Na próxima terça-feira, 15 de outubro, o músico nigeriano Fela Anikulapo Kuti, criador do gênero afrobeat, que funde elementos de jazz, soul e funk à ritmos africanos, completaria 75 anos. Vitimado pela AIDS, Fela morreu em 2 de agosto de 1997. Em São Paulo desde 2007 é realizada a Festa Fela (conhecida em outras capitais mundiais como Fela Day), uma grande celebração ao legado do multi-instrumentista, que além da extensa e importante obra musical, foi também um destemido defensor dos direitos humanos, e um dos mais importantes ativistas políticos do continente africano entre as décadas de 1970 e 90.
Amado pelo povo nigeriano, odiado pelos militares que comandavam o país, em 1970, após ser deportado dos Estados Unidos com sua banda Nigeria 70, Fela voltou para a Nigéria e fundou, na capital, Lagos, a República Kalakuta, uma comuna composta por sua extensa trupe de músicos, familiares destes e dezenas de amigos. Na república independente havia também uma clínica médica gratuita, um estúdio de gravação, no qual Fela registrou inúmeros álbuns e compactos com sua big-band, que passou a se chamar Africa 70, e também uma boate, Afro-Spot, onde ele regularmente se apresentava, mas também abria espaço para outros músicos.
Opositor incisivo do regime militar instaurado na Nigéria com o Golpe de Estado de janeiro de 1966, Fela desafiou sucessivos generais e juntas militares até dezembro de 1977. Com o sucesso da música que deu título ao álbum Zombie, na qual comparava soldados do exército nigeriano a zumbis condicionados a viver sob ordens, o presidente-general Oluisegun Obasanjo ordenou um golpe dos mais cruéis em retaliação a nova provocação do músico. Mais de mil soldados invadiram a comuna, expulsaram moradores, destruíram parte das construções da República Kalakuta, prenderam Fela e, não bastasse, cometeram uma verdadeira atrocidade à sua mãe, a professora Funmikayo Ransome-Kuti. Uma das principais lideranças feministas da Nigéria, Funmikayo nasceu em berço aristocrático, era extremamente progressista e foi, inclusive, a primeira mulher no país a dirigir um automóvel. Arremessada da janela do segundo andar da casa de Fela, ela entrou em coma e morreu dois meses mais tarde em 13 de fevereiro de 1978, aos 77 anos, em consequência do atentado.
Em 2011 Brasileiros publicou entrevista com o escritor cubano Carlos Moore, autor da biografia Fela Esta Vida Puta (leia)
A sétima edição da Festa Fela, que anualmente recebe um público flututante de mais de mil pessoas, promete celebrar em grande estilo os 75 anos do nigeriano. Além do show da big-band paulistana Bixiga 70 – que foi criada especialmente para tocar na festa de 2010, criou seu próprio repertório, e acaba de voltar de uma bem-sucedida turnê europeia –, será oficialmente lançado o primeiro álbum de Fela produzido no Brasil. A iniciativa é do selo Goma Gringa. Criada pelos franceses Frederic Thiphagne, fotógrafo, e Matthieu Hebrard, músico, a gravadora também faz sua estreia com o lançamento do emblemático Sorrow, Tears and Blood, de 1971. A edição brasileira do LP traz duas exclusividades: um pôster encartado e uma versão estendida da faixa que dá título ao álbum, com 16 minutos, seis a mais do que a original. No repertório do Bixiga 70, lógico, não faltarão clássicos do nigeriano, mas o público poderá também conferir temas incluídos no recém-lançado segundo álbum da big-band – homônimo e tão festejado como o primeiro.
Além dos shows, haverá também discotecagem a cargo de Frederic, Ramiro Z, do coletivo Radiola Urbana, Vini Morison, Tiago Z e da DJ e artista plástica Haru, que vai expor algumas de suas obras. Também estarão exibidos instrumentos construídos nas oficinas do Instituto Tambor, serão realizadas projeções do grupo Mustaxes, live painting do artista Alexandre Neto, e estarão a venda roupas e acessórios das marcas Iyá Iyá e Preta Rainha.
Festa Fela VII
Centro Cultural Rio Verde – Rua Belmiro Braga, 181 – Vila Madalena – São Paulo – SP
A partir das 23h
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