O crescimento da população e da rende vai proporcionar um aumento do consumo de energia na casa de 4% a 5% ao ano nos próximos dez anos. A previsão é de Amílcar Guerreiro, diretor da Empresa de Planejamento Energético (EPE). O executivo participou do seminário Energia: Brasil + 10 – Reflexões sobre a Matriz Energética Nacional, promovido por Brasileiros, em São Paulo. Isso vai requerer um crescimento de cinco mil a seis mil megawatts de oferta por ano, o triplo da média efetivamente disponibilizada nos últimos anos.
O crescimento da renda é o que vai puxar o consumo residencial, hoje de 17 quilowatts/hora, considerado baixo (um terço do espanhol, por exemplo). A EPE trabalha com um acréscimo de 14 milhões de pessoas na população brasileira nos próximos dez anos.
Guerreiro disse que a eficiência energética terá de ser o principal foco para minimizar a necessidade de investimentos e atender às novas necessidades do país. A meta do governo é que a eficiência energética represente 4,6% do consumo em 2022, último ano do atual plano plurianual do setor. A eficiência pode, segundo o diretor da EPE, representar 11% do consumo em relação a hoje. O executivo da EPE destacou a necessidade de combater as perdas na geração e na distribuição.
A energia solar já é viável, embora chegue a custar o dobro das principais fontes da matriz brasileira. Essa foi a tese defendida por Mauro Passos, presidente do instituto Ideal, especializado na pesquisa de energias alternativas. “A potencialidade da energia solar é impressionante” disse Passos. “Se juntar Belo Monte, Jirau, Santo Antônio e todo o custo de produção daria para instalar painéis solares 100 milhões de telhados. A Alemanha tem 100 mil. A insolação aqui é cinco vezes mais. Se fizer o conta de custo da energia e não de tarifa, a solar já é competitiva hoje” defendeu.
O instituto realizou no ano passado um mapa solar no Brasil e identificou 430 empresas em todo o País. Essas são as empresas em condições de dar respaldo ao desenvolvimento de um mercado de energia fotovoltaica no país. O Ideal está estudando a elaboração de um kit de equipamentos que reúna geração eólica e solar para residências, a fim de oferecer ao consumidor uma possibilidade de gerar sua própria energia a custo competitivo. “Energia solar tem caído de preço em todo o mundo, seja pelo crescimento da geração na Europa, seja pela preocupação da China com sua imagem de produtor de energias sujas”, afirmou.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem interesse em financiar o desenvolvimento da indústria de pequenas geradoras solar e eólica, disse o chefe de departamento de fontes alternativas do banco, Antonio Carlos Tovar.
“As energias eólica e solar ganharam competitividade nos últimos anos”, disse Tovar. Esse aumento de eficiência demonstra que o potencial da fonte renovável. Segundo ele, o custo marginal da energia eólica e solar é decrescente em função dos ganhos de eficiência, é um potencial fantástico. Hoje mais de 20 gigawatts de energia solar são acrescentados à matriz europeia todos os anos. O Brasil entra no setor no momento em que ele já está robusto, com tecnologia desenvolvida, e que, portanto, pode usufruir disso e apostar em tecnologias já fabricadas e poder apostar no brasil.
Para Silvia Azevedo, diretora da empresa Enersud, o mercado de microgeração eólica é muito pequeno, mas vem crescendo no mundo de maneira lenta. A Enersud tem desenvolvido equipamentos de geração doméstica que mescla gerador horizontal (mais eficiente) com vertical (mais efetivo no ambiente urbano, em função da mudança permanente na direção dos ventos). O equipamento começou a ser desenvolvido há cinco anos e chegou ao mercado no ano passado. Cerca de 85% da população brasileira é urbana, o que torna o potencial do segmento muito grande, disse Silvia. A empresária afirmou que parte de seus clientes reduziram 50% seu consumo de energia quando passaram a gera-la.
Leonardo Calabró, vice-presidente da Cogen (Associação da Indústria de Cogeração de Energia), destacou que de conectar a pequena geração na rede distribuidora pode ser problemática. Por isso, ele considera necessário levar as distribuidoras para o debate. Nesta sexta-feira, dia 30, o Ministério das Minas e Energia vai receber o setor para discutir o tema. Ele disse que vai defender a ideia de que as distribuidoras possam adquirir até 10% de sua carga de terceiros, principalmente na pequena geração.
Segundo Calabró, as regiões Sul e Sudeste têm déficit 12 mil megawatts de energia elétrica, que precisa ser transferida de outras regiões. Com a tendência de crescimento desse déficit, seria importante criar alternativas de complementação, principalmente a pequena geração local. Ele destacou a iniciativa do governo de realizar um leilão exclusive de energia de reserva este ano. Ele considera que o custo de R$ 250 por megawatt/hora para a solar torna viável sua entrada na matriz. O custo é cerca de R$ 100 acima das demais fontes.
Mário Menel, presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), afirmou que o setor recuperou o planejamento há dez anos, com o novo modelo do setor elétrico. Mas, segundo ele, houve um descolamento do planejamento com o que foi executado. “Sinto falta de uma política de mais longo prazo”, afirmou.
O diretor da consultoria Ecoee, Cyro Boccuzzi, considera que o atual modelo atual de geração e comercialização está chegando ao limite e será preciso gerar energia em pequena escala localmente. Isso não só começa a ficar economicamente viável, como também a disponibilização do excedente nas redes distribuidoras. Ele prevê queda nos custos de geração com o avanço “brutal” da tecnologia. Segundo ele, a geração doméstica ajuda a manter o sistema mais seguro do ponto de vista do abastecimento.
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