos para SP, depois de passar o dia na piscina fazendo um clip fake para Proporcional, na quinta 29 de janeiro e na segunda, 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, entrávamos no Red Bull Station, um prédio recuperado da antiga Light, onde praticamente moramos todo o mês tendo como anfitrião o técnico Rodrigo Funai.
Nos três primeiros dias gravamos nada menos do que seis bases e nos dois dias restantes overdubs de guitarras. Valeu o sítio. Era fim de semana pré-carnavalesco e Tulipa voou no sábado para Recife onde cantou no bloco “Enquanto isso na Sala da Justiça” com a Nação Zumbi. Na manhã de domingo embarcou para São Paulo e às três horas subiu no trio elétrico do Acadêmicos do Baixo Augusta, do qual é madrinha. Sambou por seis horas. Na segunda, 9, almoçamos todos no Gato-que-ri do Largo do Arouche com João Donato, que chegou louco por uma massinha. Foi na sessão desse dia, do registro de Tafetá, que Donato e Tulipa surgiram com o nome Dancê.
Nos outros dias gravamos Virou com Manoel e Felipe Cordeiro – eu, Manoel e o cinegrafista Fred Siewerdt ficamos presos no elevador – a percussão de Stephane SanJuan e Oldboy, uma música nova, com parte do Metá Metá. Os metais foram gravados na semana do Carnaval e na seguinte, enquanto Kassin cuidava de Físico, no Rio, Lanny Gordin debulhou a guitarra em Expirou e Tulipa gravou as vozes que faltavam. O último dia ficou para o Metá Metá completo (Kiko, Juçara, Marcelo Thiago e Serginho). Gravamos live Algo maior.
No mais, outros 15 dias de mixagem no estúdio de Victor Rice, no 30° andar do Copan – período em que Tulipa decidiu o projeto gráfico com a Tereza Bettinardi – e mais um dia de masterização com o Fernando Sanches no estúdio El Rocha. E a partir daí ficamos torcendo para que todo mundo entre no Dancê a partir do show de lançamento no final de maio. Um disco gravado na Praça da Bandeira e mixado na Avenida Ipiranga. Parece coisa do Adoniran!
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