Capitão polivalente

Querido dentro e fora dos gramados, Raí acaba de lançar o livro Raí, Auto_Fotobio (Editora Olhares, 160 páginas). Como o título sugere, é uma publicação autobiográfica ilustrada com mais de 150 imagens, entre fotos, recortes de jornais e de revistas, que contam seus 50 anos de vida.

Do nascimento em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, ele rememora com carinho sua ascendência. “Filho de pai (moral) cearense, descendente de negros e portugueses, e mãe (amor) paraense, com sangue indígena e espanhol. Um verdadeiro brasileiro, com suas misturas e influências. Ambos de origem simples, mas com carisma e inteligência emocional, ética e intelectual raras.”

Dedica ainda boa parte do livro a falar sobre os cinco irmãos: Sócrates, o lendário camisa 9 corintiano, Sóstenes, Sófocles, Raimundo e Raimar. E também reserva espaço generoso para falar da família que constituiu, cheia de mulheres – Raí tem três filhas, Emanuella, 32 anos, Raíssa, 26, e Noah, 10, e é avô de Naiara, 16.

Na sequência, faz uma retrospectiva de sua carreira como meio-campista que reinou no São Paulo dos anos 1990, onde conquistou duas copas Libertadores da América e sagrou-se campeão mundial interclubes, em 1992, sendo, aliás, autor dos dois gols que derrubaram o poderoso Barcelona. Claro, Raí fala também de sua fase internacional, em que marcou uma era no Paris Saint-Germain, entre 1993-1998, e faz menção especial à Copa do Mundo conquistada para o Brasil nos Estados Unidos em 1994, em que era capitão, mas perdeu a faixa e não disputou a final. Nem tudo foram flores.

Há 15 anos fora dos campos, Raí se dedica fortemente à Fundação Gol de Letra, sediada em São Paulo na Vila Albertina, na zona norte da cidade. A ONG foi criada, em 1998, por ele e o ex-companheiro de Tricolor Leonardo no dia 10 de dezembro daquele ano – não por acaso, o Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Contente com a assistência e a formação oferecidas a mais de duas mil crianças e jovens em situação de vulnerabilidade, o ex-jogador anuncia suas próximas jogadas. A partir de 2016, a Gol de Letra, em parceria com a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, será também uma escola pública formal em tempo integral. “Nosso projeto se propõe a ser modelo. Estaremos no mesmo espaço, e a escola nasce com a relação que a Gol de Letra já fez com a comunidade.”

Outra boa-nova é que a ONG paulistana firmou parceria com a prefeitura do Rio de Janeiro para a criação do projeto Pactos do Rio, que vai começar no bairro do Caju, região central da capital fluminense, onde a Gol de Letra já atua há nove anos. “O lugar é problemático, tem muita violência. Agora, com os patrocinadores da Olimpíada de 2016 e o Instituto Pereira Passos, vamos lançar o primeiro núcleo desse pacto entre o setor privado e o público, além da sociedade, para abrir a discussão urbanística para o bairro.”

Como nos tempos em que brilhava nos gramados, Raí não para. Também acaba de se tornar sócio de uma sala de cinema de rua. Sede da primeira Sala da Cinemateca Brasileira e, mais recentemente, do Cine Sabesp, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, o espaço de projeção na rua Fradique Coutinho foi reformado e também rebatizado. Ganhou o nome Cinesala. A iniciativa é o pontapé de um plano mais ambicioso. “A gente pretende abrir outras cinco salas nos próximos três anos”, diz Raí.

Experiência como empresário ele já tinha. Desde 2002, o ex-jogador e o empresário Paulo Velasco se uniram para gerir a marca Raí. O negócio deu certo e cresceu. Hoje a empresa, Raí+Velasco, que presta assessoria e gestão de imagem, está por trás também de outras grandes marcas pessoais, como as do arquiteto Ruy Ohtake e da ex-jogadora de basquete Magic Paula.

Homem de opinião, Raí encerra a conversa com um comentário sobre o momento atual do País. “Essas manifestações, a Lava Jato… Tudo o que está acontecendo me incomoda muito. A presidente propôs, em 2013, um plebiscito para a reforma política. Mas quem está fazendo essa reforma é o Congresso, no momento desmoralizado. E a origem de toda a corrupção é o sistema político.” Algo totalmente sem sentido para o ex-jogador, que também sonha com mudanças.


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