Recuo de Temer sobre MinC demonstra a força da pressão popular

Os cineastas Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi
Os cineastas Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi. Foto: Divulgação / Buriti Filmes

 

Em entrevista à Brasileiros realizada nesta terça-feira (24) em São Paulo, os cineastas Laís Bodanzki e Luiz Bolognesi falaram sobre o recuo do presidente interino Michel Temer, que, após pressão popular e da classe artística, decidiu devolver o status de ministério à pasta da Cultura, agora comandada por Marcelo Calero, ex-secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro.

Laís e Bolognesi, que, em 2000, lançaram o premiado Bicho de Sete Cabeças, dirigido por ela e roteirizado por ele, além de conduzirem suas carreiras artísticas, estiveram ao longo de 18 anos (entre 1996 e 2014) à frente dos projetos Cine Mambembe e Cine-Tela Brasil, responsáveis por levar projeções gratuitas de curtas e longas-metragens para mais de 1,3 milhão de brasileiros de 18 estados e realizar oficinas de cinema que culminaram na produção de mais de 400 filmes criados por adolescentes e jovens de diversas regiões do País. Para eles, o recuo de Temer tem o valor simbólico de reafirmar o poder da pressão popular em um ambiente democrático fragilizado pela crise política.

Realizada na sede da Buriti Filmes, produtora do casal, a conversa resultará em reportagem que será publicada na edição de junho de Brasileiros, sobre os 20 anos da criação do Cine Mambembe, iniciativa que é finalista da primeira edição brasileira do Prêmio Montblanc de la Culture Arts Patronage (saiba mais).

A seguir, leia os depoimentos dos cineastas.                

“Temos de tirar aprendizado de tudo que estamos vivendo. Quando, com uma canetada, Temer deu fim ao Ministério da Cultura, a classe artística acordou e percebeu que queriam apagar sua voz. Se algum dia houver a pretensão de juntar o MinC ao Ministério da Educação, isso terá de ser feito com um planejamento gigante. As conquistas, não só na área cultural, mas na Saúde, na Educação, precisam ser ampliadas e não podem ser interrompidas com uma canetada. É preciso transformar com consciência, e estamos unidos. O cinema é muito forte, tem o suporte da Ancine (a Agência Nacional de Cinema) e sempre foi um meio politizado e articulado, porque, não fosse assim, ele não existiria. Mas todas as outras artes juntaram forças e deixaram o recado: ‘Não vai ser tão simples assim’. Essas reações vão ter reflexos. Daqui a pouco veremos os desdobramentos do que está acontecendo na literatura, na música, no teatro, no cinema e nas artes do País. Estamos vendo apenas a ponta do iceberg.”
Laís Bodanzky

“Do ponto de vista econômico de um país, a indústria cultural é muito importante. Essas pessoas que falam contra a Cultura, mal informadas e com ódio, não levam em consideração, por exemplo, que o segundo item de exportação da balança comercial americana é o cinema – o primeiro são as armas, a indústria bélica. Nos últimos anos, o Brasil vem se tornando um player mundial na área do entretenimento. Hoje, somos a 10ª maior economia de audiovisual do mundo. E vínhamos em um crescimento que apontava para, em poucos anos, estarmos entre os cinco maiores produtores de TV e cinema. É uma indústria que emprega muita gente. Segundo dados da Ancine, mais de cem mil pessoas atuam na área do cinema. Segundo o BNDES, em âmbito geral a cultura gera mais de 800 mil empregos. Mas, sobretudo, é preciso lembrar que a cultura é o lugar em que se desenvolve a criatividade de um povo. Uma economia que não valoriza a criatividade vai ser eternamente pobre. Quando tiramos a cultura da nossa vida, viramos homens-mercadoria, como aqueles operários chineses que trabalham 18 horas por dia e tem cinco dias de férias ao ano.”
Luiz Bolognesi 


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