Show de Ester Rada levanta o público no Sesc Pompeia

A cantora Ester Rada no teatro do Sesc Pompéia - Foto: Daniel Benevides
A cantora Ester Rada se apresenta no teatro do Sesc Pompeia – Foto: Daniel Benevides

A voz de Ester Rada impressiona. Faz o difícil parecer fácil. Bastou ela abrir a boca no teatro do Sesc Pompeia nessa quinta, para que o público do festival Jazz na Fábrica percebesse que estava diante de uma artista especial.

Magra e longilínea, com cabelos rasta presos no coque, vestindo um conjunto vermelho vivo, a cantora e atriz israelense de origem etíope comandou sua banda com energia e precisão e conquistou o público com a dinâmica surpreendente de sua música.

Com apenas um EP e um álbum na praça, o homônimo Ester Rada, de 2014, ela ainda não é muito conhecida por aqui, mas já faz algum sucesso no Oriente Médio e Europa. Mesmo assim, e mesmo cantando em grande parte músicas que ainda serão lançadas no disco novo, ela soube prender a atenção a cada segundo de sua apresentação.

Parte da graça está nela mesma, claro, com sua dança peculiar, no limite do desengonçado, seus apelos para a participação do público, com palmas e coros, sempre em tom alegre e bem-humorado, e a maleabilidade incrível de sua voz, que faz piruetas no ar, indo do mais grave ao mais agudo, do mais suave ao mais enérgico sem escalas. Incomoda um pouco a semelhança com Erykah Badu, a despeito da enorme capacidade técnica. Mas isso ela compensa enormemente com a qualidade das canções e a curiosa relação que estabeleceu com a banda.

Pois ainda que se possa classificar seu estilo dentro do chamado neosoul, com pequenas doses de hip hop e jazz etíope, a banda traz elementos menos óbvios, que funcionam bem no contraste com a cantora. Na maior parte do show, dois tecladistas (um deles, Daniel Sapir, também um saltitante baixista – o outro é o excelente Jonathan Lewin, capaz de emular Stevie Wonder ao órgão sem fazer feio) fazem uma cama eletrônica que por vezes faz pensar numa new wave psicodélica. Em contraponto, o baterista (o impressionante Dan Mayo) usa todos os recursos de que dispõe para a um só tempo quebrar e marcar o ritmo – se é que isso é possível. Tudo é bastante sincopado, com breques bruscos, mudanças súbitas de andamento, surpresas aqui e ali. E ainda há um saxofonista e flautista que também toca percussão (Gal Dahan), criando uma ambiência “exótica” – não um pastiche, mas uma homenagem ao jazz de Mulatu Astakte.

O resultado é, em linhas gerais, uma fusão criativa do bom jazz israelense, que costuma lançar mão de sonoridades do entorno asiático, com riqueza de texturas, ritmos e melodias secundárias e uma Black music refinada, que se traduz no uso sutil da voz e na divisão inventiva das letras.

Dois foram os pontos altos: quando ela cantou seu maior hit, Life Happens, e uma das canções finais em que três dos músicos tocaram juntos percussão, promovendo uma quebradeira tribal que vai certamente ecoar por muito tempo na memória de quem estava lá.


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