Mercado opera pesquisas eleitorais

O mercado financeiro é binário: ou compra ou vende. Compra, se avalia que os preços vão subir; vende, se imagina que vão cair. Toda a eleição tem o mesmo script. Os investidores elegem um candidato favorito e compram/vendem ao sabor de sua situação nas pesquisas de intenção de voto.

Desde a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, em 2002, em que disputava com José Serra (PSDB), o mercado não se movia de forma tão contundente, como agora, ao sabor de rumores ou das intenções de voto na candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT). O pleito de 2002 foi emblemático quanto à reação exacerbada do mercado. 

Com temor, que se mostrou injustificado, de eleger um presidente identificado com a esquerda, o risco-país atingiu o recorde de 2.446 pontos em setembro, a bolsa caiu 16,9% e o dólar chegou a R$ 4. Segundo os analistas, hoje, o cenário mostra o mercado financeiro e o empresariado decepcionados com a gestão da petista.

Esses executivos, que preferem o anonimato, se queixam do fraco desempenho econômico do País (o Produto Interno Bruto caiu 0,6% no segundo trimestre) e lamentam a elevação da taxa básica de juros (Selic), que veio da mínima histórica de 7,25% em outubro de 2012, para 11% em abril deste ano – e assim permanece até hoje. Importa muito pouco ou quase nada para eles se o governo atual privilegia pagar a chamada dívida social.

Nem comove o mercado um balanço comparativo que traz cifras, como os 42 milhões de pessoa que saíram da miséria, ou os quase US$ 380 bilhões das reservas internacionais, contra US$ 37 bilhões em 2002, os cerca de 200 milhões de toneladas da safra agrícola, contra 97 milhões naquele ano, ou os menos de 6% da taxa de desemprego, em comparação a 12% em 2002.

Às queixas, somam-se as críticas à chamada contabilidade criativa – manobras heterodoxas dos dados − do governo e à piora das contas externas do País. O déficit em conta-corrente no primeiro semestre atingiu o recorde histórico de US$ 43,311 bilhões, segundo o Banco Central – não se pondera que o número tem como contrapartida as mencionadas reservas. Por fim, apesar dos esforços de Dilma nos últimos meses, há insatisfação dos empresários em relação ao que eles consideram como falta de atenção da presidenta às suas demandas.

Acompanhando a divulgação das pesquisas eleitorais antes do primeiro turno, havia correlação entre a alta de ações de estatais – sobretudo Eletrobras e Petrobras – a cada avanço dos adversários de Dilma. Segundo operadores de mercado, isso não significa que haja vazamento de informações. Mas as instituições financeiras costumam ter acesso aos trackings realizados pelos principais partidos políticos por telefone. Não são amostras perfeitas, mas indicam a direção dos resultados.

Nas semanas que antecederam o primeiro turno, os mercados vinham reagindo positivamente às pesquisas de intenção de voto, que mostravam maior competitividade do candidato Aécio Neves (PSDB). No dia 6 de outubro, primeiro dia útil após a primeira rodada das eleições, quando Aécio foi confirmado para o segundo turno, o Ibovespa subiu 4,72%, a maior alta em um único dia desde julho de 2012. O dólar à vista caiu 2,31%, para R$ 2,41.

Nesse cenário, é possível imaginar uma catástrofe financeira se Dilma vencer o pleito? Nem em sonhos mais macabros. O mercado se ajeita. Acomoda-se. Bom lembrar que o faro para as oportunidades prevalece. Afinal, essa é a natureza da especulação.


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