Ao adotar o projeto econômico dos derrotados no pleito de 2014, Dilma Rousseff traiu as expectativas dos brasileiros que legitimaram seu segundo mandato e, ironicamente, com o insucesso das medidas de Joaquim Levy, coringa para aqueles que votaram em Aécio Neves, pavimentou o caminho de impopularidade que a levou ao processo de impeachment.
A tese foi defendia pelo economista Guilherme Santos Mello, professor do Instituto de Economia da Unicamp, e o segundo palestrante do painel A Macroeconomia e a Economia das Pessoas durante o Seminário Rumos da Economia que, acontece nesta sexta-feira (6), em São Paulo e, desta vez, tem como tema Onde e Como Investir para Crescer na Turbulência.
Para Mello, a “Saída Temer”, como alguns veículos de imprensa têm tratado o eventual governo do atual vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB) não será capaz de atender às expectativas dos dois lados: “O projeto ‘Uma Ponte Para o Futuro’ não passaria pelo crivo das ruas. E é por isso que pode ser adotado por um governo que não foi eleito. É um projeto antipopular que não vai dar conta dos nossos desafios econômicos”.
No início de sua fala, o economista fez um retrospecto da economia do País, desde a primeira eleição presidencial pós-ditadura, em 1989, até a atual crise. Mello lembrou o contrassenso de imediatamente após o País criar uma Constituição Federal que garantia um estado social democrata, provedor de serviços públicos e direitos sociais, entrarmos em um ciclo de 12 anos de liberalismo com as gestões Collor, Itamar e FHC.
Mello ressaltou, no entanto, que o caminho desenvolvimentista da era Lula só foi possível graças à estabilidade econômica conquistada nos anos 1990: “Com isso, houve um casamento entre povo e governo durante 2004 e 2014. Um casamento baseado em melhoria das condições mais básicas de vida. No entanto, com a crise de 2008, as medidas adotadas por Lula e Dilma para conter os efeitos externos – Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e BNDES com papéis mais atuantes – fez com que abríssemos mão de escrúpulos monetaristas para fazer a economia crescer”.
Além de reiterar que Temer não representa alternativa a Dilma, Mello afirmou que a saída para a superação da crise exige reforma política imediata. “No dia 17 de abril (dia da votação do impeachment na Câmara) vimos que não é possível que esse Congresso represente a sociedade brasileira. Um congresso formado por homens brancos, velhos, empresários e donos de terra. Um Congresso que não tem mulher, não tem mulato, não tem negro, não tem índio, não tem homossexual. É isso que é o Brasil?”, concluiu.
O seminário Rumos da Economia acontece todo ano. Promovido pela Revista Brasileiros, tem por objetivo discutir o cenário econômico do presente e apontar os caminhos para o desenvolvimento do País.
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