Sylvia Bandeira brilha como Marlene Dietrich

Em um certo momento de Marlene Dietrich – As Pernas do Século, o personagem que provoca uma passada a limpo na história da protagonista faz uma comparação entre ela e Madonna. Marlene, na peça escrita por Aimar Labaki, tem 90 anos e estava há quase duas décadas sem atuar. E Madonna era a Lady Gaga daquela época, provocadora, libertária, atrevida. O que o interlocutor descobre logo no início da conversa com a maior estrela de cinema alemão de todos os tempos é que ela já foi tudo isso no início do século 20.

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O espetáculo que está em cartaz em São Paulo, e traz Sylvia Bandeira no melhor papel de sua carreira, tem a missão de jogar luz nesse mito, desconhecido para uma multidão e ainda vivo na memória de outros tantos. Marlene nunca foi conhecida como atriz estupenda, fez somente 17 filmes, e como cantora era apenas mediana, mas sua personalidade fulgurante estava acima de qualquer restrição técnica. Entrava em cena, e tudo ao seu redor diminuía de tamanho. Ela já foi um dos grandes salários de Hollywood, relacionou-se com homens e mulheres,  manteve-se casada com um mesmo homem por décadas e mesmo entre continentes, e se posicionou firmemente contra os nazistas que tomaram o poder em seu país.

Aliás, essa sua postura lhe custou muito. Em 1932, a mando de Hitler, recebeu várias propostas para trabalhar para o Terceiro Reich. Recusou todas as investidas e os nazistas a acusaram de estar “infectada” pela propaganda ianque. Passou, então, 13 anos sem pisar em sua nação – ela se naturalizou americana.  Mais que isso:  engajou-se na guerra, deu um tempo no cinema, e foi para o front cantar e atuar para os Aliados. Chegou a dormir em ruínas cheias de ratos e fez shows em caminhões. Com o fim da guerra, voltou a Nova York e focou sua carreira no canto. A represália não demorou a acontecer. Em sua primeira turnê alemã, foi recebida com vaias, ovos e tomates. Partiu, assim, seu último vínculo com suas raízes.

O espetáculo dirigido por William Pereira pincela trechos dessa rica biografia, o que é sempre uma opção de risco: acerta quando ressalva o humor ácido e corajoso da personagem. Montado em formato de musical de cabaré – com músicos em cena -, perpassa algumas das  canções que foram importalizadas em sua voz, como Where Have All the Flowers Gone, de Pete Seeger, Falling in Love Again, do filme O Anjo Azul, Lili Marlene, de Hans Lipe, e The Laziest Gal in Town, de Cole Porter. A ideia é adequada, mas o resultado é irregular. Chega a emocionar em algumas passagens, mas o mérito é quase inteiramente da protagonista, que canta perfeitamente em inglês, francês e alemão. A saber: Sylvia Bandeira, 62 anos, é filha de diplomatas, nasceu em Genebra, na Suíça, e morou em vários países do mundo até voltar ao Brasil, quando fez 18 anos. Seu melhor número: Lili Marlene. Se você gosta de música de qualidade, é ótima pedida.

Serviço

O que: Marlene Dietrich – As Pernas do Século

Onde:  Teatro Nair Bello (Shopping Frei Caneca – Rua Frei Caneca, 569 – 3° andar, São Paulo, tel.: 11.3472.2414)

Quando: Sexta, 21h30; sábado, 21h; domingo, 18h

Quanto: R$ 60



Comentários

Uma resposta para “Sylvia Bandeira brilha como Marlene Dietrich”

  1. Avatar de Tânia Loureiro
    Tânia Loureiro

    Assisti três vezes no Rio de Janeiro. O espetálo e MARAVILHOSO e a Sylvia Bandeira (plagiando Bibi Ferreira), está SOBERBA.

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