Ao retomar a linguagem pictórica a artista e gravadora Renina Katz (88) declara sua paixão pela aquarela, pelo processo criativo e o interesse pela paisagem, fruto das influências de quem nasceu no Rio de Janeiro. Radicada em São Paulo desde os anos 50, foi responsável por inaugurar o curso de gravuras do Masp e pela formação de gerações de gravadores pela FAUUSP, onde atuou também como desenhista e ilustradora.
Subvertendo a transparência típica das aquarelas e optando pela opacidade, Renina discute a relação de cores ao pintar poderosos vulcões em erupção. O calor que emana do laranja e do amarelo se contrapõe ao azul ao roxo e ao branco da paisagem em um processo de abstração no qual preocupou-se em respeitar a natureza das coisas – do papel, do pincel e das dimensões.
Além da técnica, é justamente a questão das dimensões que une os trabalhos da artista ao de Fernando Lemos (88), pintor e fotógrafo luso-brasileiro da terceira geração de modernistas portugueses: a mostra “Tamanhos” é uma discussão livre e aberta em que a curadora, Rosely Nakagawa, pensa os formatos (quadrados das aquarelas de Renina e retangulares das de Fernando) como “contenedores de energia”. Na parede da Galeria, palavras-chave, como “lembrança”, “segredo”,”memória” e “intimidade”, ajudam a desvendar a história sugerida pela disposição linear das obras.
Fernando Lemos compõe uma espécie de diário pessoal, formando um arquivo constituído de informações fragmentadas e devaneios rápidos sobre os mistérios da vida. A escolha pelo formato postal e o uso de palavras como complemento da linguagem se deve, segundo ele, ao poder de comunicação que um dia esses cartões tiveram, ainda que tenham sido substituidos pela tecnologia. Diante das erupções vulcânicas de Renina, o artista apresenta um registro do cotidiano e ao mesmo tempo do infinito, como sugere a frase de Fernando Pessoa que acompanha as aquarelas da gravadora: “Tudo que vemos é outra coisa” e nada é verdade absoluta.
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