Em meio a um contexto de ajuste fiscal exacerbado, O Minotauro Global, best-seller do ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis chega às livrarias brasileiras para colocar em xeque o modelo neoliberal de gestão econômica. Não só o Brasil sucumbiu às mazelas dos cortes de gastos. Nações europeias que antes se orgulhavam de um Estado de bem-estar social hoje remendam projetos econômicos esfacelados e encaram altos índices de desemprego.
Apesar de ter atingido seu apogeu em 2008, a crise do neoliberalismo teve seu embrião formado a partir do início da década de 1970, quando nuances das políticas econômicas do pós-guerra refletiram em um sistema desproporcional. Para Varoufakis, fatores como a negligência de certas potências europeias, que se aliaram indiscriminadamente às políticas econômicas dos Estados Unidos sem pensar no amanhã, e a voracidade dos norte-americanos em consolidar sua posição de supremacia corroboraram para uma derrocada desse modelo do capitalismo.
Difícil não enxergar Varoufakis como visionário.O Minotauro Global, lançado em 2011 na Europa e nos Estados Unidos, começou com um artigo publicado na revista norte-americana Monthly Review em 2003. Sob o título de The Global Minotaur, o artigo foi escrito em parceria com o professor da Universidade de Sydney, Joseph Halevi . Na ocasião, a publicação tentava desvendar o motivo da economia norte-americana crescer simultaneamente às suas dívidas.
A obra surge, agora em português pela editora Autonomia Literária, como uma metáfora, como o próprio autor sugere, sobre as aflições da economia contemporânea. O Minotauro, não por acaso uma figura da mitologia grega, aparece no século XXI não para abocanhar as oferendas de Minos, rei de Creta, mas para confiscar direitos trabalhistas, enxugar gastos e defenestrar a máquina pública, tudo em prol do capital financeiro.
O nascimento da criatura voraz, segundo Varoufakis, se dá nos meandros do fim dos acordos de Bretton Woods, contratos firmados após a Segunda Guerra que garantiram a reconstrução dos países europeus financiadas por dólares norte-americanos. Com o crescimento das nações do Velho Continente a partir de 1970, os Estados Unidos quebraram o acordo e iniciaram uma saga que colocaria as economias europeias, e, posteriormente, as de todo o globo, em posições de extrema dependência do projeto norte-americano, principalmente por causa da desvalorização cambial do dólar, que, nesse momento, já era a moeda universal.
A desvalorização acabou afetando de forma brutal as economias europeias, que, após anos de Plano Marshall, viam-se submissas aos interesses dos Estados Unidos e formaram grandes estoques de dólares para se precaverem. Com o aumento da competitividade, a elevação dos juros e a potencialização do mercado interno dos Estados Unidos, os norte-americanos criaram o embrião do Minotauro, que quase destruiria sua própria economia três décadas depois.
A besta criada pelos Estados Unidos nada mais é, a grosso modo, do que um mecanismo robusto e complexo de reciclagem de excedentes. Segundo o autor, em toda e qualquer economia existem sempre mercadorias que tendem a gerar sobras, e outras inclinam-se a formar déficits. Para compensar este desequlíbrio intrínseco ao capitalismo, o governo norte-americano exportou durante décadas este excedente, principalmente para a Europa. Até a crise de 2008.
“Nosso Minotauro Global encontrou seu fim de repente (…). A ferida potencialmente fatal foi causada pelo covarde e espontâneo colapso do sistema bancário. Embora o golpe tenha sido igualmente dramático, levando ao fim inequívoco da segunda fase do capitalismo global no pós-guerra em termos bem definidos, a nova era está teimosamente se recusando a revelar a luz no fim do túnel”, escreve Varoufakis, após detalhar o mito do Minotauro.
O livro que agora chega ao Brasil traz novo conteúdo dedicado à autocrítica do economista grego. Indagado por seus editores sobre a atual situação de países europeus que continuam na berlinda de uma crise econômica sem precedentes, Varoufakis resolveu escrever um capítulo totalmente dedicado ao mundo pós-Minotauro, destrinchando seus erros e acertos na teoria. Para Varoufakis, a besta ainda está viva, mas enfraquecida.
“Em suma, a única lembrança que resta do poderoso Minotauro Global é o fluxo ainda em aceleração do capital estrangeiro para a dívida pública dos Estados Unidos, prova de que o mundo está em desordem e o dinheiro está procurando refúgio no seio da moeda de reserva”, escreve o economista grego.
Em tempos de impeachment e involução do PIB, nos falta autocrítica e sobram Minotauros expondo suas unhas e chifres bradando pela financeirização. Só nos resta saber se entraremos de cabeça nessa crise que já mostrou do que é capaz, ou se escolheremos traçar um novo caminho sob novas perspectivas econômicas, eliminando o Minotauro e regulamentando o mercado fiananceiro de forma consistente, a fim de evitar o nascimento de novas bestas, como sugere Varoufakis.
O Minotauro Global – Yanis Varoufakis
Tradução: Marcela Werneck
Editora Autonomia Literária
304 páginas
Venda exclusiva: http://bit.ly/1UXnWma
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