Desculpe-nos o ex-presidente Lula, mas uma de suas frases mais conhecidas será apropriada para exemplificar o sentimento de quem acompanhou a classificação do Brasil para as quartas de final da Copa do Mundo, em Belo Horizonte, neste sábado: nunca na história deste País Seleção Brasileira sofreu tanto para vencer o Chile em um Mundial. Mais: nunca na história desta camisa verde e amarela foi tão difícil e comemorado se classificar ainda nas oitavas de final de uma Copa. O Brasil venceu nos pênaltis por 3 a 2, depois de empatar em 1 a 1 no tempo normal, e agora espera pelo vencedor de Uruguai e Colômbia para saber quem vai enfrentar em Fortaleza, na sexta-feira (4).
No primeiro encontro entre os dois times na história do torneio, em 1962, o Brasil venceu por 4 a 2, em Santiago, nas quartas. O reencontro aconteceu 36 anos depois, na Copa da França, em 1998, quando a Seleção goleou por 4 a 1 mesmo tendo pela frente dois dos principais jogadores da história do futebol chileno, Salas e Zamorano. No último jogo entre Brasil e Chile em Mundiais, em 2010, na África do Sul, outra vitória tranquila: 3 a 0 em Johanesburgo. Abaixo, Brasileiros te mostra como foi a classificação brasileira em cinco atos:
1. Os brasileiros vaiando o hino nacional do Chile
A seleção chilena é uma das poucas desta Copa do Mundo que também tem o hino cortado pela metade pelo protocolo da FIFA antes do jogos e que, por isso, faz com que seus torcedores continuem entoando-o à capela. Foi assim no jogo contra a Austrália, em Cuiabá, e na histórica vitória sobre a Espanha, no Maracanã. Além do Chile, as torcidas da Colômbia e, claro, do Brasil, estão fazendo isso durante o Mundial. No entanto, quando duas torcidas que fazem o mesmo tipo de festa se encontraram, os brasileiros não gostaram: quase a totalidade dos torcedores que estavam no Mineirão vaiaram a continuação do hino nacional chileno. Quando foi a vez do Brasil, a torcida do Chile também tentou repetir o gesto, mas logicamente não atrapalharam por estarem em menor número nas arquibancadas do estádio. Faltou respeito.
2. O gol (ou não) de David Luiz
Foi o primeiro jogo do Brasil nesta Copa em que o zero saiu do placar sem um gol de Neymar. Ele fez dois contra a Croácia, na estreia, e dois contra Camarões, no último jogo da primeira fase. A única partida sem comemorações foi diante do México, em Fortaleza, porque o confronto acabou 0 a 0. Fernandinho e Fred foram os outros marcadores do time até este sábado: era o zagueiro David Luiz que estava na pequena área quando a bola veio em cobrança de escanteio de Neymar, foi desviada de cabeça por Luiz Gustavo e caiu entre ele e o defensor Gonzalo Jara, que tentou tirar e mandou a bola para as redes. O gol, portanto, foi contra, mas a FIFA registrou como sendo de David Luiz, que comemorou demais. De qualquer forma, o gol foi brasileiro, e é isso que vale!
3. A “trave brasileira” de Maurício Pinilla
No sufoco da prorrogação, a Seleção Brasileira quase viu o sonho do hexa acabar quando Aléxis Sanchez e Maurício Pinilla tabelaram na frente da área, passaram por Thiago Silva e, na frente de Julio Cesar, Pinilla chutou forte na parte direita do travessão. O chute foi tão forte que a imagem oficial da FIFA mostra a trave balançando segundos depois do chute, quando o jogador já nem se lamentava mais pela chance perdida. Se ele fizesse o gol, o Brasil teria cerca de dois minutos para tentar o empate. Na hora do lance, a torcida presente no Mineirão calou-se, algo que não havia acontecido durante toda a partida. Vale lembrar que o Chile já havia assustado na metade do primeiro tempo, quando o volante Aránguiz também apareceu livre na área e chutou em cima de Julio, que fez uma de suas melhores defesas nesta Copa.
4. A oração de Thiago Silva
A transmissão oficial da FIFA encheu-nos de boas imagens antes das cobranças de pênaltis: o volante Paulinho batendo no peito de cada jogador da Seleção em uma rodinha onde atletas e membros da comissão técnica estavam abraçados, os chilenos extenuados no gramado esperando pelas penalidades sob a fiscalização do enérgico técnico argentino Jorge Sampaoli e as feições dos torcedores nas arquibancadas como não deveria deixar de ser quando nos vimos perto de sair da Copa. Mas a melhor imagem foi a do capitão da Seleção, o zagueiro Thiago Silva, que se isolou de todo mundo em um canto do campo, sentou-se na bola e começou a orar e chorar ao mesmo tempo. Percebia-se o desespero dele durante a prece e foi ali que percebemos quão grave a situação estava. Thiago não participou das cobranças, mas também era um dos mais emocionados depois da classificação.
5. Julio Cesar volta a chorar ao vivo
Apesar de vitoriosa, a Seleção Brasileira também guarda alguns momentos tristes em sua história. Não é difícil lembrar da eliminação para a Itália, na Copa do Mundo da Espanha, em 1982, ou do pênalti perdido por Zico contra a França, em 1986, ou da fatídica derrota para os mesmos franceses na decisão do Mundial de 1998, a maior derrota da história do Brasil em Copas: 3 a 0. É inesquecível também o choro do goleiro Júlio César depois de ser eliminado – com uma falha dele – para a Holanda, no torneio da África do Sul, em 2010. Ele se encaminhava para o vestiário quando foi abordado pelo repórter da TV Globo, Tino Marcos, e desabou. Neste sábado a situação se repetiu, desta vez ao microfone da reportagem oficial da FIFA, ainda no gramado. “Na última Copa eu também chorei ao vivo, em frente às câmeras, e era um choro de tristeza. Hoje estou chorando de alegria. Todo mundo está me dando muita força. Vamos lá, ainda tem muita coisa!”, disse ele.
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