“Revascularização” do Hospital Matarazzo

O antigo hospital visto de cima/ Foto: Cristiano Mascaro/ Divulgação
O antigo hospital visto de cima/ Foto: Cristiano Mascaro/ Divulgação

Uma verdadeira invasão criativa, como explica o curador Marc Pottier, ou uma revascularização dos espaços, para usar termo “apropriado” ao local, vai transformar completamente a cara do antigo Hospital Umberto Primo – conhecido pelo nome da família que o construiu, Matarazzo – durante os meses de setembro e outubro. Com trabalhos de quase cem destacados artistas brasileiros e estrangeiros, a megamostra Made By… Feito por Brasileiros ocupará corredores, pavilhões, jardins, e outras partes de um dos mais tradicionais hospitais de São Paulo, desativado há cerca de 20 anos e atualmente em péssimo estado de conservação. Ao todo, oito dos 27 mil m2 do local, situado na Bela Vista a poucas quadras da Avenida Paulista, serão tomados por instalações, vídeos, pinturas, esculturas, obras sonoras, etc. A montagem já está quase pronta (veja fotos na galeria abaixo) e a abertura acontece no dia 9.

A mostra, que deve dar início a um projeto maior de revitalização do espaço – abandonado em 1993 após quase um século de funcionamento e comprado em 2011 pelo grupo francês Allard –, reune os brasileiros Cildo Meireles, Beatriz Milhazes, Iran do Espírito Santo, Lia Chaia, Tunga, Vik Muniz, Paulo Nazareth, Nuno Ramos, Artur Lescher e Rivane Neuenschwander, e os estrangeiros Adel Abdessemed, Joana Vasconcelos, Kenny Scharf e Nick Cave. A maior parte criou obras especialmente para a exposição, já que a ideia é ter uma mostra totalmente integrada ao espírito do lugar. As exceções são alguns artistas já falecidos, como Lygia Clark (1920-1988) e Francesca Woodman (1958-1981). “Escolhi os artistas pela capacidade de respeitar o universo poético e de fazer obras em função de uma arquitetura como a do Matarazzo”, diz Pottier.

O hospital teve seu primeiro pavilhão edificado em 1904, seguido por outras construções nas décadas seguintes. O espírito do local a que se refere o curador tem a ver mais com as características desse conjunto arquitetônico esvaziado, tombado pelo Patrimônio Histórico, do que com o clima de um hospital. “Os prédios são falantes, têm um astral bem particular. E se têm algumas obras mais espetaculares, em geral estamos tentando respeitar o silêncio do lugar, com trabalhos bem poéticos”, diz ele, citando como exemplo a obra feita por Cinthia Marcelle apenas com a poeira acumulada ao longo dos anos. Além disso, ressalta: “Não estamos trabalhando muito sobre esse aspecto do hospital como sofrimento. A perspectiva é mais positiva”. Até porque o hospital não é apenas local de doença e morte, afirma Pottier, mas também de cura e vida. Durante a produção da mostra, inclusive, o curador descobriu que dois dos artistas convidados, Carlito Carvalhosa e Dora Longo Bahia, nasceram na maternidade do Matarazzo.

A convite de Alexandre Allard, proprietário do terreno do hospital e um apaixonado pelas artes plásticas, Pottier passou dois anos pesquisando a arte brasileira para escrever um livro para a série Made By, que já retratou as cenas contemporâneas de China, Índia e Tailândia, entre outras. No número brasileiro, que será lançado também em setembro, estão cem artistas do País, mas poderiam estar muitos mais, segundo Pottier. “Para fazer uma seleção, você tem de chorar todo dia, porque existem tantos talentos no Brasil que poderia ser um livro com centenas de artistas.” Por isso mesmo, a ideia da mostra, que surgiu baseada na pesquisa do livro, foi trazer outros nomes que não entraram na publicação, além de estrangeiros. “Para mostrar que não é um livro fechado”, diz Pottier.

Ainda não totalmente definido, o futuro do hospital após a mostra gera grandes expectativas para a cidade, já que pode se tornar um espaço vital na vida cultural e econômica de São Paulo. Um projeto, comandado pelos estrelados Philippe Starck, designer, e Jean Nouvel, arquiteto, segue em processo de aprovação e deve transformar o hospital na Cidade Matarazzo – com foco principal em empreendimentos comerciais – até 2018. Em mais detalhes, o grupo Allard já anunciou para um futuro próximo a criação, em área de 3 mil m2, do Centro de Criatividade. O local,  que será parte da Cidade Matarazzo, abrigará espaços para exposições, cinemas, estúdios para produção de música, arte, moda e culinária, focados basicamente na cultura brasileira. Fica a expectativa, para a população, de que a mostra Made By… Feito por Brasileiros seja, de fato, apenas o início da revascularização do antigo hospital.


Serviço – 
Made By… Feito por Brasileiros
Alameda Rio Claro, 190 – São Paulo
De 9 de setembro até 12 de outubro

 


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