O jeitinho brasileiro

O Brasil sofreu profundas transformações ao longo dos últimos anos. Com o aumento do emprego formal e da renda, milhares de brasileiros saíram da pobreza e passaram a ter acesso a uma variedade de produtos que antes eram inalcançáveis. Apesar do tímido crescimento econômico do País, em meados de 2013 e durante a ampla crise internacional, a população brasileira começou a sentir no bolso os impactos da retração econômica.

Com a desaceleração do crescimento e a falta de perspectiva em relação à melhora da economia, os brasileiros tiveram de mudar alguns hábitos. O fato é que as pessoas não querem abrir mão do consumo e, por isso, estão buscando formas de aumentar a renda pessoal e diminuir os gastos que têm em casa. Em junho, eu e minha equipe do Data Popular finalizamos uma pesquisa para o Banco Santander, que evidenciou essa mudança de comportamento.

Na prática, nove entre dez brasileiros afirmam que a crise atingiu a vida pessoal. São pessoas que perderam o emprego, tiveram o salário reduzido e afirmam que não compram hoje o que compravam há seis meses, gastando o mesmo valor. Hoje, sete em cada dez brasileiros já estão tomando alguma medida para aumentar o rendimento. E, para não abrir mão do consumo e do que conquistaram anteriormente, a maior parte dos entrevistados está fazendo bico ou hora extra, ou seja, eles arregaçaram as mangas e estão procurando formas de incrementar a renda pessoal e driblar a crise econômica. O que temos visto é que os brasileiros estão dando “um jeitinho” para tentar resolver a situação atual, ou pelo menos para minimizar os efeitos da crise. Com isso, eles chamaram para si a responsabilidade e começaram a fazer o seu próprio ajuste fiscal doméstico.

Além de adotar novos hábitos, muitas pessoas passaram a retomar comportamentos antigos. Quando a situação financeira aperta, aquela mulher que trabalhava com venda direta de cosméticos e, no auge do pleno emprego e crescimento da economia, parou de se dedicar a essa atividade, agora está reativando a sua freguesia, aquecendo suas vendas para complementar o seu salário e conseguir colocar mais produtos no carrinho do supermercado. O que é mais interessante é que, quando perguntamos sobre as perspectivas para o futuro, a maioria acredita que a vida pessoal vai melhorar.

O fato é que as pessoas não querem abrir mão do consumo e, por isso, estão buscando formas de aumentar a renda pessoal e diminuir os gastos que têm em casa

O otimismo está ligado diretamente ao fato de os cidadãos estarem fazendo a sua parte para resolver os problemas, sem esperar resoluções externas. Isso mostra que confiam em si mesmos e na capacidade que têm de virar o jogo. Muitos cresceram em momentos de instabilidade financeira e tiveram de aprender a se virar na adversidade. Os brasileiros melhoraram de vida nos últimos anos e creditam essa melhora principalmente ao esforço pessoal.

Se por um lado a crise econômica preocupa, por outro lado, obriga as pessoas a mudarem alguns hábitos. No final das contas, passam a ser mais criteriosas no trato orçamentário pessoal e doméstico, aprimoram a sua educação financeira e se transformam em consumidores mais maduros e exigentes. É como se as dificuldades que encararam ao longo da vida e se assemelham ao momento que enfrentam atualmente os empoderassem, com os brasileiros mais preparados para enfrentar e resolver os problemas, não deixando a peteca cair nem diante de um cenário de instabilidade e incerteza. Por isso, eu também me sinto otimista. Não tenho dúvida de que os brasileiros vão sair mais fortes dessa crise do que entraram.

Indicadores - Data Popular - Foto: Reprodução/ Brasileiros
*Presidente do Instituto Data Popular


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.