O negócio de turismo funciona na base do impulso. A afirmação é de Aldo Leone Filho, presidente da operadora de turismo Agaxtur, considerada a segunda maior do País – embora não haja ranking oficial da Associação Brasileira de Viagens, sua maior concorrente é a CVC. Por isso investir em promoções faz todo o sentido em períodos de dificuldade econômica. Mas Leone Filho também conta com seu porte empresarial para obter tarifas mais baixas em voos, hotéis, aluguéis de automóveis ou seguros, entre outros serviços, e assim baratear os custos para a empresa e, consequentemente, para os clientes.
A Agaxtur é uma empresa familiar. Até a mãe de Leone Filho bate ponto na sede, como presidente do Conselho de Administração, e o executivo descarta por completo abrir o capital. Fundada em Santos em 1953, a operadora foi criada pelo italiano Aldo Leone. Contador, ele iniciou a vida profissional no ramo imobiliário em São Paulo. Mas foi a cidade litorânea paulista, onde passou a infância, que lhe abriu as portas para o negócio. Naquela época, a empresa foi pioneira em cruzeiros marítimos no País, quando também oferecia aos estrangeiros que chegavam ao porto santista passeios para o Guarujá e para a cidade de São Paulo. De lá para cá, muita coisa mudou e, hoje, o principal destino dos brasileiros é a Europa, mesmo com a cotação alta do euro. Mas, na média dos últimos três anos, os Estados Unidos continuam imbatíveis, principalmente destinos como Orlando e Miami.
A ascensão da classe C nas duas últimas décadas, segundo Leone Filho, pouco contribuiu para o desempenho da empresa porque não é o seu público-alvo. O executivo, inclusive, é otimista e aposta no aumento do mercado de turismo a partir do ano que vem. “Hoje, 4% da população brasileira tem capacidade de viajar. São 10 milhões de habitantes. A Agaxtur vende 80 mil viagens por ano. Há muito espaço para crescimento.” A seguir, os principais trechos da entrevista que Leone Filho concedeu à Brasileiros na sede da Agaxtur, localizada na Avenida Europa, nos Jardins, em São Paulo.
Brasileiros – A Agaxtur foi fundada por seu pai no início dos anos 1950. Como era o mercado de turismo no Brasil?
Aldo Leone Filho – Era um turismo de grupos que viajavam muito para a América do Sul: Buenos Aires, Santiago e cruzeiros marítimos. Fomos pioneiros em oferecer cruzeiros a partir da década de 1960, porque a Agaxtur era sediada em Santos. No Brasil, o principal destino era a Bahia. Eram pessoas ricas, não havia classe média. Em 1955, abrimos nossa primeira loja em São Paulo e, nessa época, nosso principal concorrente era a Touring e outras empresas que não existem mais.
De lá até aqui o que mudou?
Hoje, temos um cardápio de 651 tipos de viagens. Dentro do Peru, por exemplo, oferecemos 17 produtos: um em Lima, outro no Lago Titicaca, entre muitos.
Quanto foi o faturamento da empresa em 2014 e qual a expectativa para este ano?
No turismo, a gente não fatura. A gente repassa. Ganhamos comissão de 6%. Quando o cliente compra uma passagem aérea, passo o cartão dele na companhia. É diferente de uma varejista. Quando alguém compra uma televisão, não paga para o fabricante, mas para a loja. Nosso faturamento é de R$ 20 milhões por ano. Estou prevendo crescimento zero neste ano, talvez até uma pequena queda.
Acredita ser possível reverter esse quadro?
Criamos um programa chamado Viaja Mais, para funcionários de grandes empresas. Montamos um site para a companhia, com descontos exclusivos de 10% a 15% para seus empregados. Garanto que terão o melhor preço do mercado. Esse é um nicho que estamos explorando e dará frutos a partir de 2016.
O Brasil passa por dificuldade econômica. Como essa situação impacta o mercado de turismo?
O turista compra de acordo com as promoções. Maio foi um mês excelente: o número de passageiros foi praticamente igual ao do ano passado. Março e abril foram piores. Junho empatou e julho foi melhor. É um mercado de impulso.
Aumentou a compra de viagens domésticas e reduziu a de internacionais?
Não. O número de passageiros de cruzeiros marítimos internacionais cresceu 24% neste ano.
4% da população brasileira tem capacidade de viajar. São apenas 10 milhões de habitantes. A Agaxtur vende 80 mil viagens por ano. Portanto, há muito espaço para o crescimento do turismo no País
Mas a classe C não está mais cautelosa, por causa da inflação?
O cliente da Agaxtur não tem esse perfil. É só ver os negócios em shoppings. Estamos no Center Norte e no Cidade Jardim, por exemplo. No primeiro, 90% das vendas são para os Estados Unidos e a Europa. Mas são aqueles circuitos baratinhos, que oferecem 30 cidades em 30 dias. No Cidade Jardim, as vendas são para viagens individuais. Qualquer profissional hoje pode pagar uma viagem para a Europa, que em média custa US$ 2 mil, ou seja, dez parcelas de R$ 600, meia pensão incluída. Hoje, 4% da população brasileira tem capacidade de viajar. São 10 milhões de habitantes. A Agaxtur vende 80 mil viagens por ano e há muito espaço para crescimento. Pelo nosso porte, temos capacidade de negociação com os fornecedores.
Pretende abrir mais lojas ainda este ano?
Sim. Mais duas, uma em Santos e uma em São Paulo, no Shopping VillaLobos. Mas já estamos em todas as grandes cidades do País, operando com 180 funcionários. Também temos duas franquias, uma no Rio de Janeiro e outra em São José dos Campos, no interior de São Paulo, além de um escritório em Buenos Aires, na Argentina, para receber os brasileiros que viajam com a gente. Para expansão, vamos esperar um pouco.
O senhor pensa em alguma iniciativa para o turismo de luxo?
Temos a loja de luxo no Shopping Cidade Jardim. Fizemos uma parceria com a empresa Designer Tours, que é especializada em proporcionar experiências luxuosas e culturais. A gente alia o luxo à experiência em roteiros como Tailândia, Tahiti, Botswana, Maldivas, Croácia e outros lugares fora do circuito tradicional. Também promovemos cursos no exterior, para interessados em aprender línguas.
Qual é o destino preferido dos brasileiros? Ainda Miami e Orlando?
Acabou de virar para a Europa. França e Itália são as campeãs. Isso hoje. Mas nos últimos três anos foram os Estados Unidos, principalmente para os parques da Disney.
O senhor tem uma parceria com a Turma da Mônica. Como funciona?
Dentro das nossas parcerias estratégicas, sempre agregamos uma marca legal, voltada ao público que vai até os 12 anos. A Turma da Mônica viaja com a criançada, com a Mônica com roupinha de esqui. Temos um roteiro para Bariloche, depois teremos no Nordeste e cruzeiros marítimos.
“Temos acordos com os principais hotéis e serviços do mundo. Nosso conceito é ser um shopping de viagens: satisfazemos todos os desejos do cliente”
Bariloche também se tornou queridinha dos brasileiros, não?
Sim. Tanto é que lançamos o “Bariloche à sua Maneira”. O novo produto permitirá a venda sob medida e de acordo com as necessidades e desejos do cliente, sem que esse roteiro esteja vinculado a qualquer pacote. O cliente tem liberdade de escolha. Se quiser apenas a parte terrestre, ok, se preferir escolher o hotel, também iremos vender. Os consumidores estão mudando de hábito e cada vez mais querem uma experiência de viagem personalizada. A demanda nesse sentido cresceu muito nos últimos meses e por isso resolvemos atender ao desejo do nosso passageiro.
Como é a venda da empresa on-line?
Nossas vendas on-line representam apenas 5% do nosso negócio strictu senso. Ou seja, o consumidor entra no site, passa o cartão e compra o serviço que oferecemos. As demais são mistas: o cliente entra em nosso site, telefona para a empresa, conversa com um dos nossos funcionários e, muitas vezes, vai até a loja física bater o martelo. Também contamos com uma grande rede de agentes de viagem. Nosso conceito de on-line abrange todas essas modalidades: do site, passando pela voz ao telefone, e-mail e até WhatsApp.
Por que tão pouco negócio pela rede?
Ainda estamos estudando a ferramenta e devo ter mais detalhes agora no segundo semestre. Mas não enxergo muito essa história de on-line e offline. O cliente pode escolher o meio pelo qual quer comprar. On-line não significa que você entra em uma tela de computador, passa o cartão de crédito e não sabe para quem vai o dinheiro. Significa que você vê um preço no site, telefona para nós e faz a reserva. Ou manda e-mail, ou fala via chat, Skype e WhatsApp. O que queremos discutir hoje são os canais de venda de uma agência do futuro. Acredito que o segredo é ser multicanal. O que falta na Agaxtur hoje é comprar o produto com cartão da nossa empresa, que ainda não adotamos por questão puramente de segurança. Pelo meu conceito, nosso percentual de vendas on-line é grande porque usamos todos os meios que mencionei. Aprendi isso com o José Apolinário, da Polishop, que é multicanal e tem um a mais: a empresa dele vende porta a porta.
A Agaxtur tem hotéis próprios?
Não. Mas temos acordos com os principais hotéis e serviços do mundo. Além disso, nosso conceito é ser um shopping de viagens. Ou seja, fazemos tudo pelo viajante, desde uma simples reserva de hotel, um transfer, uma passagem aérea, um seguro a um cruzeiro marítimo. É como se fosse um Lego de turismo.
Quais são as iniciativas da empresa sobre sustentabilidade?
Já ganhamos duas vezes prêmios de sustentabilidade. Não somos verdes, mas sustentáveis. Seja em termos de economia e meio ambiente, seja em usarmos com consciência papel, luz, água e telefone. Também fazemos ações sociais importantes e somos especialmente ciosos em treinamento e capacitação.
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