O que esperar do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa?

Foto: Lula Marques/ Fotos Públicas (29 de setembro de 2015)
Foto: Lula Marques/ Fotos Públicas (29 de setembro de 2015)

Prestes a completar um ano no posto, Joaquim Levy se despede do Ministério da Fazenda e o ex-ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, assume seu lugar. 

Para o economista e professor da UFRJ, João Sicsú, o perfil desenvolvimentista do novo ministro não é o suficiente para apontar uma mudança na política econômica do governo. “Quem determina a política econômica é a presidente, não o ministro. Pouco importa a troca de nomes se a política de austeridade não mudar. Enquanto professor, ele se localizava no campo desenvolvimentista, defendia medidas anticíclicas, de redução de desemprego, inclusão social, medidas distributivas de renda. Mas o perfil do ministro pouco importa. Já vi um mesmo ministro fazer política de arrocho e em outro momento fazer políticas anticíclicas”, disse Sicsú.

O economista Pedro Paulo Bastos, professor da Unicamp, também defende uma mudança na política econômica, mas vê com bons olhos a ida de Barbosa para a Fazenda. “Levy já estava insustentável na Fazenda porque evidentemente a aposta que ele fez no ajuste fiscal fracassou. Barbosa não tem uma varinha mágica. Mas pelo menos ele é muito menos radical nos cortes do que o Levy. O grande problema é: como a economia já está em queda livre, não basta o governo parar de cortar. Para a economia recuperar, só há duas possibilidades, que podem ser complementares. Uma é um milagre exportador, que é muito improvável na circunstância atual da economia mundial. Pode eventualmente ocorrer, mas é muito difícil. A China tem que se recuperar, os preços das commodities também.  A outra opção é o governo praticar uma política contra-cíclica. Mas o Orçamento de 2016 foi aprovado nessa semana, antes do recesso. E ele traz heranças do Levy, que é o superávit de 0,5%. O Barbosa queria ter mais flexibilidade para pelo menos chegar em um déficit primário de 0%. Eu acho impossível chegar num superávit de 0,5%. Isso significa um corte no ano que vem maior do que foi proposto de 2014 para 2015. Então, essa última herança do Levy amarra o Barbosa. Precisa ter um pacto político e social que defina certas prioridades para recuperação de investimento público e que conjuntamente aumente o investimento privado. Não depende só do Barbosa, mas ele é uma pessoa muito mais preparada para o tipo de tarefa que é necessária. O Barbosa foi central, por exemplo, para a criação do PAC. Ele sabe o caminho das pedras para aumentar o investimento público e o que tem que ser feito do ponto de vista do financiamento, do arranjo, os contratos, da participação dos bancos públicos e privados.

Laura Carvalho, economista e professora da Universidade de São Paulo, também manifestou seu apoio ao novo ministro em sua página de Facebook: “A tarefa será árdua, mas tenho plena confiança em sua capacidade técnica e política. Lembro aos que perderam a memória, que Nelson saiu do governo em 2013 depois de discordar da falta de transparência fiscal e da má gestão microeconômica da dupla Mantega/Arno. Na época, sua saída foi lamentada até pelo Financial Times. Qualquer tentativa de associá-lo aos erros de política econômica do primeiro mandato de Dilma é desonesta e inverídica. Nelson é realista, pragmático e já nos tirou da crise uma vez”.

 

 

 

 


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