O declínio econômico causado pela decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia “foi rápida e dura”, escreve o jornal Americano The New York Times. A moeda local, a libra, caiu ao seu nível mais baixo em três décadas. Quando a bolsa de valores britânica abriu na manhã seguinte, as ações derraparam mais de 8%, a maior queda em um único dia desde a crise financeira de 2008. Muito desse resultado, diz o jornal, se deve à expectativa de que a restrição aos imigrantes afetará duramente a economia britânica.
Os efeitos foram maiores do que os analistas financeiros previam, mas não se trata de nenhuma novidade. “Ficou muito claro por meio de pesquisas e entrevistas que os eleitores que votaram em ‘Brexit’ (a sigla para a saída do Reino Unido da União Europeia) sabiam bem sobre os riscos econômicos. Acontece que eles tinham uma outra preocupação: os imigrantes.”
O jornal lembra, no entanto, que “a maioria das pesquisas tem mostrado” que a imigração só fortaleceu a economia britânica nos últimos tempos. “Mas os eleitores que apoiam a campanha pela saída não foram convencidos por essa evidência.” Com o progresso dos últimos 50 anos, particularmente na Europa, ficou fácil acreditar na ideia de que o nacionalismo, a xenofobia e o preconceito são irracionalidades, distorções de mercado que irão, naturalmente, desaparecer ao longo da história.
A votação na semana passada mostrou – com uma clareza incomum – o buraco dessa teoria, escreve o diário. “Para muitas pessoas, a identidade se sobrepõe à economia: vão pagar um preço alto (literalmente, neste caso) por preservar uma ordem social que os fazem sentir seguros e poderosos.”
Essa problemática não se limita à Grã-Bretanha. Ela está presente nas democracias em todo o mundo: a imigração agora se tornou o foco. Muitos cidadãos, especialmente aqueles que sofreram com as pressões econômicas da globalização, mostram ansiedade com essas mudanças, se concentrando nas questões que dizem respeito aos estrangeiros e a seu meio. “Dificultar a imigração, mesmo se o efeito real for piorar a economia, parece uma maneira encontrada para afugentar mudanças maiores.”
Para as pessoas que já estão desestabilizadas pela pressão econômica, essas mudanças sociais contribuem para a sensação de que algo precioso está sendo perdido, que o seu país está se afastando das coisas que eles valorizam em troca de um futuro novo e desconhecido, diz o texto. “A campanha Brexit falou a essas ansiedades, argumentando que a imigração tinha levado o Reino Unido ao ‘ponto de ruptura’. Tabloides britânicos chegaram a escrever que os refugiados eram um ‘enxame’ no país.
Mas esse fenômeno é praticamente limitado ao Reino Unido, acredita o NYT. Nos Estados Unidos, os índices de imigração do México têm sido próximos do “zero desde 2010”, mas eleitores republicanos ainda aplaudem a promessa do candidato presidencial Donald Trump de construir um muro na fronteira sul.
“Para Brian Klaas, da London School of Economics, há muitos paralelos entre os apoiadores de Trump e o Partido da Independência do Reino Unido, principal patrocinador do Brexit”. São pessoas que podem ser “da classe trabalhadora e que se sentem completamente deslocadas, para trás na economia global”.
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