Uma avaliação realizada pelo Banco Mundial no Brasil mostrou que a educação financeira pode trazer bons resultados se os alunos forem ensinados desde cedo. O estudo foi feito com base num projeto piloto aplicado ao longo do ano letivo de 2015, que engajou 427 professores e, por meio deles, 18 mil alunos do ensino fundamental no tema educação financeira.
Para a realização do programa, a Associação de Educação Financeira do Brasil desenvolveu e distribuiu material didático-pedagógico para professores e alunos e promoveu o treinamento de supervisores das unidades regionais e professores para aplicar o conteúdo em sala de aula.
“Os resultados apontam que o treinamento e o material didático inseriram o tema educação financeira em sala de aula de forma adequada e efetiva, e permitiram aos alunos do segundo ciclo do ensino fundamental conquistar conhecimento técnico sobre o assunto. Além disso, verificamos mudanças em atitudes destes alunos em relação a finanças. Esse resultado apareceu mais fortemente entre os estudantes do primeiro ciclo do ensino fundamental e do 7º ano”, disse Caio Piza, economista do Banco Mundial.
O estudo do Banco Mundial mostrou que “os alunos do 5º, 7º e 9 º anos do ensino fundamental que tiveram acesso ao programa de educação financeira da AEF-Brasil melhoraram positivamente sua atitude financeira. Alunos do 7º e do 9º ano, por exemplo, ampliaram seu conhecimento sobre o tema, com aumento no conhecimento por parte destes alunos de cerca de 2%”, diz Piza. Os conhecimentos também foram dados aos alunos do 3º ano (9 anos), mas os resultados do teste não foram considerados porque as respostas foram dadas pelos pais devido à baixa idade das crianças.
Segundo o economista, o projeto focado em crianças de 6 a 14 anos é uma das poucas experiências em nível mundial que mostrou efeito positivo e estatisticamente significativo em proficiência em educação financeira. Para a avaliação de impacto, o Banco Mundial analisou o aprendizado e as atitudes em relação a finanças de grupos que participaram do piloto (grupo de tratamento) e de alunos que não tomaram parte do projeto (grupo de controle).
Para analisar o impacto da educação financeira, os estudantes precisavam concordar ou discordar de algumas afirmações. Os alunos do 5º ano (11 anos) e do 7º ano (13 anos) tiveram os maiores progressos. O grupo que recebeu princípios de educação financeira discordou mais da pergunta “não vejo problema em ficar devendo dinheiro” do que os estudantes do grupo de controle, que recebeu material didático tradicional.
O estudo mostrou que os adolescentes do nono ano do ensino fundamental são mais afetados por propagandas que estimulam o consumo do que os estudantes de anos inferiores. No que diz respeito ao percentual de alunos que acham importante guardar dinheiro para enfrentar problemas no futuro, por exemplo, a diferença entre o grupo de controle e o de tratamento foi a menor encontrada: 38% ante 37%. No quinto ano, a diferença foi de 47% a 43%, e, no sétimo ano, de 41% a 38%. “Os alunos do nono ano, por serem mais velhos [15 anos], já estão expostos a esse bombardeio diário pró-endividamento, de compras a prazo e cartão de crédito”, explicou Piza.
A análise do Banco Mundial sugeriu ainda que, por conta dos ensinamentos obtidos, os professores envolvidos no projeto piloto (mais de 400, dos quais 60% de Manaus e 40% de Joinville) verificaram melhoras em sua relação com questões financeiras. Na média, 40% de todos os professores avaliam ter melhorado muito quanto a aspectos financeiros e outros 50% indicam ter melhorado em alguns aspectos.
Segundo Claudia Forte, da AEF, “há uma enxurrada de propaganda do crédito. Esse estudante recebe poucas propagandas sobre a importância de poupar. São muito preocupados com o ter”, diz ela: “A mudança de comportamento é nosso objetivo, e não que o aluno aprenda matemática financeira. Queremos que ele instrumentalize a educação financeira no cotidiano.”
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