A discrição de Alexandre Tombini

Alexandre Tombini. Foto: Divulgação
Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini – Foto: Divulgação/BC

Ter o respeito do mercado financeiro, do governo e de economistas ortodoxos e heterodoxos parece uma missão impossível. Mas não é. Foi bem quietinho que o introvertido gaúcho de Porto Alegre, Alexandre Tombini, conseguiu se segurar na equipe econômica da presidenta Dilma Rousseff. Sobreviveu, agora com a companhia de nomes muito mais alinhados ao mercado: Joaquim Levy e Nelson Barbosa, nos ministérios da Fazenda e do Planejamento, respectivamente.

Com uma postura mais silenciosa do que a usual para um presidente de Banco Central, o economista tentou, em um ambiente bastante desafiador, manter a “estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente”, como manda o lema da autarquia que comanda. E, diferentemente do que viveu seu antecessor, Henrique Meirelles, em 2008, com as oscilações cavalares dos mercados e uma onda inédita de desconfiança na maior crise financeira internacional desde a Grande Depressão de 1929, as forças contrárias ao controle da inflação e do sistema financeiro vieram do seu próprio governo.

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Os preços ameaçaram sair do controle, ao extrapolar o teto da meta de 6,5% (IPCA) ao ano. A saída natural foi retornar a taxa Selic para 11,25% ao ano, o mesmo nível recebido por ele de Meirelles no início de 2011, depois de ter alcançado o menor juro nominal da história do BC, de 7,25%. O cenário foi  negativo aos olhos dos economistas heterodoxos. O superávit primário do setor público recuou de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, para 0,6% em setembro de 2014. Segundo as estimativas de Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco, a estimativa de primário recorrente, que exclui as receitas e despesas não recorrentes, passou de 2,7% do PIB, em 2011, para -0,5% neste ano.

Agora, nomes vistos como ortodoxos tomaram o controle das rédeas da economia nacional. Tombini continua no BC sem protestos de nenhum lado, ambiente bastante diferente de quando o Ph.D. em Economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, foi apresentado para o impaciente mercado financeiro brasileiro em 2011. A visão era de que ele seria um “pau mandado” das decisões econômicas baixadas pelo Ministério da Fazenda e por Dilma. 

Economista há 30 anos e com participações no governo brasileiro desde 1992, Tombini foi uma escolha técnica e acadêmica. Ao contrário dos seus predecessores, não tem em seu currículo nenhum empregador no mercado financeiro e nunca almejou tal status. Em sua chegada ao topo do BC, declarou ter alcançado o “ápice de uma aspiração pessoal”. Na ocasião de sua posse, investidores e economistas de mercado duvidaram da real independência do BC a partir daquele ponto.

“Não há fortes críticas a ele, e sim a Guido Mantega, que sairá para dar lugar a um nome vindo diretamente do sistema financeiro, o Joaquim Levy”, ressalta, Eric Gil, economista do Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE). “Talvez a discrição do atual presidente do BC venha de sua origem interna no banco; ele é um burocrata de carreira da instituição e nunca foi um economista badalado – apesar de ter assumido cargo no FMI –, tal como Henrique Meirelles, Gustavo Franco ou mesmo se comparado a outro burocrata, o Gustavo Loyola”, completa Gil.  

A alternativa encontrada por ele para sobreviver em um ambiente desafiador foi justamente a de se manter em silêncio. “Lembro de participar de vários eventos com o Meirelles — bastante discreto —, mas o Tombini certamente ganha dele nesse particular”, avalia Raul Velloso, doutor em Economia pela Universidade Yale (Estados Unidos) e ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento durante o governo José Sarney.

Para Eduardo Raposo, doutor e mestre em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e coordenador da pesquisa “O Banco Central do Brasil”, o silêncio de Tombini foi providencial. “De maneira geral, os governos desenvolvimentistas deixam uma autonomia muito menor para o BC, que fica simplesmente com a função de disponibilizar os recursos para o crescimento.”

Embora os integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT) argumentem que será Dilma a comandante da nau econômica, é fato que os novos membros definirão o futuro da economia brasileira. Eles têm o apoio tanto da presidenta, quanto do ex-presidente Lula.

“Os nomes de Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini representam pilares de credibilidade, cada qual em sua área. Eles se complementam e dão unidade de ação a um governo que almeja o controle da inflação, a austeridade fiscal e a elaboração de um conjunto de reformas estruturais modernizadoras”, disse Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente executivo do Bradesco, ao comentar a nova equipe de Dilma.

O triunvirato econômico deixa Tombini com muito mais espaço para sair da sombra dos ministérios da Fazenda e do Planejamento. O BC será o principal aliado de Levy e Barbosa para recolocar a economia nos trilhos. E ele deixou isso muito claro no encerramento do seu discurso de posse no dia 27 de novembro. “Atuando de forma independente, mas complementar, as políticas fiscal e monetária, em ambiente de estabilidade e solidez do Sistema Financeiro Nacional, certamente serão cruciais para a retomada da confiança de empresários e consumidores na economia brasileira.” O tom mais firme das suas palavras já foi o suficiente para que os economistas do mercado passassem a projetar a aceleração das elevações dos juros e o fim das fortes intervenções no mercado de câmbio.

É a chance de ouro para Tombini mostrar que sabe o que está fazendo. “Caso realmente aconteça esse ajuste, ele vai se tornar o protagonista do segundo mandato [de Dilma]”, aponta Raposo.

 


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