Economistas acreditam que BC deve começar a reduzir juros

O ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega - Foto: José Cruz/Abr
O ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega – Foto: José Cruz/Abr

A indicação do economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, para comandar o Banco Central, despertou expectativas diferentes sobre os rumos da economia. Em relatórios recentes do Itaú Unibanco, Goldfajn ressaltou que o quadro recessivo no Brasil e a queda do dólar favoreciam uma gradual redução das expectativas de inflação, o que abriria espaço para um corte de juros no segundo semestre, a partir de julho.

Na opinião do ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, os juros devem começar a cair em setembro: “O novo presidente do BC vai fazer uma avaliação do quadro macroeconômico, após tomar posse do cargo, para então decidir, com o Copom, sobre a taxa Selic. Creio que a redução [dos juros] deve ocorrer por volta de setembro”.

Em relação aos boletins do Itaú, o ex-ministro adverte que “uma coisa é opinar como economista, outra é decidir como autoridade, quando se dispõe de mais informações”. Mailson enfatiza que “Ilan é um dos mais qualificados economistas para assumir o cargo de presidente do BC. Foi uma excelente escolha”. 

O professor do Instituto de Economia da Unicamp Pedro Paulo Zahluth Bastos também acredita que o novo presidente do Banco Central deve começar a reduzir os juros: “Só o Alexandre Tombini não reduziria, por causa da pressão do mercado e do cálculo do governo Dilma de agradar ao mercado, e dele, Tombini, de assegurar credibilidade e, quem sabe, ter uma chance na porta giratória entre BC e bancos”.

Segundo Zahluth Bastos, “os dados econômicos permitem e até exigem uma redução e, mais do que isso, ela é fundamental para consolidar politicamente o governo Temer. Ele já mostrou a que veio e não precisa ampliar uma depressão bíblica para agradar ao mercado, que sabe que vem algo muito melhor por aí: privatizações e um marco legal e regulatório muito restritivo para o gasto público”.

Também professor da Unicamp, Eduardo Fagnani tem uma opinião distinta. Para ele, o novo presidente do BC pode aprofundar a crise até levar a inflação à meta de 4,5% ao ano. “Vejo com muita preocupação essa escolha”, disse Fagnani: “Ilan é um economista liberal, que trabalhou no FMI e no Banco Mundial. Com isso, o governo sinaliza que vai aprofundar o tripé macroeconômico”.

Fagnani argumenta que um artigo do próprio Ilan, publicado em 2013, mostra que ele prioriza o controle da inflação em detrimento da manutenção do emprego. No ensaio, Ilan escreve que conter a inflação é um valor importante para a sociedade, e conclui: “Não está claro se há consciência na sociedade de que, para manter a inflação sob controle, possa ser necessário temporariamente reduzir o consumo e desaquecer o mercado de trabalho”.

Segundo o economista da Unicamp, o Banco Central brasileiro tem uma única missão, que é colocar a inflação na meta: “E ele faz isso aumentando a taxa de juros e o desemprego”. Nisso o Brasil se distingue radicalmente dos Estados Unidos e de outros países, nos quais o Banco Central precisa controlar o desemprego e a inflação: “Ilan vai aprofundar a gestão ortodoxa, o que contraria o que está sendo feito no mundo”.

Fagnani recorda que a trajetória do novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, aponta nesse sentido: “Meirelles é do mercado financeiro. Ele aumentou as taxas de juros em 2008, mesmo com a recessão, e demorou a baixá-las”. A inflação anual está em torno de 9%, e objetivo deles é reduzir o índice à metade. 

Ele acrescenta que, nesta semana, estão tramitando no Congresso Nacional propostas para dar autonomia ao Banco Central, um projeto de José Serra que fixa um teto de gastos públicos e a privatização de todas as estatais. “Se isso for aprovado, o governo não terá nenhum instrumento para estimular o crescimento econômico. O objetivo desse governo não é o crescimento da economia, mas implantar um projeto ultraliberal na economia e conservador nos costumes. Uma proposta desse tipo não passaria pelo voto popular, mas eles têm dois terços do Congresso”.

Leda Maria Paulani, livre-docente na USP, tem uma opinião semelhante à de Fagnani: “O novo presidente do Banco Central é oriundo do mercado financeiro, para quem o regime de metas é a panaceia de muitos males e deve ser seguido à risca. Portanto não acredito que o novo presidente do BC vá reduzir os juros. Na melhor das hipóteses ele vai manter a Selic por um tempo como está, nesse nível indecoroso”.

José Márcio Camargo, professor titular da PUC do Rio de Janeiro, acredita que o novo presidente do BC “irá reduzir a taxa de juros quando for possível (quando a inflação e as expectativas para a inflação estiverem em queda, caminhando para a meta) e elevá-la quando necessário (quando a taxa de inflação e as expectativas para a inflação estiverem em elevação e acima da meta). Este deve ser sempre o objetivo da politica monetária”. 



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