Um grupo de economistas e cientistas sociais apresentou nesta segunda-feira (28), no centro de São Paulo, o documento “Por um Brasil Justo e Democrático”. Tratam-se de dois volumes que refutam o impeachment, mas exigem do governo federal alternativas ao atual ajuste fiscal “para o Brasil voltar a crescer”.
O documento lançado hoje foi produzido com a colaboração de mais de cem especialistas que, por meses, debateram o assunto em reuniões que passaram por Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. O calhamaço foi divido em dois volumes: Mudar para sair da crise – Alternativas para o Brasil voltar a Crescer (Vol.I); e O Brasil que queremos – subsídios para um projeto de desenvolvimento nacional (Vol. II).
Pedro Rossi, professor do Instituto de Economia da Unicamp e membro do Brasil Debate, foi um dos apresentadores do texto. Ele disse que o Brasil viveu nos últimos anos um “modelo virtuoso” de desenvolvimento com distribuição de renda apoiado no consumo de massa, mas com distribuição de renda e crédito. “Teve efeito dinâmico”, disse.
Para o economista, um dos entraves atualmente está nas exageradas desonerações que o governo concedeu ao setor privado. “Eles engordaram as margens de lucro e não investiram em nada que não tivesse retorno esperado”, disse. No fim, essas desonerações teriam gerado queda na arrecadação, agravando a crise fiscal proporcionada pela desaceleração econômica. “Isso não teria sido grave se o discurso dominante não criasse esse clima de terrorismo.”
Rossi defende que a verdadeira responsabilidade fiscal “é recuperar o crescimento” e receitas. “Irresponsabilidade fiscal é jogar o Brasil em recessão.”
Também da Unicamp, o economista Guilherme Melo, da Rede Desenvolvimentista, acredita que esse discurso do mercado financeiro só ganha legitimidade porque a imprensa não o discute. “É necessário superar a interdição ao debate público. Isso não ocorre quando os analistas consultados pela imprensa dizem que é este ajuste ou nada.”
Eduardo Fagnani, da Unicamp e Plataforma Política, teme que a mudança no rumo possa acabar frustrada pelas “reformas conservadoras” em discussão no Congresso. “Elas podem dinamitar as pontes para o projeto de desenvolvimento”, cravou. “Os liberais sentenciam que é preciso rever o contrato social, liquidando a Constituição de 1988. Não se pode aceitar o argumento de que as demandas sociais não cabem no Orçamento.”
Um dos últimos a falar, o doutor em economia Luiz Gonzaga Belluzzo lembrou que o trabalho do grupo será inócuo se o povo não se engajar. “A sociedade é quem leva a cabo.”
Durante a divulgação do documento, os especialistas afirmaram que ele ainda está em construção e espera que a população contribua discutindo e acrescentando ideias.
Assinam o Centro Internacional Celso Furtado de Políticas Para o Desenvolvimento, Le Monde Diplomatique Brasil, Fórum 21, Brasil Debate, Fundação Perseu Abramo, Plataforma Política Social e Rede Desenvolvimentista.
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