A Fundação Casa de Rui Barbosa, em Botafogo, no Rio de Janeiro, terá o primeiro jardim histórico do País nos moldes da Carta de Florença, da Organização das Nações Unidas para Educação e Cultura (Unesco). A cerimônia do lançamento do projeto ocorreu nesta sexta-feira (27), na presença do ministro da Cultura, Juca Ferreira, e coincidiu com a apresentação da nova presidenta da casa, Bia Calabre, historiadora e servidora da fundação. Vinculada ao Ministério da Cultura, a fundação dedica-se à preservação e à pesquisa da memória da sociedade brasileira, por meio de cursos, acervo e estudos.
De acordo com a diretora do Centro de Memória e Informação do local, Ana Pessoa, em fevereiro de 2016 deve estar concluída a restauração do jardim em que viveu a personalidade histórica Rui Barbosa – jurista, político, escritor e personagem importante na consolidação da República no Brasil.
“Essa dimensão da natureza, do homem e da história são os elementos que envolvem a nossa batalha por esse jardim histórico. Um projeto dessa natureza envolve história, arqueologia, arquitetura, restauro de elementos ornamentais integrados, drenagem, paisagismo, irrigação, impermeabilização, iluminação, sinalização, mobiliário, instalações, acessibilidade. É de grande complexidade”, completou ao informar que a restauração da fachada do museu deve ocorrer logo depois de terminado o jardim.
A área da casa e do jardim, de 6,2 mil metros quadrados, é um dos poucos espaços verdes no bairro de Botafogo, e por esse motivo muito frequentado pelos moradores. Uma das novidades do projeto é o novo sistema de iluminação e sinalização, que possibilitará atividades e visitação noturna ao jardim.
Todo o processo de revitalização e restauro será documentado em vídeo e fotos, e o resultado será um livro. “Uma reforma dessa magnitude é um processo muito raro no Brasil. Por isso, é fundamental que esse processo seja didaticamente documentado para que seja compartilhado e difundido para outros gestores de jardins históricos”, declarou Ana Pessoa. Segundo levantamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Rio de Janeiro possui 40 jardins históricos.
O ministro Juca Ferreira ressaltou a importância da fundação na construção de políticas, nas artes e fortalecimento da cultura republicana na sociedade brasileira, que segundo ele ainda não foi totalmente instalada no país. “O Brasil ainda tem pessoas mais iguais do que outras, onde as instituições não funcionam completamente, e a população às vezes se perde e chama de ‘eles’ esse emaranhado todo de instituições”, declarou. “Aqui é um locus importante, considerando a figura de Rui Barbosa e sua importância para a transição institucional do Império para a República”, comentou.
A revitalização e restauração do jardim está orçada em R$ 5,6 milhões. Do total, aproximadamente R$ 1,2 milhão são recursos do Fundo Nacional de Cultura e R$ 3,6 milhões patrocinados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O restante será captado conforme Lei Rouanet e autorização do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac). A Fundação Darcy Ribeiro é parceira do projeto e vai ajudar a administrar os recursos.
A casa começou a ser construída em 1850. Em 1893, Rui Barbosa e sua família se mudaram para o local, onde ele viveu até morrer, em 1923. Em 1930, a casa transformou-se em museu, durante o mandato do então presidente Washington Luiz, um de seus últimos atos antes da Revolução de 1930. Na época, o presidente plantou um Pau Brasil no jardim, ainda de pé.
A nova diretora, Bia Calabre, aproveitou a ocasião para agradecer ao ministro ter permitido que sua nomeação tivesse sido indicada inteiramente pelos servidores da casa. “Isso é inédito no ministério, na fundação, mas era uma demanda muito grande nossa, de sermos ouvidos. Estávamos muito preocupados de termos sempre pessoas de fora, que não compreendiam exatamente as finalidades, a delicadeza das relações e a produção da pesquisa que acontece em um tempo diferente da política”, disse ela.
As prioridades para os próximos quatro anos de gestão, segundo ela, são fortalecer o diálogo dentro da instituição e facilitar as produções da casa à população. “Produzimos muito, mas somos poucos lidos, ou lidos mais pelos pares e especialistas. A ideia é fazer fluir essa produção de conhecimento para muito além dos muros da fundação”.
As pesquisas da fundação abrangem desde história, política cultural, direito constitucional à museologia, preservação de arquivo e arquitetura, entre outros.
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